Corta-fitas

Descalça por feitio, pendurada por paixão, morta por amor...ao seu homem? À maternidade?

Só não passamos o filme inteiro a torcer para que Bogey fique com ela porque sabemos que ela é trágica, e gostamos de Bogey. Não sabemos isso por nenhum "feeling" subtil. Sabemos porque ele está à chuva no funeral dela quando o filme começa. A água é um signo de vida ou de morte? De ambos, pelos vistos, num mecanismo circular por demais conhecido, da placenta ao escorrimento tumular.

Já antes referi, a propósito de "The Bad and the Beautiful", um trabalho escolar sobre Hollywood on Hollywood, em que os dois vértices maiores deste triângulo eram a "Condessa" e o "Sunset Boulevard". Além de muitas outras coisas, têm em comum começarem sob o signo da água e da morte. No "Sunset", logo no início, o cadáver, e a voz, do William Holden flutuam na piscina da Gloria Swanson. São os dois filmes mais negros do trio, provavelmente por isso, os melhores. Não consigo escolher entre os dois.

O cinismo do filme do Wilder acaba por relativizar o destino estúpido do Holden. Morto por logro e desamor. Wilder puxa para a farsa, benza-o Deus. Mas Mankiewicz leva-se mais a sério e, neste caso, não creio que seja um defeito. O destino da Ava é lógico, racionalmente impulsivo e forçosamente inevitável. Tanto mais injusto quanto perece pelas justas razões da fragilidade feminina e da bondade criadora. Logo, plenamente trágico.

Mas nem tudo são tristezas. Finalmente, Mankiewicz mete o terceiro filme e já está no grupo dos segundos. Acho que ainda tem uns dois trunfos na manga para desafiar Hitch, Kazan e Wilder.