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O que é que vão celebrar em 2010 ?!?

por João Távora, em 24.12.07
Ferreira Fernandes coloca hoje na sua coluna do Diário de Notícias o dedo na funesta ferida do regime, ao indignar-se com a assumpção por parte de Luis Filipe Meneses do direito ao usufruto para as suas hostes dum dos muitos lugares de topo duma empresa estatal, no caso a administração do maior banco nacional. É público que, em detrimento da meritocracia e do bom senso na gestão dos recursos nacionais, o regime acalenta um sistema paternalista que promove os apaniguados dos principais partidos de poder aos mais suculentos lugares da administração mais ou menos pública. A "moral republicana" e a democracia representativa não se libertaram duma centenária tradição proteccionista, macrocéfala e despótica. O regime sustenta-se aliás duma clientela incompetente ou simplesmente oportunista, uma medíocre neo-fidalguia, que se alimenta e sobrevive gananciosa nas máquinas dos partidos situacionistas.
Pessoalmente estranho o cúmplice silêncio da nossa imprensa da especialidade - pretensamente independente e livre - perante a podridão do sistema que a todos nos consome os preciosos recursos. Tarda a denunciar o sistema que promove a injustiça, o compadrio e o clientelismo. Se calhar porque também se alimenta dele.
Como Miguel Sousa Tavares sagazmente escreve na sua crónica do Expresso desta semana, há duas espécies de portugueses: os que vivem a pagar ao estado e os que vivem a tirar aos estado. Assim sobrevive o regime, com as trágicas consequências encobertas pelo beneplácito placebo dos fundos comunitários.
Ao longo dos últimos séculos foram necessárias as mais radicais barbaridades revolucionárias para que tudo permanecesse na mesma, ou seja - obviamente em termos relativos - na cauda do mundo civilizado.
Perante a constatação do crónico atraso nacional de que eram vítimas as classes mais desprotegidas e cuja condição social se encontrava perto da miséria, D. Manuel II, numa desesperada tentativa de alterar o decadente curso da história, uns meses antes da inútil revolução do cinco de Outubro, contratou por sua conta e risco o famoso sociólogo francês Léon Poinsard para que desenvolvesse as necessários observações e elaborasse um dossier que apontasse as pistas para uma política regenerativa e promotora do "fomento nacional". O sociólogo percorreu o país de lés a lés analisando a organização social e as condições de vida da população que lhe mereceram um sinistro diagnóstico: a principal causa da “desordem crónica” do país residia na sua organização política dominada por uma “tribo” pouco escrupulosa, ávida de poder e proventos que dominava a seu bel-prazer devido à fraca tradição de liberdades locais que fazia centralizar todo o poder e autoridade no governo. O rotativismo protagonizado pelos dois grandes partidos do poder, o regenerador e o progressista, contribuía apenas para criar uma série de clientelismos e servir interesses particulares em detrimento interesse nacional.”(...) "Uma das consequências mais singulares e mais injustas deste sistema é o predomínio quase continuo de um poder anónimo e irresponsável que frequentemente dirige, de uma maneira indirecta, mas efectiva, toda a alta politica da governação.”
É por estas e por tantas outras que eu me assumo à margem do sistema. Estou-me nas tintas para este circo, esta "guerra" não é minha. Repartam os lugares nos bancos, nos institutos públicos, saqueiem tudo o que possam à conta da ignorância e do acriticismo nacional. Por mim, tenho um projecto de vida para chutar para a frente, com muito trabalho e sem favores de ninguém. Mas quando a ganância dos apaniguados esquece o pudor e descrição que é devida ao ladrão, eu revolto-me. Profundamente. Mas para alívio interior concentremo-nos no essencial, que é o Natal que se celebra já daqui a nada.
.
Fontes: Maria Cândida Proença, Léon Poinsard e Rui Ramos


13 comentários

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De João Távora a 26.12.2007 às 20:53

Caro Luis: Vou indagar onde pode arranjar uma cópia do "estudo". Le Portugal Inconnu, Paris, 1910.
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De João Távora a 26.12.2007 às 20:49

Caro Manuel da Mata: Eu nunca desisto, a minha luta é por outros caminhos como sabe. E não espero resultados fáceis ou imediatos.
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De Manuel da Mata a 26.12.2007 às 12:14

Sr. João Távora,

Sei que no plano prático temos imensos pontos de contacto.
No mínimo, ambos desejamos bem à pátria.
Discordo, todavia, quando, no fundo, me perece um desistente. E isso eu não sou e penso que o Senhor também não.
Votar ou não votar, por exemplo, é muito pouco para exercer a tempo inteiro a cidadania.
Não desista!

Cumprimentos e boas festas.
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De Cristina Ribeiro a 26.12.2007 às 12:07

"Era desejável que se dissesse, alto e bom som, que este rotativismo laranja-rosa é o principal culpado por esta "tralha" "; mas é que subscrevo sem reservas! E foi quando se deparou com uma "tralha" assim que D.Manuel II procurou encontrar a cura...
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De João Távora a 26.12.2007 às 11:50

O que encontro de substantivo nos seus comentários, Sr. Manuel da Mata, vem de encontro às minhas ideias, ao meu desabafo – ainda bem pois a realidade é o que é.
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De Anónimo a 26.12.2007 às 03:31

«(...)Mais, era imperioso que se dissesse o que efectivamente fede neste reino da Dinamarca e que se apontassem caminhos para o futuro. Não basta como alguns "entrujas" dizem, enquanto se vão amanhando, que a democracia tem defeitos, mas que é o menos mau dos regimes(...)».
Subscrevo absolutamente !
Mas estará, hoje, ou esteve ontem, algum "Bragança" na Chefia do Estado ?
Não esteve. Então é porque o problema é completamene outro, não é assim ? E qual será, qual será, sendo que é rigorosamente o mesmo do do tempo dos "Braganças" ?
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De Manuel da Mata a 25.12.2007 às 17:31

Sr.ª D. Cristina Ribeiro,

A Senhora sabe que os Bragança chefiaram o Estado português durante 270 anos e que quando a República pôs fim à 4ª dinastia o país estava como todos sabemos que estava e esse é o facto relevante. O resto é sempre um "supúnhamos", onde a Senhora cai e eu também.
E pouco adianta também o permanente falar dos amigalhaços, dos carreiristas e dos "boys", quando apenas queríamos que fossem outros e não estes a sugar a teta e a impedir o progresso da pátria.
Era desejável que alto e bom som se dissesse, por exemplo, que este rotativismo rosa-alaranja é o principal culpado por esta "tralha" toda que vai minando a própria democracia. Mais, era imperioso que se dissesse o que efectivamente fede neste reino da Dinamarca e que se apontassem caminhos para o futuro. Não basta como alguns "entrujas" dizem, enquanto se vão amanhando, que a democracia tem defeitos, mas que é o menos mau dos regimes.
Não tenho, nota-se, nenhuma simpatia pelos Bragança, mas tenho a inteireza de reconhecer os méritos de alguns deles.E para rematar: os Bragança tolos foram vários e a Senhora sabe.
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De cristina ribeiro a 25.12.2007 às 16:16

Sr.M.da Mata, o que relevo daqui,antes do mais, é o facto de ter havido alguém que procurou saber o que era necessário mudar para que em Portugal se prosseguisse uma "política regenerativa e de fomento nacional", o que depois mais ninguém fez.
Quanto ao podermos ter tido um rei tonto porque D.Manuel II não teve descendência, li ainda há pouco tempo que D.Luís Filipe estava ainda melhor preparado, como é próprio do príncipe herdeiro, para conduzir o futuro do País. Mataram-no.
Estou a entrar no campo das hipóteses? É o que o senhor M.da Mata faz quando diz "podíamos ter outro rei tonto" ...;assim como podíamos ter "outro" D.Pedro V, um Homem iluminado, que deixou muitas saudades...
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De Manuel da Mata a 25.12.2007 às 12:50

Sr.ª D. Cristina Ribeiro,

A Senhora assume esses ares crédulos perante o artigo do seu colega de "Blog", como se ignorasse que a História é o que é e não o que podia ter sido.
Recomendo-lhe vivamente - e de graça - um livro do meteorologista Manuel Costa Alves, "TUDO PODIA SER DIFERENTE", editado pela Ulmeiro e aí encontrará um sem número de casos da História que, se tivessem sido diferentes, tinham mudado o rumo d mundo.
Os Bragança chefiaram o Estado português durante 270 anos. E que nos deram os Bragança? Deram-nos um príncipe alemão, FernandoII, e D. Pedro V. Este último, que reinou pouco tempo, deixou obra.E Pedro II, que teve que substituir o irmão louco e depravado.
Manuel II, quando encomendou o trabalho a Poinsard, já tinha as barbas de molho. Releve-se, todavia, o seu trabalho no exílio, durante a 2ª Guerra Mundial de auxílio aos portugueses envolvidos na dita guerra. E nomeadamente a sua vocação de bibliófilo.
E para terminar dir-lhe-ei: ainda bem que houve o 5 de Outubro, porque se não tivesse havido, podíamos ter outro tonto na chefia do Estado.Manuel II não deixou herdeiros.
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De j.c. a 25.12.2007 às 11:54

Certo, Cristina. O Rei a prazo preocupou-se e encomendou o estudo a quem estava preparado para o fazer, que não os conselheiros amigalhaços, nem os fazedores de estudos de mercado afilhados, nem os mentores de pareceres compadres, nem os 'boys' que querem os 'jobs' fáceis.

Mas foi sol de pouca dura. Já D. Carlos não se inibia de ver Portugal como um país de parolos, de gente inculta e saloia, como se nada houvesse que dependesse dele. Depois do Senhor D. Manuel II, eclodiu a República que há muito se adivinhava e sobreveio um longo 'PREC' que deixou tudo por fazer, como qualquer 'PREC'.

A única diferença, porventura, estava na existência de um número considerável de ingénuos puritanistas republicanos, bem intencionados, que perdiam fortunas com a política. Hoje, ganham-se fortunas com a política. E o sistema mantém-se: como antes, não é preciso haver quem se preocupe; basta haver motivos para preocupações que sustentem estudos encomendáveis aos afilhados, aos amigalhaços, aos compadres, aos 'boys'. Estudos a sério e vontade de dar a volta? Ah! Isso eram coisas do D. Manuel II, que conhecia bem a realidade dos europeus mais avançados quando se viu Chefe de Estado do Portugal moderno que só precisava de modernizar-se. Foi encomendar um estudo a um especialista estrangeiro? Os afilhados, os amigalhaços, os compadres e os 'boys' fizeram-lhe logo a cama...

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