Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Porque o Presidente da República fala hoje à noite ao país, sugere-se a leitura integral do texto de que apenas uma pequena parte se cita:
"Através dela (da palavra pública), o Presidente comunica com os Portugueses, exprimindo a sua opinião sobre as mais diversas políticas públicas, pronunciando-se sobre a situação do País e sobre questões internacionais, dando testemunho das suas experiências e das suas preocupações.
Pode influenciar, por essa via, os comportamentos dos agentes políticos, económicos, sociais e culturais e as atitudes dos cidadãos em geral.
Por isso, o Presidente da República deve ser ponderado no uso da palavra pública e falar de modo a ser escutado. Deve procurar contribuir, com a sua voz de bom senso e moderação, para que os problemas que surgem sejam resolvidos com um máximo de benefício para o País. Perante a pressão mediática que caracteriza os nossos tempos, encontrar a palavra certa, na ocasião apropriada, nem sempre é um exercício fácil.
A palavra pública faz parte da magistratura de influência do Presidente da República, a qual inclui também a palavra em privado. A influência do Presidente, para ser eficaz e benéfica para o País, não só recomenda contenção da sua parte como pode exigir que actue com discrição, longe dos holofotes da comunicação social, e que sujeite certas matérias a um dever de reserva. Este dever de reserva não significa, como já tive ocasião de explicitar, alheamento ou passividade relativamente às políticas e às medidas governamentais, nem uma renúncia definitiva a, se for caso disso, sobre elas vir a tomar posição pública".
Em muitos blogues, e também aqui no Corta-Fitas, alguns autores parecem perplexos com a derrota do PSD nas legislativas. Talvez estas histórias ajudem a perceber:
Participei na campanha (acompanhei o Bloco de Esquerda como jornalista) e cruzei-me várias vezes com a campanha do PSD. Em Braga, os social-democratas organizavam num hotel da cidade uma sessão pública, mas a sala era minúscula, o calor insuportável; havia umas pessoas aos berros, mas poucos dirigentes disponíveis para falar com militantes. Foi uma sessão de meter medo e aquilo mais parecia um funeral. No mesmo dia, o BE organizou um comício na praça principal: estava cheio, apesar desta ser uma zona bastante conservadora.
Num outro dia, no Porto, Manuela Ferreira Leite tomava o pequeno-almoço e cruzei-me com a senhora (que não me conhece). Estava a um metro de distância quando uma hóspede do hotel se aproximou, cumprimentando Ferreira Leite: "Como está, senhora doutora?". Pois, esta eleitora foi enxotada da pior maneira, como se fosse um incómodo matinal. Paulo Portas teria aproveitado para incendiar a sala de pequenos-almoços, ia cumprimentar a família da eleitora, ganhava ali dez votos. Francisco Louçã seria mais comedido, mas usaria sempre a sua boa educação para sorrir, meter conversa, etc.
Num país onde alastra um poderoso descontentamento, a campanha do PSD falhou nos temas, na mobilização, foi ultrapassada pela máquina de propaganda do adversário, quase que tinha horror dos eleitores. Em resumo, não teve argumentos. Tinha tudo para ganhar e perdeu miseravelmente.
O voto dos descontentes foi para o bloco e para o CDS; e, sem alternativa, muitos portugueses votaram nos socialistas, apesar de não acreditarem que um milagre possa alterar a situação.
O próximo governo terá tolerância zero e o país estará em crise política mais dois anos. Mas a culpa foi da oposição que não se soube unir. Falharam demasiadas vezes, venha gente nova.
Parece que agora todos sabem qual seria a “estratégia” correcta para Manuela Ferreira Leite ganhar as eleições e não há cão nem gato, na boa tradição portuguesa de bater em quem está no chão, que não lhe atribua “culpas” pela manutenção de Sócrates no poder. Há três meses, depois das europeias, as mesmas pessoas admiravam-lhe a estratégia e até o estilo…Em democracia, a “culpa” é sempre dos eleitores e eles preferiram Sócrates, Portas e Louçã. Ou então abstiveram-se e deixaram outros escolher por eles. Queriam que a líder do PSD, para “agradar” aos eleitores, prometesse aquilo que não acreditava poder fazer, berrasse em comícios, se vestisse de outra maneira, fizesse o pino? Procurem outros políticos. Ela apresentou aos eleitores uma alternativa responsável. Eles preferiram outros governantes. Tão simples quanto isso.
Sobre a questão de Manuela Ferreira Leite continuar ou não liderança, voltar um bocadinho atrás não custa nada. Ela candidatou-se à liderança porque nem Rui Rio nem outras pessoas em que confiava quiseram avançar. Teve como adversários Santana Lopes, que dá um bom candidato em Lisboa, mas que estava ainda a refazer a sua carreira política, e Passos Coelho, cujo currículo se resumia a ter sido líder da “jota” em tempos que já lá vão, e que apresentou um programa “liberal”, velho de 30 anos, rapidamente esquecido com o advento da crise. Ah, e parece que tem “boa imagem”, algo que impressiona muito os nossos politólogos. Ou seja, a escolha era óbvia, e o comportamento subsequente de Passos Coelho e dos seus apoiantes tornou-a mais óbvia ainda.
Manuela Ferreira Leite pode até deixar de ser líder, mas só se for substituída por alguém melhor. Alguém que consiga conjugar a mesma seriedade e competência com mais jeito para a comunicação de massas. No PSD, só consigo ver duas pessoas com essas características: Rui Rio, que já disse que não sai da Câmara do Porto, e Paulo Rangel, que por enquanto está no Parlamento Europeu. Tomara que haja outras pessoas, porque se não houver, prefiro continuar com Manuela Ferreira Leite e não vejo motivo nenhum para ela sair, tanto mais que agora é deputada e adivinham-se dias tumultuados para os socialistas sem maioria absoluta.
Adenda: Entretanto, nestes tempos sombrios, uma boa notícia. João Gonçalves, do Portugal dos Pequeninos, filiou-se no PSD.
Há uns tempos atrás, quando o El País publicou umas vergonhosas fotos de uma festa privada de Berlusconi li imensos textos muito pertinentes sobre a falta de ética do jornal. As acusações foram pesadas e certeiras. As condenações mais que merecidas.
Há aqueles blogues em que entramos e sentimos que saímos à rua. Sentimos que estamos rodeados de nada e que, embasbacados, sorrimos e olhamos a cada pormenor. Não sei explicar. É um mundo de oxímoros frouxos aquele que se vive lá em cima, na traseira dos olhos. O florido Eternas Saudades do Futuro é um desses blogues. Não consigo encontrar um post que não goste. Ide e espreitai.
Duas importantes lições a recolher das legislativas. Aqui.
Concordo em parte com o Pedro Correia. Penso realmente que o PSD perdeu muito ao não ser minimamente representativo nas listas. O que se apresentou a eleições não foi o Partido Social Democrata, mas sim um terço do que ele é. E esse terço, por muito bom que fosse, e eu acho que era bastante melhor que o PS representado por José Sócrates, nunca conseguiria, sozinho, vencer as eleições legislativas.
Mas não foi, para mim, só esta questão das exclusões/inclusões mais que duvidosas a principal causa para a derrota. Foi toda a estratégia da campanha que falhou. Apelar ao voto negativo em relação ao PS, mostrando um quase desespero. Foi o descrédito, por vezes quase confrangedoramente evidente, por parte do próprio partido em relação ao projecto que apresentava – projecto esse que não merecia tal desconsideração. Foi a falta de capacidade de transmitir mensagens simples ao eleitorado, com ideias fortes de mudança. Foi o permanente uso de certos ideais «abstractos» – a verdade, a transparência, a credibilidade – sem que se complementasse isto com propostas concretas, inovadoras e minimamente inspiradoras.
Um partido ter como prioridade não a transformação do país, mas sim ter mais um voto que o outro é quase o mesmo que um grande clube jogar para o empate. Acabam sempre por perder.
E agora bola p'rá frente, que um bom cozinheiro faz a melhor omelete com os ovos que lhe dão.
Quando precisava de congregar as hostes, mobilizando todos os militantes numa causa comum para aproveitar a dinâmica criada nas europeias, Manuela Ferreira Leite viu o seu guru de estimação recomendar-lhe isto:
"Falsos "novos" como Passos Coelho usam a face como estratégia de marketing e o "novo" como mecanismo de reciclagem." (28 de Junho)
E isto:
Ela cometeu o erro de lhe dar ouvidos. Os resultados estão à vista.
Fazer maioria com o CDS? Para quê uma maioria com o CDS? O apoio parlamentar essencial de que José Sócrates necessita na nova legislatura está encontrado: vem da bancada do PSD. Lembremos factos: durante a campanha eleitoral, cabeças de lista sociais-democratas, como João de Deus Pinheiro e Couto dos Santos, admitiram a formação de um novo bloco central, enquanto Paulo Mota Pinto não excluía esta hipótese. Mas lembremos mais: a própria Manuela Ferreira Leite, antes de ser líder do PSD, subscreveu o núcleo central da governação socialista. Elogiou a reforma da segurança social feita por Vieira da Silva. Aplaudiu a concertação orçamental conduzida por Teixeira dos Santos. Defendeu a celebração de pactos PS-PSD para a justiça, segurança interna e leis eleitorais. Considerou "absolutamente essencial" a reforma da rede hospitalar iniciada por Correia de Campos, condenando a "reacção emotiva" do PSD, ao contrário até de muitos socialistas. E destacou a "coragem" de Maria de Lurdes Rodrigues por levar a cabo a sua política educativa.
Era com esta líder que alguns, no PSD, sonhavam ganhar eleições. É com esta deputada, e alguns outros, que Sócrates sonha fazer maioria no Parlamento.
«Vitória do PS deve brindar construtoras com sessão positiva»
Diário Económico
Nem a alarmante crise, nem o atoleiro em que o país se encontra, nem mesmo os novos partidos que desta vez se apresentaram a votos, serviram para mobilizar cerca de três milhões e setecentos mil portugueses que teimam em alhear-se dos destinos da sua pátria: suspeito que somando estes números aos votos brancos e nulos, pelo método de hondt eles traduzir-se-iam numa maioria parlamentar.
Este panorama e os fantásticos resultados obtidos pelo CDS conferem à sua direcção um redobrado dever de lealdade para com os eleitores, exigindo-se ao partido uma oposição sem concessões ao "centrão" e uma determinada resistência aos cantos de sereia do poder imediato: creio que o crescimento do eleitorado do CDS-PP perspectiva-se inequivocamente à direita e numa grande maioria desiludida que urge resgatar à política. É tempo da direita construir confiança e crescer para salvar de Portugal.
O resumo das minhas ideias está aqui
Portugal virou à direita e agora, na ressaca das eleições, vem a crise a sério. O país está endividado e sem soluções para o problema orçamental. O desemprego pode chegar a 700 mil pessoas dentro de meses. Muitos portugueses estão a empobrecer depressa e as diferenças entre ricos e pobres aumentaram de forma brutal e vão continuar a aumentar. Nas desigualdades sociais, Portugal é uma anomalia europeia.
Nos próximos dois anos não haverá estabilidade, mas um governo sem direito a estado de graça, com o descontentamento popular ocasionalmente a invadir as ruas. A direita está estilhaçada e o cavaquismo acabou. A esquerda foi derrotada e o PS (dividido ao meio) acelera a sua fragmentação, pois Sócrates secou o partido e já não poderá iludir mais a opinião pública. Após dois anos de declínio talvez tudo isto resulte numa alteração profunda do sistema político, com menos bloco central, mais BE e mais CDS.
Pergunta-me um colega: "Imagina o Portas como líder do PSD. Teria ganho estas eleições, não achas?"
O resultado histórico obtido pelo CDS PP, unido em torno de uma liderança determinada e duma mensagem politica assertiva e clara, não chega para me pôr eufórico: nos próximos anos o novo parlamento eleito exibirá uma grossa maioria de esquerda que inclui uma significativa facção extremista, disruptiva, própria de democracias imaturas. Insisto na ideia de que uma direita débil é o primeiro sinal de um país pobre, estagnado e deprimido. Características que suspeito se acentuarão nos próximos tempos, por mais injecções de capital que se processem nas obras públicas e na providência social. Esta perspectiva e o bem que quero aos meus filhos e ao meu país desfaz qualquer vontade que eu tivesse de sorrir.
Vamos viver tempos interessantes.
Alguém explica ao António Pires de Lima que este não é o melhor resultado do CDS em mais de 30 anos (há 33 anos o partido conseguiu 42 deputados)? Podia ser o melhor de sempre, porque os números avançados são sem dúvida muito bons (grande performance de Portas), mas não é. É que não basta querer que um partido seja muito sexy, é bom conhecer também um pouco melhor a sua história. Já que falamos dos populares, não percebo a má cara de António Lobo Xavier na SIC, perante o Big Show Portas. Será por causa do resultado de Manuela Ferreira Leite?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Rui Ramos só pecou por defeito. É ir ler a Constit...
Há tanta gente com vontade de ir para a guerra... ...
Infelizmente por vezes há que jogar para o empate....
Derrotem PutinIsto é mais fácil de dizer do que de...
Espalhar a democracia é um bom cliché...A vitória ...