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Este assunto é uma coisa menor, uma coscuvilhice, um escapismo face aos verdadeiros problemas do país etc.
É pena, porque caso contrário seria interessante responder à pergunta que o António Lobo Xavier fez há pouco na Quadratura: como é que o jornalista que despoletou isto ( Nuno Simas), alvo de relatórios por causa do seu interesse no tema, acabou director-adjunto da Lusa tutelada por Miguel Relvas?
Enfim, como ensina Rabizarão (no vicentino Diálogo sobre a Ressureição), filho, não comas quente, não perderás o dente.
Pelo que me foi dado observar ontem da audição ao ministro dos Assuntos Parlamentares na assembleia, parece-me que um envolvimento com consequências criminais ou políticas de Miguel Relvas na salganhada das “secretas” não passa de um wishful thinking daqueles que tiram dividendos do facto: a oposição por razões óbvias, e os lóbis ameaçados pela privatização da RTP ou pela reforma administrativa do País.
Certo é que Passos Coelho ao ter segurado o seu amigo comprou um conflito com o Publico e com o Grupo Impresa, fardo no entanto bem menos pesado do que o de Cavaco Silva que, apesar de tudo e “sem ler jornais”, ganhou duas maiorias absolutas e dois mandatos presidenciais.
De resto, desta guerra fratricida entre Pinto Balsemão e Nuno Vasconcellos que promete tudo levar à frente menos o essencial – a nossa inimputável cultura de promiscuidade e nepotismo sustendada há quase duzentos anos pelas maçonarias – não antevejo nada de útil ao País que, para aqueles que não repararam, continua em iminente risco de falência.
- Cinemas sim, mas com viseira; e enforcamentos diários, caso não cumpras.*
- Ritorna lontano. La tua giornata d'amore passò, la tua ora di sole si spense, Dianora.**
- E para quando uma razão sem prazo de validade?
* Cesariny 1994
**Luisa Giaconi 1909
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"Miguel Relvas, 47 anos, tem raciocínio veloz, resposta sempre pronta, mestria na arte de fugir, sem silêncio, às perguntas". Acredito, mas hoje fartou-se de praticar onicofagia na AR. E em silêncio.
Agora falta coleccionar pontinhos. Recordar Bernardo Bairrão*, ouvir Adelino Cunha, aguardar a palavra de Silva Carvalho, aprender a geografia angolana, chamar a Fineterc, calcular o que uma empresa pode fazer por um quase-governante e vice-versa.
Como dizia Borges, toda a memória é, de algum modo, uma antologia.
* na altura toda a gente achou natural que um serviço de informações coligisse dados sobre a vida de alguém que não exercia nenhum cargo público.
Tenho passado mais ou menos ao lado do caso "Secretas" que não sai dos telejornais, dos jornais e da internet. E faço-o propositadamente porque me parece um fait-divers com que os políticos e os jornalistas de política gostam de se entreter. Mas apanhei aqui e ali que havia ficheiros elaborados por um ex-membro das secretas sobre a vida privada de jornalistas (Ricardo Costa) e do empresário da comunicação social Francisco Pinto Balsemão. Depois há também as alegadas ameaças de Miguel Relvas de contar a vida privada de uma jornalista do Público.
Ao longo da minha vida tenho assistido às maiores devassas de vidas privadas uns dos outros em conversas de café. Portugal é um país de intriguistas, de invejosos e fofoqueiros. Em meia-hora qualquer pessoa sabe a vida privada de um Balsemão, de um Nuno, de um Miguel Relvas, da minha, daquele, do outro. Neste país toda a gente sabe tudo. Há pessoas a fazerem informalmente o papel dos "Silva Carvalhos" desta vida. Só não há é dossiers em papel ou em suporte informático, mas há ficheiros secretos de toda a gente na cabeça de muita gente.
Eu tenho experiências inacreditáveis, e eu que sou jornalista, de ser interpelada por outros jornalistas a fazerem-me perguntas sobre a minha vida pessoal. E eu não apareço nas revistas (ao contrário de pessoas como o Ricardo Costa).
Bem, isto tudo para dizer que em Portugal não faltam espiões amadores. Pessoas que rotulam as outras e estragam vidas com "alegadas" informações restritas das pessoas, mas como não estão em ficheiros recolhidos pela Polícia Judiciária as vítimas não se podem defender. Experimentem conhecer alguém de novo e falem dessa pessoa num jantar, verão a quantidade de ficheiros secretos que circulam na cabeça das pessoas. Os Jorge Silvas Carvalhos neste país não são precisos para nada, só servem para enfeitar.
Vão lá uns anos, os advogados eram oficiosamente nomeados para defender quase nada mais do que qualquer delinquente apanhado em flagrante, entre duas estadias na prisão. Com droga no bolso ou já empoleirado nas escadas da roubalheira. Situações tão evidentes que determinavam somente o apelo à boa e - desgraçadas vidas... - compreensiva justiça dos tribunais.
A sociedade - resumindo-se, afinal, num imenso egoísmo colectivo - não se apercebeu, entretanto, das profundas alterações verificadas no seu seio. O todo ignora os dramas das partes que o compõem. Concretamente, as muitas situações com relevância jurídica em que os interessados não dispõem de meios financeiros a consentir-lhes a tutela judicial dos seus direitos. E o recurso ao advogado oficioso assim extravasou o foro penal (e formal), alcançando agora o cível, o comercial, o familiar, o tributário... Trabalho a sério, para os advogados, envolvendo estudo e preparação, responsabilidades acrescidas, tempo e dedicação.
E tudo a troco de nada!
Porque o Estado não paga aos advogados que nomeia para patrocinarem os seus cidadãos. O Estado, dito "social", verdadeiramente o mais despudorado pirata.
É obvio, os necessitados não têm culpa alguma. E, que me conste, ainda os advogados não decidiram fazer greve às "oficiosas"...
Mas talvez resida aí a explicação para - utenti et abutenti - a recusa de informações por parte do "Instituto" que gere as finanças do Ministério da Justiça, quando abordado pelos advogados sem receberem os seus honorários há um, dois, anos.
E esse é um silêncio humilhante. Se nos tribunais do crime a confissão traduz arrependimento e assim vale como atenuante, porque não há o Ministério de Justiça fazer mea culpa, demonstrar boa-vontade ou, em alternativa, entender-se directamente com as pessoas que buscam os causídicos? Por medo ao eleitorado, constituido por essas mesmas pessoas? Ou porque a Senhora Ministra (por acaso, uma advogada) e o Bastonário da Ordem se zangaram?
Em qualquer caso - que temos nós a ver com isso?
A auto-estima, atributo louvado pela máquina do consumo e um dos mitos da modernidade, é na maior parte das vezes confundido com a eufórica ilusão de auto-suficiência. Paradoxalmente, a sensação mais próxima da auto-estima procede uma atitude de abnegação. Paradoxalmente o amor-próprio procede o realismo de não nos levarmos muito a sério: o umbigo, quando não tende a um ávido buraco negro, é um local obscuro e entediante. Ao contrário do que a cultura adolescentocrática nos impinge, o pote de ouro está na superação do eu, na descoberta do “outro”, enfim na genuína entrega à “relação”. Daí que a parte que nos compete, é dar, não é ter.
Julien Assange e a presidenta da Câmara de Caminha em potlach: "A justiça anda atrás de nós por motivos políticos".
Justiça e política andam sempre a par. Agora parece que o problema das secretas vai ser resolvido com nova legislação.
É isso mesmo que é necessário. Nova legislação impedirá que os media publiquem listas de espiões ou que adjuntos de ministros trabalhem com ex-patrões das ditas secretas.
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É bom reagir ao que está mal.
A autoridade e a disciplina são as melhores amigas da rebeldia e da contestação. Se os miúdos, e os seus mentores ( Jorn, Debord, Fillon, Dahou etc), de 68 em Paris tivessem crescido no caldo (pedagogia não-directiva/smartphone/ saga Twilight /Pepsi) que acompanhou os de hoje, nunca teriam querido levar a imaginação ao poder. Não é por acaso que as manifestações anti-capitalismo são hoje na Europa um clube tupperware. Os mesmos rastas e estalinistas de sempre. A enorme massa estudantil está totalmente anestesiada e escandolasamente ausente das concentrações.
Não escolhi começar pela autoridade e pela disciplina por capricho. São duas palavras que desencadeiam o condicionamento operante; seja na esquerda nova seja na velha. Esta tem a particularidade de ser , em termos gerais, constituída por duas classes:
a) a dos puros e duros,
b) a do complexo de avestruz.
A dos puros e duros adora a autoridade e a disciplina. Che nas montanhas sul-americanas, Pequim com os seus Guardas da Revolução, que saíam em cata de gatos e flores nos jardins das casas ( eram contra-revolucionários), os canhões de Assad, Cunhal : todos personificam a autoridade e a disciplina.
A segunda honra o título de um livro antigo de João Martins Pereira. Tias esquerdistas que gastam um salário mínimo em macrobiótica e ginásio, lavam os pecados a escrevinhar umas citações que recordam de Althusser, ou a reciclarem-se com Badiou e Zizek.
( cont.)
1) O Pedro Picoito espoldra-se aqui em duas boas opiniões, ainda que registe que o outro Pedro, o Lomba, traz " o governo anterior" para a conversa ( talvez em 2014 os analistas da área sejam capazes de criticar este governo sem falar no Mano Velho).
2) O adjunto de Miguel Relvas actualizava Silva Carvalho sobre o que se discutia na AR ( dizem os media e não foi desmentido), comunicava frequentemente com o personagem ( dizem os media e não foi desmentido) e demitiu-se.
Ninguém o quer ouvir. Por falta de espaço e agenda? Disponibilizo um gabinete na clínica e faço a estenografia.
A expressão, datada do século XIX, é originária da política, mas rapidamente se alastrou a vários sectores da sociedade, incluindo obviamente o futebol.
Lembrei-me de escrever sobre isto, quase pelos motivos óbvios: agora que o campeonato acabou e que o novo ainda não começou – e numa altura em que é preciso continuar a manter aceso o negócio da bola – as notícias dos jornais enchem-se de rumores, contra-rumores, tácticas e técnicas, para os meses alucinantes que se avizinham em que volta tudo ao início e onde qualquer equipa pode ser campeã.
Nas semanas da silly season futebolística pode-se dizer e escrever praticamente tudo. Hoje em dia é bem mais arriscado fazer esse exercício, com a televisão, a rádio, os jornais e a internet a registarem as promessas dos clubes, as gafes dos comentadores e as apostas dos adeptos. Mas lembro-me do saudável tempo de impunidade quando era miúdo e sabia pelas supostas novidades do Sporting pela bíblia (A Bola, obviamente).
Hoje em dia, ler A Bola na praia é um desafio mais ou menos suportável, com um nível de esforço igual à leitura de um outro qualquer jornal. Mas, há 20 anos, não era bem assim. A Bola era de um tamanho incomportável para se ler na praia, mas todos nós lá em casa fazíamos esse esforço.
Chegávamos à praia de manhã cedo e o meu pai iniciava a leitura sentado na cadeira junto à barraca que alugávamos religiosamente todos os verões na Ericeira. O meu pai, consoante o número de cigarros que fumava e os comentários que fazia, dava, a mim o meu irmão, o sinal que aquela edição de A Bola era merecedora da nossa atenção.
Às vezes, o meu pai interrompia a leitura para ir dar um mergulho ao mar e deixava o jornal de lado. Apesar do pedido, sempre reiterado, de querer ler o jornal em primeiro lugar, nestas alturas aproveitávamos para dar uma espreita às novidades do nosso Sporting.
Quando a coisa corria bem, conseguíamos ler sem que o meu pai se apercebesse que o desportivo tinha sido mexido. O problema é que, inúmeras vezes, corria mal. O vento levava as folhas pelo areal, o jornal ficava sujo de areia, algumas páginas eram rasgadas pela disputa incessante de cada um de nós querer ler o que acontecia ao Jordão, ao Manuel Fernandes, ao Artur e a tantos outros jogadores. E, naturalmente, se a nossa equipa iria ter reforços dignos de vestirem a camisola do leão.
Muitas vezes éramos, por isso, apanhados. Mas, confesso-vos, o melhor apanhado foi feito pela minha mãe. Uma das fotos que guardo com muita saudade é de um verão passado, não sei situar o ano. A minha irmã brinca na areia, enquanto três cabeças debruçadas sobre A Bola lêem as últimas novidades. O meu pai, no meio, e dois rapazes traquinas, um em cada ponta, a espreitar. Alguém falou em silly season?
*Artigo publicado hoje no jornal do Sporting. Também aqui
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É bom reagir ao que está mal.
O primeiro axioma é o de Julius Evola: não adianta lutar contra a maré, preparemo-nos para o que vier a seguir.
O segundo é o da isegoria: cumprir o dever de defender a disciplina e a autoridade como valores legítimos e não maus em si.
O primeiro garante a luta no terreno das ideias, respeitando a estrutura política vigente, ao contrário dos revolucionários vermelhos que pretendem aniquilar a democracia burguesa.
O segundo começa a libertar o reaccionário do complexo de esquerda, que escolheu a indisciplina e a anarquia como valores bons em si.
O primeiro reconhece a superioridade circunstancial do solipsismo travestido de ética libertária.
O segundo propõe uma discussão sobre a submissão do desejo individual, não ao colectivo ( como no comunismo), mas à superação das limitações pessoais.
(cont.)
Era já Verão e o trajar condizente. Mas a gaita mantinha os mesmos acordes e o seu som trepava as escadas do túnel e alcançava o largo terreiro da Catedral. Como agora. Pairando no Tempo ao sabor dos mitos e do vagar das nossas origens celtas. Porque é isso mesmo: entre o baixio e a cumeada, algures onde tudo nos perguntamos, fica o lugar da ausência do rigor ciêntifico e a almofada da crença. Decerto não disponível a qualquer inteligência, pensando, é claro, nessas mais tolas, sempre esporeando a racionalidade até à exaustão. Quando se ignora a permanência do sonho, suave lufada de ar vindo do Passado e desejado - musculado - no olhar posto no Futuro.
Dois anos a tocar - se não mais - são todas as primaveras e outonos de uma vida em que o inverno não significa morrer. Quod demonstratum est.
(E se, realmente, S. Tiago, ou as suas ossadas, não chegaram à Peninsula? Que importa isso hoje?).
Segundo o que normalmente se julga, as pessoas, perante situações limite, ou lidam com o stress de forma negativa e ficam incapazes de reagir ou, encaram a situação de forma positiva e dominam-na através atitudes e ações que poderão, a posteriori, ser consideradas heroicas.
Contudo, esta é uma ideia é errada. A maioria de nós tende a comportar-se perante situações de grande anormalidade e perigo de uma forma estranhamente calma – como se tudo no cenário de crise fosse comum. Quase ninguém se deixa imobilizar pelo medo nem é movido por instintos destemidos. Tendemos, simplesmente, a ignorar a crise e a pensar, sentir e agir tal como se nada tivesse acontecido.
Há, nas tragédias, quem gele e quem seja temerário, mas tratam-se de qualidades que não são desencadeadas pela situação, antes traços de personalidade que se cumprem também em circunstâncias extraordinárias.
As pessoas, como os rios, variam as suas reações de acordo com a sua profundidade. Mas, a maior parte da sociedade é radicalmente superficial.
O maior risco desta não gestão de crise é ignorar os perigos e não os enfrentar. Em muitas situações, as pessoas, alimentadas por um optimismo bacoco, até têm um sorriso nos lábios mas não deixam de morrer por causa disso.
Este estado de apatia, estranhamente normal, impede, de facto, que se cometam erros graves, mas também nada faz para salvar o que é importante. Parece preferir ignorar.
Perante uma tragédia, sentar-se e esperar que passe é, na verdade, correr de forma clara, decisiva e fatal em direção ao centro da desgraça.
(publicado no jornal i - 26 de maio de 2012)
ilustração de Carlos Ribeiro
Dispensa grandes apresentações: benfiquista ferrenho, psicólogo, ensaísta com obra publicada, sénior nestas andanças da blogosfera em que é mestre na síntese e um consagrado provocador, o Filipe Nunes Vicente, a partir de hoje faz parte da equipa do corta-fitas. Seja então muito bem-vindo, o Filipe.
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