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No momento em que escrevo, Nuno Morais Sarmento fala há cerca de meia hora na SIC Notícias, entrevistado por Mário Crespo. É a segunda entrevista numa semana ao mesmo canal: há poucos dias, também em horário nobre, tinha sido entrevistado por Ana Lourenço.
Não há jantares grátis. E entrevistas à hora de jantar também não.
Em resposta às questões que Paulo Portas lançou hoje no debate na Assembleia da República, o nosso primeiro-ministro resolveu dizer qualquer coisa como isto: "Neste Governo não há caloteiros e conversas de taberna". A afirmação de José Sócrates serviu, supostamente, para responder a Portas na famosa polémica dos dentes brancos. Recorde-se que o ministro da Agricultura, um tal de Jaime Silva, tinha sugerido que "há coisas que não se branqueiam numa cadeira de dentista". Moral da história: o primeiro-ministro não só subscreve o que disse o seu ministro, como ainda é capaz de fazer pior, ao colocar o tema na taberna. Bonito.
Foi um ano mágico para Hollywood. A sisuda Greta Garbo soltou pela primeira vez umas sonoras gargalhadas em Ninotcha, de Ernst Lubitsch – um filme que passou logo a ser conhecido pelo slogan publicitário: “Garbo ri.” John Wayne protagonizava o “primeiro western adulto”, como lhe chamou Peter Bogdanovich – era Cavalgada Heróica. James Stewart ascendia ao estrelato num papel inesquecível em Peço a Palavra (Mr. Smith Goes to Washington), de Frank Capra, pelo qual a exigente Associação de Críticos de Nova Iorque lhe deu o prémio de melhor actor. O produtor David O. Selznick trouxe de Estocolmo uma actriz muito jovem e muito tímida, a quem os jornais, com aquelas fórmulas demasiado fáceis a que gostam de recorrer, não tardaram a chamar “nova Garbo”. À beira do fim do ano, o mesmo Selznick estreou aquilo a que os mesmíssimos jornais se apressaram a intitular “filme da década”: E Tudo o Vento Levou.
O ano era 1939 – não houve outro assim na meca do cinema. Um ano em que as obras-primas se sucediam numa vertiginosa sucessão de estreias. Foi o ano em que William Wyler – ainda com o dedo de Selznick – mostrou ao mundo que o universo romanesco de Emily Brontë era filmável, dirigindo Laurence Olivier e Merle Oberon em O Monte dos Vendavais. O ano em que George Cukor (que liderou as filmagens de E Tudo o Vento Levou antes se incompatibilizar com o protagonista, Clark Gable) rodou Mulheres, só com papéis femininos. O ano em que Bette Davis, ferida no seu amor-próprio por não ter sido escolhida para o papel de Scarlett O’Hara, rapou as sobrancelhas para protagonizar Isabel de Inglaterra, de Michael Curtiz. O ano em que Henry Fonda fez de Abraham Lincoln em A Grande Esperança, de Ford. O ano em que Humphrey Bogart se firmava definitivamente no cinema, ao lado de James Cagney, em Heróis Esquecidos, de Raoul Walsh. Um ano em cheio para Judy Garland, que passou De Braço Dado (Babes in Arms, de Busby Berkeley) com Mickey Rooney e foi visitar O Feiticeiro de Oz (de Victor Fleming, o realizador de E Tudo o Vento Levou).
“Foi um ano extraordinariamente vigoroso para o cinema americano”; viria a sublinhar Bogdanovich, ele próprio nascido em 1939. A indústria cinematográfica americana estava no auge, a guerra desencadeada por Hitler ainda não ultrapassara o solo europeu, a máquina de sonhos estava bem oleada (nesse ano estrearam-se 476 filmes norte-americanos), estúdios como a MGM gabavam-se de ter mais estrelas sob contrato do que as existentes no firmamento. “Imaginem um realizador do calibre de Ford – mesmo que houvesse algum – hoje estrear três filmes por ano. E ninguém deu grande importância a isso nesses dias misericordiosamente naturais. Era apenas uma ‘missão cumprida’, como diria Ford.”
São ainda palavras de Bogdanovich, que nos lembra a forma como a chamada “imprensa de referência” ridicularizara um ano antes o filme As Duas Feras (Bringing Up Baby), de Hawks. O crítico do conspícuo New York Times chamou-lhe “fita tonta”, desaconselhando os espectadores de a verem por se tratar de “uma perda de tempo”. Foi preciso esperar duas décadas e o reconhecimento de respeitáveis críticos franceses como André Bazin e François Truffaut para que Hawks fosse enfim celebrado nos Estados Unidos como o grande autor que sempre foi e As Duas Feras ser enfim reconhecido em Nova Iorque como uma das mais geniais comédias de todos os tempos. Ninguém é profeta na sua terra...
Quantas obras-primas não passam hoje pelos nossos olhos sem estarmos preparados para as reconhecermos? E quantos críticos, munidos com arsenais de bolas pretas, chamarão hoje “fitas tontas” às obras-primas de amanhã?
Gostei de ir à festa do 20º aniversário da TSF, no Museu da Electricidade. O local foi muito bem escolhido: tem um espaço enorme. E só um espaço enorme podia ter acolhido tanta gente que passou por lá, antes e depois de ter sido cortado o bolo de aniversário. A tribo TSF - incluindo muitos jornalistas que hoje trabalham nas televisões - estava em peso. Havia também muitos políticos, de várias tendências. Só mesmo a TSF podia juntar no mesmo espaço Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, como ontem aconteceu. Gostei de reencontrar amigos que já não via há muito. O Luís Costa Ribas, o Álvaro Mendonça, o João Carlos Barradas, o Luís Marinho, o Fernando Madrinha, o António Ribeiro Ferreira. E malta da rádio e da TV que me habituei a admirar, como o José Manuel Mestre, o Pedro Coelho, o Carlos Andrade, o António Esteves, a Carla Moita e o Emídio Fernando. E ex-colegas de redacção, como a Joana Horta e a Maria João Gago. E colegas de blogue, como a Cristina, o Francisco e o João Villalobos.
A TSF nasceu num ano bissexto, a 29 de Fevereiro. Mas não é uma rádio bissexta. Estás de parabéns, Paulo Baldaia - e todos quantos trabalham contigo. Foi bonita a festa, pá.
Gosto sempre muito das crónicas do Manuel António Pina. Desta gostei ainda mais.
O excelente Blasfémias faz hoje quatro anos. Desde que nasceu que está na minha lista de favoritos e é de leitura obrigatória todos os dias. Parabéns a todos, em nome do Corta-Fitas.
Enquanto aguardo o início do Festival da Lampreia que prevê servir 30.000 refeições em Montemor-o-Velho (Pedro, rói-te de inveja), reparo ao ler os jornais da região que o pessoal aqui leva o Dia Internacional da Mulher a sério no que toca às campanhas promocionais dos seus repastos.
Em Santa Luzia, O Leitãozinho mistura os prazeres da carne e promete "men strip" às senhoras enquanto degustam a iguaria que dá nome à casa ou, em alternativa, uma picanha. Já em Carqueijo O Manel do Castiço fica-se pela singela promessa de um "show masculino", mas ornamenta o anúncio com dois rapagões em cuecas. Dia 8 a coisa por estas bandas promete aquecer. Eu cá, depois de deglutido o arrozinho carolino do Vale do Mondego, já estarei longe. Mas se algum restaurante me quiser contratar para uma performance viril, estou disponível.
Aproveito também para divulgar que o Tribunal da Covilhã absolveu David Duarte num processo de difamação colocado pelo presidente da Câmara, não tendo ficado provado que era ele o autor do blogue Chicken Charles - O Anti-Herói. À saída do julgamento, de acordo com o Diário das Beiras, o designer David ainda disse "que gostaria um dia mais tarde de continuar a colaborar com a Câmara". Não me parece.
Californication é a série do momento e eu, confesso, gosto de quase tudo. Sobretudo da prestação de David Duchovny como Hank Moody, um escritor com um único best-seller, mas com o chamado writer's block, provocado pela separação da mulher e da filha. Moody está perdido na Califórnia, para onde se mudou, e vai tentando escrever, enquanto se mete em várias aventuras extra-literárias, a maior parte sexuais, violentas e alcoólicas. A série passa no canal Showtime nos EUA e por cá podemos vê-la às quintas-feiras à noite (acho que repete aos sábados) no FX, da TV Cabo. A pérola já valeu um globo de ouro a Duchovny e um processo milionário movido pelos Red Hot Chili Peppers pelo uso do título na série, o mesmo que era capa do sétimo álbum da banda, lançado no Verão de 1999. Em Californication estamos perante o mundo de hoje, com uma velocidade estonteante, mulheres bonitas, carros de sport (Moody tem um Porsche 911 Carrera dos anos 80 com um farol partido), noitadas, muito humor e uma dose q.b. de cheap literature. Imperdível.
cóco; ranhoca; lesma; avareza; pequenez; sermão; pesar; dor; doença; fractura; costura;morte.
É difícl responder ao desafio do Pedro Correia porque gosto de todas as palavras. Depois de muito pensar, acho que gosto menos das que não têm "i"s.
Relanço o desafio à Cristina Ribeiro, à Once in a While e às Cartas de Londres.
Por uma vez, o habitualmente sábio Tomás Vasques não tem razão. E confunde alhos com bugalhos. Esta é uma discussão sobre pessoas que dão a cara escrevendo livremente, em blogues ou noutro lado qualquer, sobre aquilo que bem entenderem. Esteja isso de acordo ou não com aquilo que o seu «empregador» pretende que deva ser a sua postura pública e publicada. O Tomás é uma pessoa inteligente. E por isso certamente distingue uma polémica sobre alguém que é encobertamente pago para reproduzir o discurso do patrão, de outro alguém que assina com o seu nome o próprio discurso. Dito de outra forma, certamente o Tomás sabe o que significa a liberdade. «Nefertiti não tinha papeira, Tutankamon apetite». Quem sabe o que isto é e porque surgiu, certamente não precisa de ouvir mais nada.
Ao folhear uma revista que dava dicas e sugestões de presentes originais, um jogo salta à vista. In Love! Contém 270 perguntas e desafios para jogar a dois, bem como 10 cartas de missão – não me perguntem que tipo de missão... Nesta competição amorosa o objectivo é ganhar uma recompensa: a carta-presente. Há 20 cartas-presente, como, por exemplo, ”Durante 3 dias vais servir-me o pequeno-almoço à cama”. Este era o único exemplo dado… Aos que têm habitualmente sorte ao jogo, porque não uma jogatina? É que o Trivial e Monopólio, já eram!
Irreverência
Quando li esta opinião do Eduardo Pitta, a minha primeira reacção foi a de resistir. Tive de reler, para concluir que era mesmo o que estava escrito.
A propósito de uma polémica sobre o encerramento de um blogue de Daniel Luís, Eduardo Pitta escreveu isto:
Acho que há aqui aspectos que convém discutir. Na qualidade de trabalhador assalariado, e ainda por cima jornalista, esta frase soa-me a uma espécie de epitáfio. Gosto de ser irreverente mas, se o Eduardo tiver razão, terei de guardar para mim toda a irreverência que gostaria de cultivar em público. Já que não posso ignorar o feedback das minhas irreverências face à imagem do empregador, preciso de saber até que ponto posso ir. Isto aplica-se certamente ao que escrevo no jornal, mas deverá aplicar-se em blogue? E se eu escrever um livro irreverente? O meu empregador tem alguma coisa a ver com isso? Como bem sabe o Eduardo, o que se ganha em livros ou blogues não chega para pagar a renda de casa, portanto, o meu empregador terá de me sustentar por mais algum tempo... E isso retira-me direitos? Fiz mal a alguém?
Mas este caso é interessante por outro aspecto. Os empregadores podem e devem interferir em blogues dos seus empregados se estes falharem no seu dever de lealdade ou se o contrato de trabalho limitar de alguma forma o direito de expressão do trabalhador. É tudo uma questão de bom senso.
De resto, aplica-se a regra da liberdade. Ninguém tem nada a dizer sobre a minha liberdade de expressão. Ponto final parágrafo.
Mas temo que a discussão não fique tão racional. Um dia virá em que jornalistas como eu não poderão escrever em blogue tudo o que pensam. Será um dia muito triste, garanto-lhe, Eduardo. A natureza dos blogues é esta, a de serem irreverentes com o poder, ou não serem, se lhes apetece. Estamos aqui a falar dos fundamentos da liberdade, que para todos nós não devem ser negociáveis, nem um milímetro, se tivermos sabedoria.
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