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Para que não se julgue que eu não sou capaz de fazer também especulações políticas de fino recorte, aqui vai. Cavaco recebe Sócrates amanhã, faz depois a ronda pelos partidos e diz então ao secretário-geral do PS: “Já percebi que não consegue formar coligações, nem sequer garantir apoio maioritário para o seu Governo no Parlamento. Tratou tão mal os outros partidos quando tinha maioria absoluta que agora eles não o querem ver nem pintado e não adianta pedir batatinhas. Além disso, não confio em si a nível institucional. Por isso, o seu partido que arranje outro para eu nomear primeiro-ministro. Podem ser o Teixeira dos Santos ou o Vieira da Silva, que talvez não se vistam tão bem como o senhor, que podem até não ter penteados tão bonitos, mas pelo menos percebem minimamente como se governa. Ah, não querem? Então presidencializo já isto e nomeio o Professor Luís Campos e Cunha, personalidade independente de reconhecidos méritos, para formar Governo.”
Hoje dei por mim, numa conversa, a pensar em algo por de mais tolo. Tão, mas tão tolo, que me deu vontade de escrever sobre o assunto aqui – afinal, tenho uma reputação a manter.
Já se terá alguma vez apercebido o leitor como temos a constante tendência a referirmo-nos ao nosso melhor amigo como «o meu melhor amigo». O nosso interlocutor pode não conhecer a pessoa em questão e a pessoa em questão pode nunca vir a saber que o dissemos – se alguma vez o soubesse poderíamos dizê-lo como uma declaração de amizade, ou coisa que o valha. No entanto, por um instinto tolo, tão tolo, vemo-nos obrigados a dizer que estamos a falar do nosso melhor amigo quando estamos, efectivamente, a falar do nosso melhor amigo. É quase um bug que nos danifica a massa encefálica, nome feio para aquilo que há tempos sem fim chamamos cabeça. No entanto, está lá: não sai.
No máximo, com a idade, acabamos por, num acesso de infantilidade, tentar fugir à criancice de falar em «melhor amigo» e falamos num «grande amigo». É tudo o mesmo. E é bom: com esta coisa que nos persegue, acabamos por ser capazes de definir os nossos amigos como de outra forma não seria possível.
Sou fã confesso da Daniela Major. É por isso que vos digo que agora podem ser, como eu, fãs dela, lendo-a no Aventar. Mudou-se hoje para lá.
O que escreve o André Macedo.
Li na blogosfera um mínimo de 150 banalidades apressadas sobre a crise política, dignas de conversas de barbearia. Poucos autores se debruçam sobre o essencial, ou seja, sobre as consequências. Na minha opinião, o Presidente Cavaco Silva sofreu um duro golpe no seu capital mais importante, a credibilidade, que lhe permitia pairar acima das intrigalhadas. Isto não é apenas o fim do cavaquismo, mas tem necessariamente implicações muito sérias para todos nós.
O primeiro-ministro José Sócrates, para já o vencedor da crise, não possui rival no seu partido ou na oposição; ele controla o poder mediático e tem enorme influência sobre os negócios do país, a magistratura, as polícias, os serviços de informação, por aí fora. Diria que nunca houve, neste regime, um primeiro-ministro tão poderoso. Há, apesar de tudo, uma coisa que ele não controla tão bem, a realidade: dez anos de estagnação económica, um país em profunda crise de valores, défice crescente, endividamento, desemprego. Enfim, apesar das sombras se continuarem a acumular, agora parecem garantidos alguns meses de alívio na pressão política (de Belém vinha a mais ameaçadora).
O que fica do caso das escutas? O PS reclama-se alvo de outra cabala (os socialistas são sempre as vítimas, o que os dispensa de justificar a governação). Mas acima de tudo foi removido ou substancialmente reduzido um poder mais à direita que refreava o primeiro-ministro.
Espero estar muito enganado quando vejo algo de preocupante nesta crise, mas espanta-me a velocidade com que tantos tiraram tantas conclusões mais ou menos ligeiras, como se isto fosse uma mera goleada num Benfica-Sporting.
Quero destacar alguns dos textos que mais me fizeram reflectir sobre os perigos daquilo que se está a passar:
Luís Rocha, em Blasfémias, e Henrique Raposo, em Clube das Repúblicas Mortas, escrevem sobre o futuro do regime, que na opinião dos dois autores deve ser repensado.
Medeiros Ferreira, em Bichos Carpinteiros, faz uma observação muito inteligente, que nos deixa uma sensação de incómodo.
Pedro Correia, em Delito de Opinião, e Francisco Almeida Leite, aqui mesmo no Corta-Fitas, já estão a ponderar os cenários a médio prazo.
Registo ainda para um texto mais interpretativo, que me parece arguto, de Jorge Costa, em Cachimbo de Magritte. E concordo com o que escreve Paulo Pinto Mascarenhas, em ABC do PPM.
Ou, como eles decidiram chamar-se, «É Tudo Gente Morta». Abre amanhã as páginas, aqui. Ainda por cima são treze. Promete arrepiar as consciências...
A declaração de ontem de Aníbal Cavaco Silva pode ter revelado um dado político adicional e altamente relevante. Cavaco Silva está a dar mostras de que não vai ser candidato - porque não pode? - a um segundo mandato. Vejamos: o actual Presidente está a hostilizar "o partido do Governo", mas parece ter perdido também apoios importantes no seu partido. O PSD não lhe perdoa não ter feito esta declaração mais cedo, antes das eleições legislativas. Pior ainda havendo dois PSDs dentro do mesmo partido. O PSD que gosta e adora Cavaco como um Deus e o PSD que repele Cavaco. Mas aquele que está mais magoado com o Presidente é justamente o PSD de Cavaco.
À animosidade do PSD a Cavaco junta-se agora um CDS forte, liderado por Paulo Portas. E Portas é, por natureza e história de vida profissional e política, um anti-Cavaco. Em 2006 Cavaco foi eleito com os votos e o apoio do PSD de Luís Marques Mendes e do CDS de José Ribeiro e Castro. Hoje a situação é outra, mas em 2010 e em 2011 será ainda pior. Por isso é que Marcelo Rebelo de Sousa está mais activo que nunca. O aparente desnorte de Cavaco pode ser a sua oportunidade de ouro. Com a vantagem de José Manuel Durão Barroso estar em Bruxelas para mais um mandato. Para Marcelo é agora ou nunca.
Foi um espectáculo confrangedor ontem à noite assistir às declarações do Chefe de Estado: afinal as suas tão aguardadas palavras pouco mais revelaram do que um homem acossado pela intriga que grassa entre os órgãos de soberania e de estados d’alma pouco dignos do mais alto magistrado da nação. Depois, já enterrado no sofá, foi assistir atónito à intervenção do ministro Pedro Silva Pereira, em autêntica pose de estadista, ripostar com invulgar dureza e numa arrogância quase elegante a pública birra de Cavaco Silva.
O que vem à tona com isto tudo é a materialização dum negro pesadelo: uma nação pobre e decadente a hipotecar o seu presente com uma baixa e irresponsável guerrilha política protagonizada pelos principais órgãos de soberania nacionais: uma crise sistémica sem solução à vista. Sem dúvida o panorama ideal para o regime celebrar o seu centenário.
Também publicado aqui
O "Presidente de todos os portugueses" está a levar pela medida grande no FórumTSF.
Esta análise da Áurea Sampaio.
Não percebo a indignação socialista contra Cavaco Silva. Vítor Ramalho acha que não está incluído no grupo de dirigentes socialistas a quem o presidente chamou de "mentirosos" e criadores de casos. Vitalino Canas declara que ainda não percebeu se está ou não ..
A monarquia acaba de ganhar mais um adepto. E que adepto.
Ao ouvir hoje Cavaco Silva e depois a reacção do PS, tenho que confessar que me enganei. E por duas vezes. Em primeiro lugar, pensei que os eleitores não se deixariam manipular (palavra muito em voga) pelo caso das escutas e demissão de Fernando Lima, penalizando o PSD. Em segundo, achava que ia demorar uns meses ou até um ano para muita gente encontrar motivos para se arrepender de ter votado nos socialistas ou de não ter votado sequer. Afinal, nem demorou dois dias.
...Depois de ouvir Cavaco Silva: Afinal, ele vai ou não empossar um novo Governo PS, liderado por José Sócrates?
P.S. Olha! Não tinha lido o post abaixo do FAL quando coloquei o meu. Pois. É isso mesmo. Vamos viver tempos interessantes.
A grande questão é esta: como é que Aníbal Cavaco Silva vai dar posse a um Executivo chefiado por José Sócrates, depois da declaração que acabou de proferir e onde fala em "manipulação", "mentira", num "tipo de ultimato dirigido ao Presidente da República" e em dois objectivos velados por parte de "destacadas personalidades do partido do Governo". 1) "Puxar o Presidente para a luta político-partidária, encostando-o ao PSD"; 2) "Desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupam os cidadãos".
Na nossa História mais ou menos recente já tivemos um PR e um PM que não se davam bem e em que até as questões protocolares eram motivo de discórdia; já tivemos um PR e um PM que ameaçavam precisar de um gravador para registar as conversas entre os dois, tal era o grau de desconfiança; já tivemos um PR e um PM que passaram dez anos num regime de coabitação doloroso; já tivemos um PR que demitiu um PM seis meses depois de o nomear; e agora temos um Presidente da República que sobe a crispação a este nível. Cavaco Silva considera que "foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência" e suspeita que os computadores e os e-mails da Presidência da República não sejam suficientemente seguros nesta fase. Falou em "vulnerabilidades".
Cavaco Silva é, por norma, contido no diálogo directo com os outros órgãos de soberania e com os detentores de cargos políticos. Desta vez, desafiou directamente as tais "destacadas personalidades". Do PS e do Governo. Sócrates, primeiro-ministro cessante e líder do partido vencedor nas eleições legislativas, é o destinatário desta comunicação. O Presidente gosta normalmente de pôr água na fervura, desta vez acendeu o rastilho e declarou aberta uma guerra que vai durar até à sua pré-campanha presidencial. Isto a acreditar que se irá recandidatar.
O PR não é constitucionalmente obrigado a convidar José Sócrates para formar Governo, mas deve fazê-lo seguindo a tradição formal do nosso sistema, atendendo ao resultado democrático das eleições de domingo. Posto isto, vamos viver no caos político nos próximos meses. Disso julgo que ninguém tem a menor dúvida.
«Vital Moreira acha que os resultados eleitorais de domingo configuram uma «derrota da TVI e da SIC, do Sol e do Semanário, do Correio da Manhã e do Público, e tutti quanti.» Assim, caro Vital, é fácil fazer amigos. Espero que os resultados não signifiquem, por seu lado, a vitória da RTP, da TSF, do Diário de Notícias, da Antena Um, do Jornal de Notícias, do Canal Hollywood, do Acção Socialista e tutti quanti.»
Francisco José Viegas, como não podia deixar de ser.
Sou, por princípio, contra leis que condicionem a liberdade de escolha dos cidadãos em relação aos seus políticos. É por isto que sou contra as limitações de mandatos – seja a que nível – e a favor do voto preferencial ou da constituição de círculos uninominais.
A Lei da Paridade, por muito interessante que nos possa parecer, é completamente destituída de significado. Já o defendi no passado: penso que esta lei deveria ser revogada por ir contra a liberdade de escolha dos cidadãos e condicionar de forma inaceitável as práticas de organizações que não estão sob a alçada do Estado – os partidos. É uma intromissão estapafúrdia e sem qualquer tipo de valor. Não existia, na lei anterior, discriminação em relação a qualquer pessoa ou género e se esta discriminação existia dentro dos partidos, cabia ao povo ter isso em atenção no acto de os escolher. E o povo teria o direito a decidir se isso era bom ou mau – sim, porque se o povo é soberano deve ter liberdade total para ajuizar sobre cada um dos candidatos.
O mais interessante de tudo é que com a nova lei da paridade, o número de mulheres no Parlamento diminuiu. Há menos uma mulher. Já era tempo de os partidos, que se julgam donos da razão e pais do povo, perceberem que não podem reservar-se o direito de mudar o país que os acolhe por decreto.
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