Corta-fitas

Confesso que nem sei bem o que é a Empire, presumindo apenas que seja uma publicação especializada em cinema. Pode ser que o seja, mas em televisão não é especializada de certeza.

Esta medíocre lista é-o tanto mais porque está repugnantemente contaminada pelo factor geracional, leia-se pelo factor actualidade. Incrível a quantidade de séries escolhidas que são do presente século.
Esta lista não é apenas medíocre, é um insulto ao que a televisão pode ter, e tem, de bom. Esta lista é a negação do seu próprio título "As 50 melhores de SEMPRE". Esta lista é a negação da memória, logo é a negação do conceito de lista, enquanto selecção de objectos artísticos de valia intemporal e universal.

Já foi comentado: obras geniais como "Brideshead Revisited" não interessam. Ou outra da mesma época: "A Jóia da Coroa". Pode ser repisadíssimo, mas se há domínio artístico em que a Grã-Bretanha é imbatível é precisamente nas séries televisivas. Repito-o até que a voz me doa.
Então "Yes, Minister" não é uma das 50 melhores séries de sempre? E para continuar na comédia, "Mr. Bean" e "Absolutely Fabulous" não põem num chinelo metade desta "pífia" selecção? E as irrepreensíveis policiais britânicas, desde o Sherlock Holmes e o Poirot até àquela com a Helen Mirren de que não me lembro o nome (coisa para que também uma lista destas devia servir)? E os divertidíssimos "Vingadores"? E "I, Claudius" e a muito recente "Rome"? Não são marcos na história da televisão? E as toneladas de seriíssimas adaptações literárias inglesas? Nada disto vale para correr a pontapé uma das três versões (3!) do "Star Trek",ou aquele remake duma bosta fatal chamado "Galactica"?

Dir-se-ia "America Rules", tornando fisicamente impossível reconhecer produtos doutras línguas, como "La Piovra" ou "Willem van Oranje". Mas é que nem isso. É mesmo "Today Rules". Porque, como frisou o Pedro Correia, "Columbo" está out. Como, acrescento eu, estão fora "All in the Family", "O Fugitivo", "Maude", "The Twilight Zone"... The Twilight Zone!!!...
Está fora "Parker Lewis" a primeira série de elenco humano realizada e montada como desenhos animados. E está fora "The Young Indiana Jones Chronicles", esse portento spielberguiano de aventura, entretenimento e instrução!

Só que nem mesmo descontando a ditadura do presente americano, e a falta de memória, esta lista se safa. A melhor série americana recente que vi, "Weeds", também não entra. E nem na porra do "House" estes gajos acertam (sempre é a série que me tornou suportável o subgénero "hospitais").

Os "Simpsons" em primeiro e os "Sopranos" em terceiro são milagrosos acasos. Não nos esperancemos, pois aqui eles não são mais do que a côdea a envolver o fiambre tóxico da "Buffy". Reparei, entretanto, que a selecção é um voto dos leitores. É como li quando era pequenino, não sei de que autor, que o gosto das massas é invariavelmente atroz. Pouco importa, se estas são as massas que lêem a Empire, caro Pedro Correia, mil vezes grato por me alertar para jamais gastar um cêntimo com essa publicação.