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Um livro: As Lições dos Mestres, de George Steiner. Sem dúvida uma das obras intelectualmente mais estimulantes que tenho lido nos últimos anos. Fala de assuntos velhos como o mundo: a capacidade de legar conhecimentos, a relação entre mestres e discípulos, o prazer de aprender, o comportamento tantas vezes dúbio dos detentores da sabedoria. Vem dos gregos, chega aos nossos dias.
É também uma arguta reflexão sobre as teorias pedagógicas contemporâneas, responsáveis por tanta deseducação à solta por aí. Neste aspecto, Steiner chega a ser brilhante.
Deixo-vos com um saboroso parágrafo, que transcrevo com a devida vénia da versão portuguesa da Gradiva (tradução de Rui Pires Cabral):
"Aquilo que sabemos de cor amadurecerá e desenvolver-se-á dentro de nós. O texto memorizado interage com a nossa existência temporal, modificando as nossas experiências e sendo dialecticamente modificado por elas. Quanto mais vigoroso for o músculo da memória, melhor protegido estará o nosso ser integral. O censor ou a polícia do estado não podem extirpar o poema memorizado. Nos campos da morte, certos rabinos e estudiosos do Talmude eram conhecidos como ‘livros vivos’ cujas páginas podiam ser ‘consultadas’ por outros prisioneiros em busca de um conselho ou de uma palavra de consolo. A grande literatura épica, a dos mitos fundadores, começou a declinar com o ‘progresso’ em direcção à escrita. Por tudo isto, a rejeição da memória no actual sistema escolar é de uma flagrante estupidez.”
Nem mais.
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