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Blogo, logo existo

por Pedro Correia, em 31.12.06
Foi bom para mim, o ano que agora termina: dificilmente haverá outro igual. Entre outros motivos porque marcou a minha iniciação à blogosfera. Cheguei, experimentei... e gostei. Deu-me muito gozo fundar o Corta-Fitas, em Fevereiro, com o Duarte Calvão, o Francisco Almeida Leite e o Luís Naves. Gostei de ver esta equipa ampliar-se, com gente que conhecia bem e ainda com este excelente trio que passei a conhecer e a cuja tribo também pertenço agora: a Maria Isabel, o João Villalobos e o João Távora.
A par da escrita partilhada, houve muitas (e boas) leituras. Horas e horas preenchidas a ler blogues de inegável qualidade. Uns mais sérios, outros mais divertidos, uns mais profundos, outros preferindo aflorar a espuma dos dias. Com votos de feliz ano novo, deixo aqui a lista de bloggers que acompanhei com particular atenção em 2006, numa homenagem simbólica a este meio de comunicação que nos aproxima diariamente.
Discordei de vários, concordei com muitos. Aprendi alguma coisa com todas elas, com todos eles.

Ana Cláudia Vicente
Ana Sá Lopes
André Azevedo Alves
André Moura e Cunha
Bárbara Baldaia
Bruno Cardoso Reis
Carla Carvalho
Carla Quevedo
Carlos Abreu Amorim
Carlos Albino
Carlos Manuel Castro
Coutinho Ribeiro
Cristóvão do Vale
Daniel Oliveira
Dina Soares
Eduardo Pitta
Fátima Pinto Ferreira
Fernanda Câncio
Fernando Martins
Fernando Venâncio
Filipe Nunes Vicente
Francisco Costa Afonso
Francisco José Viegas
Francisco Valente
Gabriel Silva
Helena Ayala Botto
Helena Matos
Henrique Fialho
Henrique Raposo
Hugo Alves
Joana Amaral Dias
João Caetano Dias
João Gonçalves
João Luís Pinto
João Morgado Fernandes
João Paulo Meneses
João Paulo Sousa
Jorge Ferreira
José Bandeira
José Mário Silva
José Medeiros Ferreira
José Raposo
Leonardo Ralha
Luís Januário
Luís M. Jorge
Luís Novaes Tito
Lutz Brückelmann
Marta Romão
Miguel Abrantes
Miguel Castelo-Branco
Paulo Cunha Porto
Paulo Pinto Mascarenhas
Pedro Lomba
Pedro Mexia
Pedro Picoito
Pedro Soares Lourenço
Rita Barata Silvério
Rodrigo Adão da Fonseca
Rui Bebiano
Rui Castro
Rui Costa Pinto
Rui Tavares
Sara Pais
Sérgio de Almeida Correia
Sérgio Lavos
Sofia Loureiro dos Santos
Sofia Vieira
Susana Barros
Tiago Barbosa Ribeiro
Tomás Vasques

Crónica à maneira de balanço

por João Távora, em 31.12.06

Não sou particularmente devoto das festividades do Ano Novo, acontecimento que leva aos píncaros da euforia muitos dos meus ilustres concidadãos. O tempo a mim parece-me mais uma linha recta (ou, admito, ligeiramente curva segundo a representação de Einstein) do que circular, por mais conveniente que esse formato seja para nossa orientação temporal. Mas pronto, vamos completar o círculo de 2006 e eu não resisto a fazer o meu pequeno balanço.
Este ano foi indubitavelmente marcado pela minha feliz incursão e descoberta da blogosfera. Um novo e fascinante mundo marcado pelo conhecimento de novas gentes, escritas, ideias e até de novos amigos.
Musicalmente, em 2006, entretive-me muito com o álbum “Aerial” da Kate Bush, e apaixonei-me pela georgiana Katie Melua. Dos poucos concertos a que tive o privilégio de assistir, guardo a boa recordação de Dee Dee Bridgewater no grande auditório do CCB. Uma mulher e uma voz que encheram por duas horas a sala e a minha alma. Na música clássica (e sob o protesto da minha sensível mulher), o meu ano de 2006 foi um ano de Tchaikovsky. Fabuloso este compositor russo do Séc. XIX que magnificamente promoveu o fulgor dos metais na música sinfónica.
Para um empenhado pai e padrasto, ir ao cinema com regularidade, foi “chão que já deu uvas”, e este ano a maior parte das vezes que fui, foi com as crianças às matinées infantis. Assim não admira que o meu destaque vá para a “Idade do Gelo – O Degelo” de Carlos Saldanha. Mas foi em 2006 que descobri o filme “Anjos no Inferno”, do realizador Ryan Little. E mesmo que politicamente incorrecto, atrevo-me a adjectivar de belíssimo o filme “O Nascimento de Cristo” de Catherine Hardwicke, a adicionar à minha prateleira de DVDs assim que seja posto à venda.
Nas leituras, os meus destaques do ano vão para “D. Pedro V” de Maria Filomena Mónica, e para “D. Carlos” de Rui Ramos ambos da colecção “Reis de Portugal” do Circulo de Leitores. Nos romances, David Lodge voltou a fazer-me boa companhia, em detrimento do retomar de Proust “Em Busca do Tempo Perdido”… encalhado algures “À Sombra das Raparigas Em Flor”. Uma vergonha.
Em termos profissionais, tratou-se de um ano de decisivas mudanças nas estruturas da empresa em que trabalho. Esse facto tem requerido grandes esforços de adaptação por parte de todos nós. A mudança não é fácil, para ninguém, tanto mais quando os resultados são diferidos e destes dependem alguma da estabilidade.
Finalmente, o ano termina com a “família pipocas” preparada para acolher um novo membro, já daqui a pouco mais de um mês. Ontem com a miudagem convidada a presenciar a penúltima consulta de gravidez da minha mulher, a nossa filha mais pequena garantiu ter visto no monitor as “pistanas” do José Maria a “muxer”. “Ano novo, vida nova” - no nosso caso, tudo indica será literal.
Feliz e próspero ano novo 2007 para todos, são os meus sinceros os votos.

No silêncio, entre cadáveres

por Pedro Correia, em 30.12.06

Albert Camus escreveu um dos mais fabulosos textos que conheço para uma alocução proferida em Novembro de 1948, num encontro internacional de escritores. Este texto, intitulado "O Testemunho da Liberdade", tem uma espantosa actualidade perante os vertiginosos acontecimentos que se sucedem no mundo de hoje. É uma reflexão que devia constituir uma espécie de código de conduta para todos os intelectuais contemporâneos.
Passo a transcrever alguns trechos*:

"Os verdadeiros artistas não dão bons vencedores políticos, pois são incapazes de aceitar levianamente, ah, isso sei eu bem, a morte do adversário! Estão do lado da vida, não da morte. São os testemunhos da carne, não da lei. (...) No mundo da condenação à morte, que é o nosso, os artistas testemunham o que no homem é recusa de morrer. Inimigos de ninguém, a não ser dos carrascos! (...) Um dia virá em que todos o hão-de reconhecer e, respeitadores das nossas diferenças, os mais válidos de nós deixarão então de se dilacerar, como hoje o fazem. Hão-de reconhecer que a sua profunda vocação é a de defender até ao fim o direito dos seus adversários a não terem a mesma opinião que eles. Hão-de proclamar, consoante o seu estado, que mais vale uma pessoa enganar-se, sem assassinar ninguém e permitindo que os outros falem, do que ter razão no meio do silêncio e pilhas de cadáveres."

Hoje, mais que nunca, estas palavras devem merecer-nos profunda meditação.

* Tradução (excelente) de Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes para a editora Contexto (2001)

A capa do dia (3)

por Pedro Correia, em 30.12.06
Há dias sui generis, como hoje, em que um só tema constitui a manchete dominante um pouco por todo o mundo. Só o tom vai variando conforme os quadrantes - geográficos e ideológicos. Em Chicago, a cidade onde Hemingway nasceu para o jornalismo (e para a literatura), a morte de Saddam Hussein foi noticiada assim.

Previsões 2007 (As figuras)

por Corta-fitas, em 30.12.06

A dupla Nicolas Sarkozy e Angela Merkel vai dominar o ano político.
Sarkozy deverá vencer as eleições presidenciais em França, na segunda volta, em Maio. Penso que o candidato de centro-direita, em relação à sua rival socialista (Ségolène Royal) tem duas vantagens e uma desvantagem: Por um lado, Sarkozy é um político mais experiente do que Ségolène e parece ter soluções sólidas para os três problemas franceses mais óbvios (segurança, economia e futuro europeu); a desvantagem tem a ver com o seu anti-elitismo.
Porque esta eleição será renhida e até atípica, há dois excelentes candidatos de centro, o que vai minar a influência das franjas. O candidato do centro-direita constitui um problema grave para a extrema-direita; e a de centro-esquerda será uma catástrofe para os grupos radicais à sua esquerda. É por isso que só a segunda volta conta.
Curiosamente, Ségolène foi discípula de François Mitterrand e teve a melhor formação possível (é de esquerda, mas énarque, portanto, das elites, o que em França costuma ser excelente mistura). Mas, ao contrário de Mitterrand, falta-lhe uma carreira política para poder vencer estas eleições.
Sarkozy é o oposto dela. Um pragmático, político tarimbeiro, que por vezes parece arriscar tudo numa única jogada. Tem a seu favor uma importante carreira prática, tendo pegado com êxito nos piores problemas do país (finanças descontroladas e insegurança). Contra si, terá o excesso de ambição (é demasiado visível) e o que nos media surge como “populismo”, mas que consiste, de facto, em não pertencer às elites políticas locais.
Há outros aspectos importantes: a França necessita de reformas e já sabe disso; as carreiras políticas francesas são longas, pelo que este será apenas o primeiro round de futuros combates entre Ségolène e Sarkozy. A dupla vai dominar a próxima década.
O que nos leva à Europa (a próxima década será europeia). Sarkozy parece ter uma resposta para a crise na UE, enquanto Ségolène tem fugido do tema, porque ele é demasiado embaraçoso para os socialistas.
Poderá ocorrer algo de inesperado, como um deslize nos debates televisivos (Ségolène será talvez mais hábil), mas penso que estes serão factores decisivos numa vitória final para Sarkozy, sempre por pequena margem.
Entretanto, na Alemanha, estarão a terminar os dois anos da grande coligação governamental. Após a mudança em França (e isto vale para qualquer resultado), Angela Merkel terá esgotado as virtudes da união entre CDU e SPD. Ou seja, haverá forte tentação para eleições antecipadas. Merkel deverá vencê-las com facilidade e Outubro será boa ocasião para o conseguir.
França e Alemanha estarão então em condições de impor uma saída para o impasse constitucional europeu. Talvez já em Dezembro de 2007, talvez só em Junho do ano seguinte.

Recuo civilizacional

por Pedro Correia, em 30.12.06
Não abri uma garrafa de champanhe há poucos dias, quando faleceu Augusto Pinochet: nenhuma morte de um ser humano me alegra, mesmo que se trate de um torcionário. Qualquer manifestação de regozijo pelo desaparecimento de alguém torna-nos moralmente equivalentes ao pior que existe na nossa espécie. Por este motivo, também não sinto nenhuma satisfação pela execução de Saddam Hussein, ocorrida esta noite: sem sequer discutir os aspectos processuais do caso, que aliás me parecem muito duvidosos, começo desde logo por contestar a chocante falta de justiça por detrás de cada execução "judicial". E lembrar honrosos precedentes históricos que deviam ter deixado rasto: a pena de morte decretada a Pétain no pós-guerra, de imediato comutada por De Gaulle; a execução a que foi poupado Ezra Pound, como colaboracionista do fascismo, na sequência dos apelos de várias dezenas de intelectuais, com Hemingway à cabeça. Tantas décadas depois, recuámos em termos civilizacionais. Que satisfação podemos sentir com isto?

A vida humana é um valor absoluto

por Pedro Correia, em 29.12.06
No domínio dos valores, não devemos ser relativistas. Para mim, a vida humana é um valor absoluto: sou radicalmente contra a aplicação da pena de morte. A sentença capital decretada ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein - por mais execrável que tenha sido o seu regime e por maior "canalha" que ele próprio fosse no exercício do seu poder despótico, para usar esta expressão cara à eurodeputada Ana Gomes - fere os mais elementares princípios civilizacionais, tornando os seus juízes e os seus algozes numa espécie de equivalente moral do antigo tirano de Bagdade. Nenhum dos crimes cometidos por Saddam, por mais repugnantes que tenham sido, poderá ser reparado com a sua execução, ditada pela "justiça dos vencedores", neste caso equivalente a pura vingança, mesmo que camuflada pela necessária respeitabilidade de um tribunal. Não devemos ser magnânimos com os ditadores, mas devemos ainda menos imitá-los nos instintos carniceiros. O respeito por uma vida humana, seja ela qual for, deve funcionar sempre como linha divisória entre a civilização e a barbárie. E não me venham dizer que tudo isto é relativo. Porque não é.

Postais blogosféricos

por Pedro Correia, em 29.12.06
1. O Tiago decidiu fechar o seu Telescópio. Lamento, pois era um blogue que me habituei a visitar com frequência. Fico à espera de um novo projecto, que não deverá tardar.
2. Também a Teresa aproveitou este fim de ano para fechar os Sapatos Negros, justificando falta de disponibilidade. Outra partida que lamento. Mas nos blogues, tal como na natureza, nada se perde - tudo se transforma.
3. Agradeço estas palavras amigas do João. Até porque, tal como ele, sei que não é fácil dizer bem...
4. O Eduardo deu-se ao trabalho de lembrar aqui alguns bloggers com quem mantém "relações de amizade, cumplicidade, cordialidade ou simples afinidade electiva". Segue-se uma lista que por mim subscreveria quase na totalidade. Mas se fosse eu a elaborá-la incluía certamente mais um nome, em troca com o meu: o dele. Com todo o mérito.

Outras cinco coisas que detesto

por Pedro Correia, em 29.12.06
- Atender chatos ao telefone.
- Receber sms "tipificados", com mensagens de Ano Novo iguais às que toda a gente recebe.
- Ver o Pai Natal comprado nas lojas chinesas pendurado de milhares de varandas e janelas.
- Os motoristas de táxi que andam a pedir "um novo Salazar" enquanto passam os sinais vermelhos.
- A "maior árvore de Natal da Europa", com 72 metros de altura, que engarrafa o trânsito na Baixa de Lisboa.

Luciano Amaral respondeu em O Insurgente a um post aqui publicado sobre um seu artigo no DN e reclama que eu interpretei abusivamente algumas das suas posições. Quanto a isto, não há remédio. Se tresli, só me resta pedir desculpa e deixar aqui o link com o artigo original.
No final da sua resposta, Luciano Amaral deixa duas questões interessantes. No meu post tento defender a opinião de que uma Europa reduzida ao seu mínimo dará origem a uma evolução perniciosa para Portugal: certos países (que estão sempre a proteger os respectivos interesses, como é óbvio) tentarão criar um núcleo duro com integração mais acelerada. Coloquei nesse hipotético núcleo duro Holanda e França, que rejeitaram o tratado em referendo. Ora, Luciano Amaral pergunta qual a lógica de tal inclusão. Parece-me importante esclarecer. O Tratado Constitucional resulta de uma negociação em que todos os países fizeram cedências. Por isso, não é o melhor cenário para ninguém, permitindo evitar a Europa a que chamei “minimalista” e a de várias velocidades (uma e outra com potenciais benefícios para alguns países). O tratado é algo de intermédio que, se não existir, resultará na busca de outras soluções, outra União Europeia, onde haverá diferentes patamares de integração. Os ingleses quererão a tal UE minimalista e os franceses a mais integrada. Só há uma hipótese: a fragmentação em círculos concêntricos.
Seria um novo projecto, talvez até melhor que o anterior, quem sabe? Mas, para Portugal, representava uma péssima evolução.
Interpretei o texto de Luciano Amaral como tendo defendido uma Europa “minimalista”. Na sua resposta à minha crítica, o autor diz que quer a Europa “como está, com melhores mecanismos de decisão”, que podem até resultar de um novo tratado. É relativamente próximo do que eu defendo, pelo que não merecia esta polémica. Mas, se o novo tratado fracassar (aquele que vai ser negociado no próximo ano, com base no texto rejeitado em França e Holanda) não me parece que a Europa fique como está. Acho que avançará o tal projecto da UE a várias velocidades, com países de primeira e países de segunda. Por acreditar nisto, reagi ao texto de Luciano Amaral, acabando por maçar o meu interlocutor e, de caminho, os leitores do Corta-Fitas.

A capa do dia (2)

por Francisco Almeida Leite, em 29.12.06
A edição de hoje do El Mundo conta que a "Junta obriga os professores a apresentar o seu plano docente em galego". Aí está Emilio Pérez Touriño no seu melhor. Quem tem saudades do bom do Fraga?..

Vemo-nos por aqui em 2007

por M. Isabel Goulão, em 29.12.06


Despeço-me de 2006 e dos leitores do Corta-Fitas com uma fotografia da Juliana Paes, considerada já um verdadeiro ícone deste blog. A fotografia aqui ao lado não será certamente das "melhores", mas foi uma das poucas que encontrei no google com a miúda vestida. Sorry.

A todos os colaboradores deste blog cheio de inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios, um grande Ano Novo com muita saúde e muita felicidade. Um grande beijinho a todos.

Nada como festejar com Bolo de Natal de Moçambique , uma taça de Loridos Clássico e até para o ano.

Um excelente 2007 para todos.

A pedir internamento

por Pedro Correia, em 29.12.06
Vasco Baptista Marques assume-se claramente como candidato ao título do mais caricato "crítico" de cinema português. Especialista na distribuição de bolas pretas a tudo quanto é filme produzido nos Estados Unidos, fugiu desta vez à regra, atribuindo quatro estrelas(!) ao banal Déjà Vu, de Tony Scott. Mas ficou-lhe a má consciência. De tal maneira que termina o seu texto sobre este filme, publicado na última edição do caderno "Actual", do Expresso, da seguinte forma: "Não insisto. Aliás, tenho mesmo de ficar por aqui. É que já estou a ver a enfermeira a caminhar para o meu quarto em passos largos com o colete-de-forças na mão."
Linda auto-ironia, não acham? Nem quero imaginar o que sucederá daqui a dois ou três anos, quando VBM atribuir finalmente cinco estrelas a um filme...

O nazi das sopas*

por Corta-fitas, em 29.12.06

1. Interrompo as minhas braçadas na piscina apenas para estrebuchar contra o que transparece neste artigo, a propósito da acção que reuniu uma modelo loura, uma galinha poedeira e Miguel Moutinho, líder da associação Animal. Basicamente, não gostei de sentir o regozijo na afirmação do senhor de que "muito brevemente em Inglaterra os não vegetarianos serão uma minoria malvista" e imaginei-o - enquanto dizia isto - com um sorrizinho irritante e torto, igual àqueles dos nazis nos filmes que têm sempre uma cicatriz na cara. Só por causa disso, vou almoçar um bife tártaro!
2. Aproveito também para felicitar, um por um, os membros do «Movimento de Libertação dos Pais Natal das Varandas», responsáveis pelo rapto de várias dessas animálias em Bérgamo. Infelizmente, os bicharocos foram depois colocados num jardim público quando, neste caso, só a incineração se apresenta como caminho e destino justos.
P.S. O título é roubado a uma famosa personagem da série Seinfeld.

Sexta-feira

por Francisco Almeida Leite, em 29.12.06
Eva Green (a Vesper Lynd do novo 007).

Previsões 2007 (Portugal)

por Corta-fitas, em 29.12.06


O próximo ano será marcado por quatro acontecimentos principais: o referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, a época de incêndios, a presidência portuguesa da UE e, estando nós na futebolândia, a disputa do Campeonato da Europa.
Em relação ao primeiro tema, penso que haverá uma vitória fácil do “sim”. Não querendo entrar em polémica com alguns dos meus queridos companheiros de blogue que defendem o “não”, abstenho-me de justificar esta previsão. Limito-me a dizer que votarei pelo “sim”.
Em relação à época de incêndios, será o drama habitual, com as também habituais discussões estéreis sobre se este Governo é melhor do que o anterior, com as respectivas estatísticas deturpadas sobre o número de hectares ardidos.
Há vinte anos, quando era estudante do Instituto Superior de Agronomia, os professores já ensinavam que haveria incêndios florestais em Portugal enquanto a floresta fosse a errada, ou seja, plantada com espécies de crescimento rápido, mas sem adaptação ao clima. Entretanto, todas as tendências da época se agravaram: há mais desertificação humana, proliferam as matas com uma única espécie (sempre a mais errada para o clima seco) e interesses económicos incendiários. O ministro da Agricultura, Jaime Silva, que conhece o problema, tentou dizer isto, mas foi imediatamente calado pelos lobbies.
A luta contra os incêndios (a obsessão de Governo, oposição e comunicação social) é um pouco como curar uma infecção com aspirinas: pode baixar a febre e reduzir os sintomas, mas nunca curará o mal. Com ou sem spin doctors.
Por falar em spin, o actual Governo continuará, sem êxito, a tentar controlar a informação. Tentará, sem êxito, fazer algumas reformas pouco significativas e prosseguirá, sem êxito, a sua governamentalização da administração pública.
Do lado mais sensato, continuará o esforço de consolidação orçamental, num ajustamento económico doloroso para a população, que se prolongará além de 2007.
O desemprego desafiará as leis da física, mantendo-se estável numa economia em crescimento deficiente, graças a estatísticas no mínimo notáveis.
A presidência portuguesa será uma boa ocasião para propaganda, mas as regras mudaram (agora, está sempre presente um país grande num trio) e penso que a Alemanha tentará controlar não apenas o seu semestre, mas o ano e meio que teoricamente é gerido por três países a coordenarem a agenda entre si. Como só existe um tema a sério, a reforma institucional da UE, a senhora Merkel estará no comando do essencial até Junho de 2008. Portugal ficará com algumas migalhas, nomeadamente a cimeira UE-África, que a realizar-se será uma boa ocasião propagandística, embora a relação entre Europa e África não vá mudar um milímetro: eles serão fonte de matérias-primas baratas, governados por elites corruptas que fazem compras de produtos de luxo em Paris, e nós continuaremos a estimular o grande negócio humanitário.
Finalmente, coisas sérias e uma nota optimista: o apuramento para o Euro 2008. O grupo é muito mais difícil do que parece e a Polónia assume-se como rival sério, mas penso que a nova geração de craques estará à altura do desafio.
Afinal, apesar da conjuntura, Portugal é um País muito resistente. Como as pilhas Duracell.

007: o vício é uma virtude

por Pedro Correia, em 29.12.06
Confesso-me rendido ao desempenho de Daniel Craig no último filme da série 007: ao contrário do xaroposo Pierce Brosnan, que abusava dos tiques de salão, Craig retoma a personagem dura, cínica e profundamente amoral que Sean Connery em boa hora criou no princípio da saga. Os primeiros filmes foram de longe os melhores - nada a ver com a pirotecnia acéfala, boa para consumir pipocas, em que o agente de Sua Majestade se foi transformando, sobretudo nas duas últimas décadas. Agora dá-se o regresso às origens com excelentes cenas de pancadaria (dignas dos Keystone Cops, ou seja, dos primórdios do cinema) e de perseguição, polvilhadas com um humor próprio de quem não se leva demasiado a sério. James Bond, apesar de ter ordem para matar, não deve, de facto, ser levado demasiado a sério. Só isto nos permite desfrutar da melhor maneira Casino Royale, um filme com uma produção irrepreensível que me fez ter uma súbita vontade de conhecer Montenegro, de regressar com urgência a Veneza e de adquirir residência nas margens do Lago Cuomo um dia destes, quando me sair o euromilhões. Brinde suplementar: a película tem excelentes diálogos. O meu preferido é este, entre Bond e a deliciosa Vesper Lynd (interpretada pela actriz Eva Green):
- Você não faz o meu género (diz ele).
- Por ser inteligente? (pergunta ela).
- Por ser solteira (remata ele).
Como nos ensinou Vasco Pulido Valente, o mundo está perigoso. Não admira que M, a superior hierárquica de Bond, confesse ter "saudades da Guerra Fria". Num planeta ameaçado pela praga terrorista, o mais famoso agente secreto britânico deixou-se de punhos de renda e ganhou uma destreza a lidar com o crime que mal o distingue afinal de um verdadeiro criminoso. Claro que há quem deite olhares de outro género ao filme, mas de momento o que me interessa é este: nos dias que correm, são cada vez mais ténues as fronteiras entre bons e maus. Bond está no meio, mas personifica muito mais o vício do que a virtude.
Se virmos bem, como poderia ser de outra forma? Quem lhe paga o ordenado é Tony Blair, um dos grandes jogadores de póquer político à escala mundial, que se tem mantido como fiel parceiro de George W. Bush em todas as jogadas. Bom rapaz, este Blair. Capaz, tal como Bond, de transformar qualquer vício em virtude - e de nos fazer pagar bilhete para o aplaudirmos. Comparado com ele, Daniel Craig é um menino de coro.

O prazer de ler

por Pedro Correia, em 29.12.06
No meio de muita verborreia presunçosa e de algum lixo acumulado nos cantos do costume, tropeçamos de vez em quando com algumas pérolas na blogosfera. Como este texto da grande Clarice Lispector, que em boa hora o Eduardo Pitta recuperou. Para ler. E pensar. E sentir. E guardar.

Colecção de crónicas (III)

por Corta-fitas, em 28.12.06

Há cidades mais literárias, locais que despertam a fantasia dos escritores e que parecem palpitar da mesma forma desvairada que os corações subitamente arrancados a corpos indefesos. Lisboa é literária, como são Nova Iorque, Praga, Paris ou Budapeste. Mas estes são casos raros. Não apetece inventar histórias em Genebra ou Bruxelas.
Ao tentar explicar isto pela razão, encontro a possibilidade de as pedras terem também uma espécie de alma, como se fossem pessoas, embora o ciclo de vida (nascimento, crescimento e decadência) seja tão longo que nem nos apercebemos da sua respiração inaudível. E assim é com certas cidades ou locais, onde se pode imaginar a vasta circulação humana separada daquela que pertence exclusivamente às pedras. A forma desliza, como se fosse maré; e as personagens ganham vida autónoma, pois a imaginação liga-se, por um instante, à poderosa magia desses corpos a que chamamos cidades.
Adem ou Alexandria têm ressonâncias magnéticas. Mas estas vibrações interiores não são um exclusivo de cidades habitadas. O deserto mais vazio pode produzir inconcebíveis fantasias, talvez porque aí estamos perante a nudez absoluta da pedra.
Ao escrever estas linhas, lembrei-me da atmosfera densa e exótica, cheia de luz e sombra, de Morocco, o filme de Josef von Sternberg sobre o abismo da paixão e o carácter inelutável da consequente queda. O mesmo abismo que li em O Céu que nos Protege, de Paul Bowles, que por sua vez me faz lembrar um pequeno conto de Camus, também sobre o deserto como paisagem, visto a partir de uma muralha numa cidade na orla do nada. Nesse texto, o vento é praticamente a personagem principal.
Em Morocco, Marlene Dietrich viaja sem bilhete de volta, só o de ida, porque em busca destas cidades perdidas andam personagens à deriva, peregrinos que não voltarão jamais do seu destino fatal.

É fogo?

por Francisco Almeida Leite, em 28.12.06
Depois da discussão que aqui houve sobre as máquinas de café e a Bimby, devo confessar que há uma coisa que me faz uma certa espécie: as lareiras com "recuperador de calor". Aquelas de onde nem sequer sai o cheiro a lenha. Para mim, é como o café de balão e a Nespresso. Prefiro as lareiras à séria e o café de balão. Chamem-me conservador, mas quem me tira uma lareira verdadeira, tira-me tudo.

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