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À falta de outros desafios e por acumulação de desaires, penso que não é de menosprezar o peso da precipitação do retorno português de África por mais que estejamos habituados e que fosse expectável.
Estremunhados duma fugaz alucinação consumista e despertos para a cruel e ancestral pobreza a que estamos fadados, há algum tempo que os portugueses se vêm afundando numa crescente perda de auto-estima e descrença. Somos hoje uma triste tribo que se desagrega, subjugada por um discurso desmotivador, sem chama ou transcendência. Triste sina a deste povo sem causa ou bandeira.
Não gostei, naturalmente, de nos ver perder, mas tinha antecipado o revés. Ainda assim, quando, já na fase dos balanços, ouvi o profundo e insuspeito Rui Santos louvar não sei que quatro jogadores espanhóis e a sua execução perfeita da «estratégia do quadrado»; e quando um segundo comentador identificou, na tropa castelhana, não sei que jogador «namorado» de não sei que jeitosa repórter desportiva; entrevi – eu que sonhava com uma indemnização pelo prejuízo dos Filipes - a vingança da velhinha Aljubarrota, servida com o supremo requinte dos mesmos «argumentos». O meu fair-play, por uma vez, estremeceu. Mas sei bem que tristezas não pagam dívidas... Por isso, adiante!
Percebo pouco de futebol e sempre desconfiei que há pouco mais para perceber, por mais palavras caras que usem os especialistas licenciados. Mas não: jogar à bola é arte e... feitiçaria. Não é engenharia, como está convencido Queiroz que assim conseguiu metodicamente anular qualquer chama que a equipa lusa pudesse exibir.
A nossa Selecção, para além de perder, deixou na Africa do Sul uma confrangedora imagem no nosso futebol: cinzento, medroso e triste, muito triste, como o povo que representa.
A 17 de Novembro de 1993, em Milão, o então seleccionador nacional falhou a qualificação para o Mundial-94 quando a Selecção Nacional caiu aos pés da Itália aos 83 minutos do jogo. No final, ainda no relvado, Queiroz, é dele que se trata, deitou para fora toda a sua indignação. «É preciso varrer a porcaria que há na federação portuguesa (FPF). Há muita coisa para mudar!», atirou, numa frase que entrou para a história do futebol português.
Carlos Queiroz queixou-se de que havia muita "porcaria" na Federação. Era verdade. O que Queiroz não disse é que aceitou ser seleccionador nacional e fez toda a campanha do Mundial 2010 com toda a "porcaria" lá dentro. E, qual contágio, acabou por passar a integrar esse sujo núcleo que ainda hoje domina o futebol português. Hoje, no decorrer do jogo, Queiroz demonstrou o porquê de ser um seleccionador débil e tacticamente inexistente. Antes do jogo tinha dito que o mesmo se resolveria por pequenos pormenores. O que não disse é que esse pequeno pormenor foi a "porcaria" de visão táctica que (não) teve ao tirar do jogo Hugo Almeida e, dessa forma, convidar a Espanha a atacar e a marcar. No final custou ver Eduardo chorar. É triste ser eliminado devido à "porcaria" dos outros. A Queiroz, no final de mais um desaire, não resta outra alternativa senão fechar a porta atrás de si. Com toda a "porcaria" ainda lá dentro pois então. E assim vai Portugal...
Parabéns a Queiroz e à Selecção Nacional de Futebol: conseguiram exactamente o resultado para que jogaram, Espanha-1 Portugal-0.
Deve ser isso a qualidade e a ciência do futebol (embora de futebol mundial com ganas nada tenha).
Parabéns a Eduardo e a Fábio Coentrão: não têm que jogar mais com este treinador e esta choldra.
While My Guitar Gently Weeps - George Harrison
Ao voltar de um mês de férias fora de Portugal, pareceu-me que ninguém hoje percebe se o actual PSD é oposição, no sentido de apresentar alternativas às políticas do PS, ou se apenas espera a sua vez de chegar ao poder, para executar não se sabe que programa. A confusão é ajudada pelo apoio às medidas de austeridade com que o Governo tenta resolver os problemas que causou, pelo pouco que conseguiu em troca desse apoio (como é possível ainda se falar de terceira travessia do Tejo?), pelo pouco caso dado ao caso PT/TVI, por intervenções avulsas de dirigentes que depois não têm seguimento.
Bom exemplo deste último aspecto é o orçamento de base zero, anunciado por Passos Coelho. Uma boa ideia, mas que apareceu sem fundamentação nem continuidade. Numa sociedade inteligente (que nós não somos), uma crise com a gravidade da que vivemos seria aproveitada para medidas como essa, bem como para uma redefinição da presença do Estado na economia, empresa pública a empresa pública, instituto a instituto.
Mas nada disto interessa às pessoas ou a quem pensa política profissionalmente. O que interessa é que o PSD está à frente nas sondagens e que Passos Coelho já é visto como futuro primeiro-ministro. Nada portanto de desagradar ao futuro chefe, nem aos seus amigos, nada de perder oportunidades de obter favores junto a quem os poderá conceder a breve prazo.
E, na verdade, por muito mal que se pense do actual PSD, é quase impossível que sejam piores do que os socialistas que nos governam. Basta ver as últimas intervenções de Sócrates para perceber que ele não aprendeu nada com a crise, que irá teimar nos erros até à bancarrota e que esta só não virá porque felizmente em Bruxelas há quem lhe imponha as medidas necessárias. Aliás, teria sido nesse momento de confronto entre o que Sócrates prometeu na campanha eleitoral de Setembro passado e as medidas que tomou poucos meses depois, que o PSD deveria ter aproveitado o total descrédito dos socialistas para derrubar o Governo e provocar eleições antecipadas, não se deixando assustar por adamastores, estivessem eles nas agências de rating ou em Belém. Mas o PSD de hoje prefere deixar o País nesta eterna crise a poupar os portugueses de mais um ano ou dois de penúria sem saída. O que importa é que as sondagens estão bem, o partido “pacificado” perante a perspectiva do poder a breve prazo, que o líder tem boa imprensa e que as próximas eleições já estão no papo. Oxalá os portugueses, com a sua proverbial falta de memória política e vulnerabilidade às manipulações mediáticas, não se esqueçam então, na hora do voto, de quem é responsável pelo triste estado em que nos encontramos.
O Dr. Mário Soares tentou anteontem fazer chiste com a oferta de Cavaco Silva de que quem quisesse recordar quais foram exactamente as suas posições e palavras sobre determinado tema consultasse o site da Presidência.
Mas ao Dr. Mário Soares, que é muito bom a usar o que chama cultura como arma de arremesso, e a chamar tecnocracia a tudo o que recorra a fios ou ondas, desta vez não lhe saiu a graça.
Ficou para ali balbuciando coisas sobre sites e secretárias, sobre como não usa isso de sites nem sabe o que seja; sobre como é que quando chega à sua fundação, onde pensa, as secretárias lhe dão a papinha feita, ou seja, respeitosamente, o informam se há em sites ou outro lado algo a que o seu génio atenda.
A verdadeira doutrina, segundo Soares, só escorre de canetas com aparo e tinta. O verdadeiro conhecimento, postula Soares, só se transmite por papel manuscrito. O papel do verdadeiro pensador, dita Soares, é pensar o que amanuenses lhe tragam. Visão rasgada para os nossos dias.
A cor da bandeira lusa é feia mas é o que se arranja, por ora... Ainda assim vamos ter de os "comer".
Ver a Senhora Ministra do Trabalho expor a sua visão política confirma a minha convicção de sempre de que entregar o poder a um sindicalista é produzir um gestor implacável ou empedernidamente «capitalista», à portuguesa. À Senhora Ministra do Trabalho só recomendaria o apuramento da imagem, em conformidade, não fosse saber que há estruturas resistentes a qualquer buril.
As sondagens da Universidade Católica hoje divulgadas constituem uma angustiante "não notícia": apesar do partido socialista em queda elas ostentam ainda uma galhofeira maioria de esquerda, com a abstenção de mais de metade inquiridos, factor que as tornam manifestamente inconclusivas.
Enquanto o poder é tratado como uma batata quente que ninguém quer disputar, tragicamente o que nos sobra para os próximos meses, além do desemprego, do estio e da paria, é uma dramatização da discussão em torno das eleições presidenciais, uma espécie de silly season política, um fogo fátuo para alimentar intrigas e parangonas nos jornais, manter entretidos os gabinetes e suas clientelas, enquanto o país se afunda na pobreza e na desmotivação generalizada.
Chamemos os bois pelos seus nomes: é comprovadamente irrelevante para o sucesso do nosso desgraçado país o nome do próximo inquilino de Belém.
Serão estes os 150.000 novos empregos que o Engº Sócrates prometia? Creio que a pergunta é pertinente. Ainda alguém se recorda?
"Até agradeço a este Governo ter feito este trabalho"
Madrinha da "noiva"
Primeiro suprimiu as caixas de comentários, antes corajosamente abertas e profusas de controvérsia. Hoje Filipe Nunes Vicente anuncia a suspensão dos seus inestimáveis postais com incerteza no seu retorno para final de Agosto. Sei bem como o ambiente pela blogosfera tem dias que tresanda insidioso, perdendo encanto e até o oxigénio. No entanto parece-me duro o castigo, e demasiado longa a pena.
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O jornalismo saiu do papel e da tv e estabeleu-se ...
Os gastos em Defesa e a crise europeia (do articul...
O Público é o jornal de referência de uma elite bu...