Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Kosovo: a Europa desunida

por Pedro Correia, em 27.02.08

Alguém aí falou em Europa unida? Por estes dias, o confrangedor espectáculo dos dirigentes europeus sem uma política concertada e coerente sobre a “independência” unilateral do Kosovo vem exibir com nitidez os limites da chamada “construção europeia”, ficção política sem tradução prática sempre que estão em causa os sacrossantos interesses nacionais no Velho Continente. A “Europa” divide-se quanto ao Kosovo: enquanto Alemanha, França, Itália e Reino Unido, a reboque de Washington, se apressam a aplaudir esta “independência” sem suporte jurídico internacional, países como a Espanha, a Grécia, Chipre, a Bulgaria e a Roménia já anunciaram que não reconhecerão o Kosovo como estado independente. Nuns casos joga-se aqui a esfera de influência russa: Moscovo não tolera o corte de laços políticos entre o Kosovo e a Sérvia, que abre um precedente às reivindicações autonómicas dentro do seu próprio território. Espanha, confrontada com a explosão quase incontrolada das “nacionalidades” no seu interior, também não quer tal precedente. E Atenas sabe bem que um Kosovo “independente” dá mais fôlego à chamada República Turca do Norte do Chipre que Ancara pretende impor desde 1974, contra a vontade dos cipriotas gregos.

O Kosovo pode ser um vírus pronto a alastrar na Europa. Veja-se a Bélgica, prestes a implodir devido ao interminável conflito entre flamengos e valões. Repare-se nos húngaros que se agitam na Voivodina e na Transilvânia. Ouça-se o clamor de bascos e catalães. Dentro das próprias fronteiras dos estados que se apressaram a reconhecer o Kosovo não faltam pulsões nacionalistas – desde a Escócia, cada vez mais distante de Londres, à Córsega e ao País Basco francês, já para não falar nas eternas clivagens regionais no frágil estado italiano e dos problemas territoriais entre a Polónia e a Alemanha.

Em pleno século XXI parece às vezes que recuámos duzentos anos na História. Eis-nos novamente no início do século XIX, nacionalista e fragmentário. Só nos falta um Lorde Byron, tendo numa mão a espada e noutra a pena…

Tags:


8 comentários

Sem imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 27.02.2008 às 18:47

O Pedro sabe que também tenho, não num blogue mas na cabeça, uma rubrica "gostei de ler" (tenho de pagar direitos de autor? :) )?. Este já cá canta...
Sem imagem de perfil

De hajapachorra a 27.02.2008 às 21:54

Oh diacho! A coisa está preta... sobretudo para os belgas, coitados, pois se até os 'francos' e os 'valões' andam à cachaporrada entre eles... Sorte a dos flamengos e outros batavos. Ó Pedro, deixe-me adivinhar, vossemecê é jornalista, não é?
Sem imagem de perfil

De Cartas de Londres a 28.02.2008 às 03:42

Em pleno século XXI parece às vezes que recuámos duzentos anos na História. Eis-nos novamente no início do século XIX, nacionalista e fragmentário. Só nos falta um Lorde Byron, tendo numa mão a espada e noutra a pena…

Olhe que não, caro PC, olhe que não... ;-)

Sem imagem de perfil

De Ana Duarte a 28.02.2008 às 08:38

Excelente análise. Não podia estar mais de acordo.
Sem imagem de perfil

De Manuel Leão. a 28.02.2008 às 10:40

Não tenhamos ilusões. Aos EUA não interessa uma Europa Unida. Economicamente são concorrentes. E isso, nos dias de hoje, é que é determinante. O assunto Kosovo é predominantemente Europeu, mas são os States que o lideram, com a cumplicidade dos políticos do velho continente. Criam tensão na Europa e fazem com que fiquemos a ver passar os comboios.
Até quando?
Sem imagem de perfil

De J.C. a 28.02.2008 às 14:48

Na situação aqui muito bem retratada, talvez possa ver-se como é importante e urgente a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Especialmente se não tiver vigor e ninguém o cumprir...
Sem imagem de perfil

De Manuel Leão. a 28.02.2008 às 16:00

Até acredito que esteja convencido disso.

Mas não é o Tratado de Lisboa que vai mudar este panorama. Antes fosse.
Imagem de perfil

De Pedro Correia a 28.02.2008 às 16:20

Ó hajapachorra, agradeço a sua atenção: fiz a emenda. Só quem não escreve não erra. Espero que não seja esse o seu caso: as pessoas infalíveis são muito chatas.

Comentar post



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Filipe Bastos

    Perante resposta tão fundamentada, faço minhas as ...

  • Filipe Bastos

    O capitalismo funciona na base da confiança entre ...

  • anónimo

    "...Ventura e António Costa são muito iguais, aos ...

  • lucklucky

    Deve ser por a confiança ser base do capitalismo q...

  • lucklucky

    "que executem políticas públicas minimalistas, dei...


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2023
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2022
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2021
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2020
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2019
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2018
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2017
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2016
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2015
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2014
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2013
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2012
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2011
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2010
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2009
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2008
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2007
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2006
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D