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Um amigo meu, militante do PSD ao longo de 30 anos, enviou agora a Ribau Esteves a sua carta de adeus ao partido. Conheço-o desde 1984. Durante todo este tempo, vi-o oferecer muitas e boas ideias que ou ninguém aproveitava ou outro alguém parasitava. Em simultâneo, observei como era convidado para cargos de relevo por personalidades socialistas ou independentes, que lhe reconheciam o valor que os seus companheiros partidários desdenhavam. Porque não fazia vida de secção, não bajulava pela sede e acreditava na meritocracia, o meu amigo demorou três décadas a perceber o óbvio. Mesmo assim, estive a ouvi-lo ao telefone durante meia-hora como quem ouve a penosa descrição de um luto recente. Podia tê-lo consolado com esta passagem do nosso Eça:
«Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse. A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva».
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