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Murros no estômago

por Nuno Sá Lourenço, em 03.10.06
Já está no CCB mais uma edição da World Press Photo, de que faz parte esta foto premiada do fotojornalista português Pedro Correia. À luz dos momentos captados no ano passado, só se pode dizer que o Mundo continua um lugar perigoso. Saí da exposição como imagino que sairia de um ringue de boxe. Contundido com tanto murro no estômago.
PS: O Pedro Correia de que falo é reporter fotográfico no Jornal de Notícias

Na disputa de mercado

por João Távora, em 03.10.06
Agrada-me uma saudável guerra de manchetes, bom jornalismo de investigação. Na disputa do mercado, pelos vários jornais e revistas, acredito que uma boa manchete resulte em bom marketing. Mas não me parece que a finalidade valha o sacrifício da ética e da verdade jornalística. Para mais, no caso do Sol e do Expresso, estes expõe-se nos quiosques quase sempre "ensacados". O critério das manchetes já não funciona espontaneamente.
Mais, o Expresso, desta semana estava fechado num original envelope de cartão, o que tornou frustrada a expectativa de espreitarmos as respectivas cachas. Mesmo assim valeu a pena aquele barulho?

Way too much time on my hands

por Nuno Sá Lourenço, em 03.10.06
Tenho desculpa... Estou à espera que terminem uma série de comissões parlamentares que decorrem à porta fechada...

Grandes contos (2): Camus

por Pedro Correia, em 03.10.06
Pode um conto ser deliberadamente político sem nunca parecer que o é? Pode. Albert Camus dá-nos um exemplo admirável numa das histórias incluídas na excelente colectânea de narrativas intitulada O Exílio e o Reino (1957). O conto a que me refiro, O Hóspede, é daqueles que nos perduram na memória graças à poderosa sugestão visual da escrita de Camus, na sua elegância sincopada. Uma espécie de “Hemingway revisitado por Kafka”, na definição algo irónica de Sartre, que nunca escondeu uma certa aversão pelo autor d'O Estrangeiro, um dos raros escritores franceses do século XX que jamais se deixou seduzir por sistemas totalitários. É este, aliás, o cerne deste conto hipnótico, que nos fala da solidão, do silêncio, da violência surda, da incomunicabilidade – e também de política, oculta num admirável jogo de metáforas: afinal que papel resta aos intelectuais num mundo que volta a ser dominado por pulsões irracionais de toda a espécie?
O professor Daru – alter ego do autor – encarna este dilema, no quadro da cruel guerra da Argélia, nunca aqui nomeada expressamente mas subjacente do primeiro ao último parágrafo. Camus, francês nascido na Argélia, sabia bem o preço a pagar por aqueles que, como ele, não optaram por nenhum lugar em nenhuma trincheira do conflito.
Num momento em que a História caminha a passo cada vez mais acelerado, há uma estranha actualidade neste confronto de culturas simbolizado no professor francês com alma de apátrida que dá abrigo por uma noite, na sua escola abandonada, ao árabe suspeito de ter infringido a lei. Em pano de fundo, com toda a sua carga simbólica, a nua imensidão do planalto argelino, às portas do deserto, magistralmente descrita pelo autor: “Daru contemplou o céu, o planalto, e, para além, as terras quase invisíveis que se estendiam até ao mar. Nesse vasto país, que ele tanto amara, estava agora só, completamente só.” (Edição portuguesa dos Livros do Brasil, tradução de Cabral do Nascimento).
Não é na irreparável solidão desse deserto que vive o homem contemporâneo, entre as certezas que se desmoronam e um terror sem rosto incrustado no nosso inconsciente colectivo?

Perspectivas

por João Távora, em 03.10.06
A minha filha Carolina, de cinco anos, ontem ficou inconsolável. Da notícia que um bebé vinha a caminho na barriga da mãe, torcia que fosse uma menina. Quando soube que se perspectiva um saudável rapaz, um José Maria, amuou e explicou porquê: “Pai, é que assim o bebé vai ser TREINADO pelo Francisco, e queria ser eu!” Fiquei abismado com o raciocínio.
De resto a minha mulher e eu, até por questões logísticas, ficámos muito felizes com a notícia.

Dá cá o dízimo, ó meu

por Pedro Correia, em 03.10.06
Tinha jurado a mim próprio nunca sintonizar a TV Record, esse lamentável sucedâneo que a TV Cabo, em clara violação do contrato estabelecido com os seus assinantes, pôs no lugar do excelente GNT. Mas no fim de semana, à procura de notícias das eleições brasileiras, lá espreitei o tal canal. Azar meu: em vez de novidades sobre a contagem dos votos, só vi "histeria" pseudo-religiosa, com "repórteres" da estação apregoando as putativas virtudes "do dízimo e das ofertas".
Será que o "dízimo" ajuda a explicar certos "milagres" da grelha da TV Cabo?

Festa

por João Távora, em 03.10.06
Ontem, mais uma vez, foi uma alegria para o meu coração ver a rapaziada a jogar. É uma grande alegria ver os “bonecos” do Nani nas manchetes dos jornais de hoje, “de pernas para o ar” em acrobático festejo. É a saudável imagem que devíamos guardar da festa do futebol.

Deus não dorme

por Pedro Correia, em 03.10.06
Ao forçar Lula a disputar uma segunda volta contra Geraldo Alckmin, o eleitorado brasileiro deu a toda a América Latina uma extraordinária prova de maturidade. Aconteça o que acontecer, daqui por diante, jamais o actual inquilino do Palácio do Planalto actuará com a impunidade revelada até agora, o que o levou inclusive a faltar aos debates televisivos pré-eleitorais, prova da sua inegável arrogância. Ter sido operário, oriundo de uma família pobre e filho de mãe analfabeta pode ser um bom cartão de visita no Brasil. Mas a falta de seriedade e de escrúpulos da clique lulista, que se encarregou de pulverizar as melhores aspirações da esquerda brasileira, foi justamente penalizada. Como diria Mário Mesquita, num outro contexto eleitoral, Deus não dorme.

O Governo que merecemos

por Duarte Calvão, em 03.10.06
Na volta de férias, vejo na capa do caderno de Economia do DN que o Governo vai cortar no investimento público em cerca de 15% para conter o défice. E, numa notícia da semana passada, que o Governo ia aumentar o desconto da ADSE. Na campanha eleitoral, que já se passou há setenta anos, Sócrates prometeu que conteria o défice sem recurso a receitas extraordinárias e sem cortar no investimento público. Quero ver que contas vão agora fazer os analistas e comentadores quando o Governo anunciar triunfalmente que conseguiu baixar o défice para 4,6% . As mesmas que faziam no tempo de Manuela Ferreira Leite? Claro que não, até porque fora meia-dúzia de pessoas amargas e descontentes com a vida como eu, ninguém se lembra ou se quer lembrar do que Sócrates prometeu.

Corporações

por João Távora, em 02.10.06
Foi com espanto que no Sábado ao chegar à Praceta Conde da Carreira, junto à estação de S. João do Estoril, encontro plantado ao centro um enorme conjunto de contentores, com o letreiro FARMÁCIA. De repente até me pareceu mais um vil gesto para expulsar as criancinhas que ali gostam de brincar, mesmo depois de se ter retirado os baloiços. Mas logo fui esclarecido: durante uns tempos, enquanto a (verdadeira) farmácia sita no local estiver em obras, o povo será privilegiado com aquelas instalações provisórias, autorizadas por “quem (?) de direito”.
Pergunto: Quando a conhecida e utilitária papelaria “Bonanza” ali também da praceta, necessitar de encerrar para obras quem vai patrocinar a sua instalação temporária num… Quiosque? E o café? E a lavandaria?
Mas não liguem, que é inveja minha. Eu é que queria ter era uma farmácia só para mim.

Impressões áureas

por Nuno Sá Lourenço, em 02.10.06
A guerra dos semanários deu-me mais um pretexto para ir ao quiosque aos fins-de-semana. Tenho tentado perceber quem está a ganhar a guerra. Ao fim de duas semanas, fico com a impressão que as coisas não estão a correr bem ao arquitecto.
No sábado passado, à cinco da tarde, no Almada Fórum, o Expresso estava esgotado e o Sol estava espalhado por inúmeras pilhas na loja Presselinha.
No domingo anterior, às três da tarde, na papelaria da Quinta da Luz, Lisboa, sobravam duas pilhas, de Sol, do chão até à cintura. O Expresso acumulava uma pilha.

Cheira-me que o arquitecto ainda vai ter de engolir aquela frase anti-DVD's.

Enfim...

por Rodrigo Cabrita, em 02.10.06
Soube hoje numa conversa entre amigos que a Sportv garantiu os direitos de transmissão da Fórmula 1 por uma quantidade de anos. Mais um desporto codificado. Estou louco para que alguém se lembre de fazer o mesmo com as novelas...

Ainda bem

por Pedro Correia, em 01.10.06
A vida não é só política, Tomás. E ainda bem.

Impressões musicais (7)

por João Távora, em 01.10.06
Neil Young faz parte da minha vida, dos píncaros da minha memória. A sua poesia vive nos meus sonhos profundos, mesmo antes de eu nascer. Reconheço-o de sempre em "Live Rust", pequeno, minúsculo como só um Homem. Com enorme comoção vejo-o, arrastando um microfone gigante, em cima de uma desmesurada coluna. E canta: "The needle and the damage done". Tão perto do abismo.
Acho que a sua arte é o meu outro lado, a minha flor da pele, uma emoção feminina.
Neil Young é o meu príncipe branco do rock n’ roll, das minhas íntimas paixões. Sempre "Como um furacão". Desde "Harvest" até "Harvest Moon". Arranhei-o na minha guitarra... bem que guinchei os seus hinos de amor. "Bird": (…) When you see me, Fly away without you, Shadow on the things you know, Feathers fall around you, And show you the way to go,(…) Às vezes ainda lhe abro um coração adolesceste. Apaixonado "Cavalo louco", pressentindo o abismo do amor. "Comes a time".

Dedicado à Margarida e ao Francisco, que eu sei, já intuem ao longe uma "Montanha de Açúcar"

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Grandes contos (1): Hemingway

por Pedro Correia, em 01.10.06
Ernest Hemingway, que se tornou muito conhecido pelas suas proezas reais ou imaginárias na pesca, na caça e até na guerra, era afinal um indivíduo extremamente sensível, como demonstram vários dos seus contos - entre eles Um Gato à Chuva, que tem tradução portuguesa de Alexandre Pinheiro Torres (Livros do Brasil, Lisboa). Gabriel García Márquez considerou-o "o melhor conto do mundo". É uma singela história de cinco páginas, na melhor estética “minimal” de Hemingway - autêntico "mestre na arte do elipse", como bem assinalou Enrique Vila-Matas. Mas é quanto basta para nos proporcionar um dos mais perturbantes retratos de fragilidade feminina que já encontrei em literatura.
Um jovem casal americano hospedado algures em Itália. Têm todos os motivos para serem felizes. Todos? Talvez não. Pressente-se uma tensão subtil neste casal, revelada apenas no comportamento dela, subitamente identificada com a chuva que cai, com um gato desamparado que caminha à chuva. Há um jogo de contrastes nesta ficção povoada de personagens anónimas: o marido indiferente/o afável proprietário já idoso do hotel; a mulher pequena perante aquele homem alto que lhe provocava “um aperto na garganta”; a falta de desejo latente naquele quarto e a obsessão dela em resgatar o gato da chuva. (Desejo inconsciente de um filho que talvez acabe por nunca vir?) E, enfim, a presença obsessiva do dilúvio climático.
O rigor da meteorologia serve afinal de metáfora a este quadro humano tão singular mas também tão emblemático. Quantas mulheres terão sentido o mesmo “aperto na garganta” que esta americana vislumbrada pelo génio de Hemingway entre os pingos de chuva?

Foto: Michele Rain

Os livros da minha vida

por Pedro Correia, em 01.10.06
Ouvimos muito a expressão “os filmes da minha vida” ou “os livros da minha vida”. Pergunto-me: quais foram, quais são os livros da minha vida? Tantos, tão variados - correspondendo a várias épocas e a vários apetites. A Condição Humana (André Maluraux), O Adeus às Armas (Ernest Hemingway), O Estrangeiro (Albert Camus), 1984 (George Orwell), O Pavilhão dos Cancerosos (Alexandre Soljenitsine), A Cidade e as Serras (Eça de Queiroz), Pela Estrada Fora (Jack Kerouac), O Zero e o Infinito (Arthur Koestler), A Ilha do Tesouro (Robert Louis Stevenson), Os Três Mosqueteiros (Alexandre Dumas), Tufão (Joseph Conrad), O Apelo da Selva (Jack London), O Homem que Via Passar os Comboios (Georges Simenon), Coração, Solitário Caçador (Carson McCullers), A Música do Acaso (Paul Auster), O Americano Tranquilo (Graham Greene), Robinson Crusoe (Daniel Defoe), O Grande Gatsby (Scott Fizgerald), Capitães da Areia (Jorge Amado), Memórias de Adriano (Marguerite Youcenar).
Apenas vinte livros. Todos de ficção. Todos “livros da minha vida”. Podia mencionar muitos mais. Podia até gastar todo o espaço do blogue com este assunto. Não admira: é um tema inesgotável.

Pensamento lulista

por Pedro Correia, em 01.10.06
Hoje há eleições no Brasil. Mas não me apetece falar a sério do assunto, na iminência de uma reeleição à primeira volta de Lula da Silva apesar do evidente descalabro ético do seu governo e da cobardia política de que deu mostras, alegando sempre desconhecer todas as trafulhices cometidas pelos seus principais colaboradores. Afinal, vendo bem, trata-se do país que celebrizou um político que proclamava: "Eu roubo, mas faço."
Hoje apetece-me apenas deixar aqui algumas pérolas do pensamento lulista, compiladas pelo jornalista brasileiro Carlos Laranjeira no seu livro Frases de Lula e Cia. (Chamas Editora, 2005):
- "Uma palavra resume provavelmente a responsabilidade de qualquer governante. E essa palavra é 'estar preparado'."
- "Na Amazónia vivem 20 milhões de cidadãos que têm mulheres e filhos. Mulheres e filhos são apêndices dos cidadãos."
- "Um número baixo de votantes é uma indicação de que menos pessoas estão a votar."
- "Se não tivermos sucesso, corremos o risco de fracassar."
- "Não é a poluição que está prejudicando o meio ambiente. São as impurezas no ar e na água."
- "Mantenho todas as declarações erradas que fiz."

Pág. 14/14



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