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Antigamente comprava-se um ou outro jornal quotidianamente, diário ou semanário, consoante o atractivo que apresentava, escolhido por causa dum colunista específico ou algum assunto destacado na capa. Gosto muito de ler jornais, por isso hoje teimo comprar um semanário ao fim de semana e assino um jornal online para a família toda, independentemente dos conteúdos diários que apresente. A minha escolha reduzida.
Salvaguardadas as diferenças, confesso que esta greve dos jornalistas se assemelha demasiado a um protesto de chapeleiros nos anos sessenta. Infelizmente.
Mais que ripostar ou atender à verborreia chantagista de André Ventura, o que compete ao futuro Governo é responder de forma peremptória, pragmática e perceptível, às expectativas do eleitorado descontente que emergiu em grande medida da abstenção e das periferias sociológicas e geográficas do nosso país – os desistentes. Ao contrário do que nos querem fazer crer as elites urbanas, não se tratam de reivindicações ideológicas aquelas que nos trazem os descamisados que hoje eleitoralmente transitam de um extremo para o outro do protesto, ou que simplesmente se sentiram atraídos pela mensagem zangada do Chega: uma justiça operante e imparcial não é de direita ou de esquerda, a ordem e segurança pública não são assuntos de direita ou de esquerda; medidas de regulação da imigração e políticas profiláticas contra guetos de estrangeiros não são de direita nem de esquerda; um SNS de saúde eficiente para todos não é de direita nem de esquerda, como o não é um sistema de ensino livre, democrático e competente.
Os resultados eleitorais e as primeiras declarações dos seus belicosos actores indicam-nos um cenário de aparente caos e ingovernabilidade, que é o terreno ideal para o crescimento da discórdia e das propostas populistas. Por outro lado, a arte da política numa democracia madura e civilizada consiste na descoberta de pontes e de saídas para imbróglios aparentemente insanáveis. O governo que sair deste parlamento tem de ter como objectivo primordial surpreender-nos a todos com a implementação de soluções perceptíveis.
Mãos à obra, que os cães ladram e a caravana passa.
Esta campanha eleitoral ficará para mim marcada por um acontecimento lateral, perturbador, acontecido em França há uns dias: a quase unânime consagração constitucional do direito ao aborto. França há muito que se distingue por inaugurar as mais sinistras modas. Que este tema filosoficamente complexo, de claro conflito de legitimidades, seja assim arrumado de forma simplista como se de um assunto de mera liberdade individual se tratasse, diz muito do caminho que a civilização ocidental vem tomando. Por cá, entristeceu-me assistir ao vivo e a cores à gradual capitulação das forças políticas tradicionalmente conservadoras face aos temas morais e éticos fundacionais da nossa cultura. O júbilo das domésticas minorias progressistas na conquista do centro político, sempre vulnerável às modas era previsível, mas triste. Cuidado, amigos: o hiperindividualismo mata.
Mudando de assunto, tenho esperança de que no Domingo o resultado das eleições resulte no sentido da mudança por cá: que vença um caminho para a libertação do país da repressão estatista que bloqueia a eficiência dos serviços públicos como os hospitais, as escolas, os transportes, enfim; a criação de riqueza e emprego que convida os nossos jovens à emigração. Com os resilientes socialistas a morder os calcanhares à AD nas sondagens, tenho esperança que não venha a ser o Chega a impedir uma solução de governo sólido para reformar, capaz de enfrentar as vicissitudes dum panorama internacional instável, uma dívida ainda sufocante com taxas de juro inflaccionadas, e duma oposição esquerdista, que não poupará energias vocais para agitar a rua por forma a manter o statos quo do empobrecimento socialista e dos pobres com que se alimenta e autojustifica.
Não se espere uma revolução mágica com a hipotética derrota das esquerdas, que Roma e Pavia não se fizeram num dia. Mas acredito que com um governo AD, capaz de convocar os melhores na academia e nas empresas para o serviço público, seja possível a Portugal sair da cauda da Europa. Para que, sem fantasias, se devolva algum entusiasmo aos portugueses que desejem assumir o protagonismo nos seus destinos, construindo um futuro melhor para todos.
Paulo Núncio, convidado para um debate em Lisboa promovido pela Federação Portuguesa pela Vida (FPV) fez a seguinte afirmação: “Depois da liberalização ter sido aprovada por referendo, embora não vinculativo, mas com significado político, é muito difícil reverter a lei apenas no parlamento. Acho que a única forma revertermos a liberalização da lei do aborto passa por um novo referendo”. Curioso é que esta posição, afirmada no seu contexto próprio, choque e surpreenda tanto a bolha das redacções, cativa nos seus preconceitos ideológicos e em intrincadas contas de mercearia e cenários eleitorais.
Também é estranho que, mesmo sendo eu testemunha de todos os actos eleitorais havidos em democracia, nunca tenha reparado que os candidatos dum partido em coligação durante a campanha estivessem impedidos de deixar escapar sinais, ou referências a causas que os identificam ideologicamente, cingidos a um programa eleitoral. Repare-se por exemplo como em 1979 a AD alcança a maioria absoluta exibindo a sigla explicita de um partido monárquico...
Pela minha parte fico muito contente com os sinais que este “caso” fez transparecer de dentro do CDS, que sempre acolheu no seu seio muitos católicos e ainda se afirma hoje como um partido democrata cristão. Pela minha parte apraz-me muito que Paulo Núncio, liberto de calculismos eleitoralistas, tenha aceitado sem receios participar no dito debate organizado pela FPV, e tenha falado sem constrangimentos. De resto, a prova de que o tema do aborto não está fechado, é a posição que foi assumida pela ex-deputada do PAN Cristina Rodrigues que é agora candidata em lugar elegível pelo Chega que propôs, imagine-se, o alargamento do prazo para o aborto livre de 10 para 16 semanas.
Finalmente, para quem vive a calcular cenários e predisposições dos eleitorados, que considera terem constituído as declarações de Paulo Núncio um “tiro no pé” da AD, receio que se enganem redondamente ao interpretar o tal “centro” político, os potenciais votantes numa coligação entre PSD, CDS, PPM, como militantes pró-aborto. Senhores comentadores, senhores jornalistas, abram as janelas das redacções e deixem entrar oxigénio na bolha que vos sufoca.
Vai-se a ver, e no final das contas o “caso” abriu o discurso da AD, deu-lhe abrangência política e eleitoral. É para agregar que serve uma coligação “de partes”, capazes de dialogar entre si.
Gostei muito da intervenção de Passos Coelho ontem no Algarve. Abriu o discurso da AD, deu-lhe ambição e abrangência política. Do que eu gostei mais foi da alusão aos oito anos de “gestão de crise” de António Costa, do improviso assistencialista, e da urgência de devolver confiança aos portugueses de se atreverem a tomar conta dos seus destinos – tomarem nas suas mãos o governo das suas vidas. Também gostei da referência à necessidade de regulação da imigração, neste país que se vai tornando a porta de serviço da Europa, e do sentimento de insegurança que vai medrando nalgumas regiões ou zonas das nossas cidades. Agora só falta o Nuno Melo dizer qualquer coisa de direita, por exemplo, afrontar a cultura Woke das esquerdas, acorrer à defesa da Família Natural, ou a Ecologia Humana, cristã.
O recado ficou dado: depois de oito anos de desmandos socialistas e uma implosão por “indecente e má figura”, Passos Coelho acredita que “o resultado natural é a vitória da AD. Acho que o Luís Montenegro vai formar governo, é a minha convicção”.
Não acredito em governos messiânicos e a vida ensina-nos que a política “é a arte do possível”, em confronto com as contingências de cada momento; pelo que a prespectiva dos portugueses iniciarem um processo de libertação das grilhetas do Estado socialista já é um bom ponto de partida.
Confesso-vos que quase não assisti aos debates, terei testemunhado pequenas partes de um ou de outro, do qual depressa me desliguei, não só porque ando sempre muito ocupado, mas para poupar a minha tensão arterial - ou simplesmente por respeito à “Psicologia da natureza”, um conceito que aprendi com a minha Tia quase nonagenária. Ao contrário dos virtuosos guerrilheiros das redes sociais, para acompanhar e avaliar as prestações, socorri-me dos resumos e das diferentes orquestras de comentadores nos canais de notícias, a quem me atrevo a agradecer o trabalho sujo a que me pouparam. Acontece que, com esta medida profilática, quero atingir a longevidade da minha Tia. Não me posso enervar.
Portanto, ao fim de duas semanas de debates, tenho muito mais a dizer dos comentadores que dos candidatos a primeiro-ministro. Ou não, que isso não existe em Portugal; elegemos os nossos representantes num parlamento, que durante talvez uma legislatura, darão suporte a um executivo que administrará o nosso fado. Talvez por isso, e porque os comentadores são fundamentais nesse processo, sempre a zurzir opiniões escritas e faladas, indicando-nos os pontos cardeais do “estado da arte” da nossa (des)fortuna, os acho tão decisivos para o nosso destino comum e merecem a minha homenagem. Sem ironia. Eles representam grosso modo, a Ágora da nossa Polis, sintetizam os nossos preconceitos e medos, as nossas virtudes e defeitos, o atraso e o progresso das nossas vidas. Os influencers encartados, uns políticos outros jornalistas (uma distinção nem sempre óbvia). Claro que, dentre os jornalistas, prefiro ouvir aqueles mais perspicazes e profundos, que tiveram tempo para ler livros, conheçam a nossa História (vê-se logo quando estão limitados aos livros do secundário) que se esforçam por ser mais independentes da última moda, em dizer alguma coisa original, que não se dilua na espuma dos dias.
Ora, acontece que, se o nosso sistema partidário aparenta finalmente, após 50 anos sob o fim do Estado Novo, capacidade para acolher um partido nos moldes do outro extremo do espectro, o mesmo não acontece com o comentário televisivo, o que é uma pena pouco democrática. A irracionalidade patenteada por demasiados jornalistas na análise dos debates com o Ventura causaram-me vergonha alheia, e pergunto-me se perceberam que se limitaram a ser os idiotas úteis do Chega e de cada vez mais gente desfavorecida pelos donos do regime, revoltada porque não tem voz.
Os países mais civilizados, com comunidades envolvidas no auto-governo, com instituições sólidas e uma Administração Pública suficientemente autónoma, tendem a dispensar um Governo Central, que para os portugueses ainda é uma espécie messiânica que tudo irá planificar para nos resolver as frustrações e carências.
Verdadeiramente a uma Nação adulta bastar-lhe-ia o Rei a zelar pela Rés publica.
Onde estava o Ventura e a maioria dos seus apaniguados "anti-sistema" de agora, quando uma boa parte de nós, há décadas, estava a lutar contra o socialismo, no cuidado com os mais desfavorecidos, pela liberalização da economia, pelo auto-governo, a dar a cara e arriscar a sua pele e carreiras profissionais na luta pelos princípios da civilização cristã? Contra o aborto, pela tradição, contra o relativismo e pela família natural, base da comunidade concelhia e nacional?
A maior capacidade do Ventura tem sido dividir famílias, gerações e amigos. A favor de polícias, agricultores, reformados, naturalmente frustrados.
Definitivamente os fins não justificam os meios. E o meu sangue é muito velho para acreditar nas balelas de um vulgar oportunista.
É a tentação revolucionária latina que paulatinamente nos direcciona para a mediocridade e pobreza. Um círculo vicioso que só é possível quebrar com nobreza nos principios e preservança nas acções. A política é a arte do possível.
A tentação do radicalismo pode proporcionar um prazer imediato de vingança. Mas ao longo da nossa história significou a nossa desgraça. Não é por acaso que as monarquias só sobrevivem nos países que resistiram aos extremismos, onde prevaleceram consensos. Civilizados.
Li por aí que se calcula terem já habitado a Terra cerca de 108 biliões de pessoas, considerando o ponto de partida há 50.000 anos, com o “casal inicial”. Para se chegar a este número foram usados dados históricos e arqueológicos, bem como estudos da ONU sobre o aumento populacional ao longo da história. Mais curioso para nós leigos, é que o método usado pelo demógrafo Carl Haub do Population Reference Bureau não tenha sido aquele que aparentemente seria mais lógico regredindo nas gerações e somando todos os ascendentes de cada um dos 7 biliões de seres humanos actualmente vivos. A formula usada foi o de uma pirâmide com início no ano 50.000 a.C., a partir do "casal inicial" da nossa espécie (Adão e Eva?), e cujos descendentes se multipliquem até chegar aos actuais 7 biliões.
Se a demografia é uma matéria fascinante, atrai-me mais conjecturar sobre a questão existencial que o assunto levanta. Ou seja, por este estudo semicientífico (porque segundo leio implica alguma especulação) já viveram na Terra 108 biliões de pessoas como eu, como cada um de nós, seres únicos e irrepetíveis, cada vida uma história particular, cada um com o seu drama, tragédias, alegrias e tristezas, dores e consolos. Como é que é possível que esta criação não possua um sentido existencial superior é algo que parece não fazer qualquer sentido. É ilógico reduzir-se a humanidade a um mero acaso. A consciência de nós mesmos, o anseio de liberdade, o desejo de amor e de beleza, multiplicado por tantos indivíduos únicos e irrepetíveis que alicerçam a nossa História, reclama um sentido superior à nossa existência. Jesus Cristo afirmou-o e lançou o mote para a modernidade: “E quanto aos muitos cabelos da vossa cabeça? Estão todos contados” (Mateus 10:30). Cada pessoa como templo único e irrepetível de Deus.
Acabou finalmente, por alguns meses, a ruidosa especulação à volta da venda de Viktor Gyökeres. Foram mais de seis semanas de entretenimento de muitos comentadores remunerados, nos jornais e televisões, com o intuito de esmifrar o publico em lucubrações numa não notícia. O fenómeno percebe-se: o jornalismo, vivendo uma profunda crise, não poderia deixar de explorar o filão duma potencial transferência que esteve longe de acontecer. Afinal, a “não notícia” reunia o interesse do grosso dos adeptos do universo da bola: por um lado afligindo os sportinguistas incautos, e por outro alimentando expectativas aos seus adversários. Foram litros de tinta e horas de sagazes cometários que se irão desvanecer rapidamente na espuma do esquecimento. Afinal também foi para isto que se fez o 25 de Abril.
Mas a mim interessa-me principalmente o fenómeno Gyökeres em campo. Serão certamente lugares-comuns os adjetivos a aplico à arte com que o jogador nos surpreende a cada jornada. A força brutal aliada à técnica refinada e resistência resulta mesmo um caso raro. Vê-lo, quase ao fim do jogo, fazer um sprint para recuperar uma bola na defesa, ou esgadelhar-se para marcar só mais um golo é um deleite para quem gosta de futebol. Dou Graças a Deus de ter vindo para o Sporting, e da felicidade que transparece pela experiência. O seu sorriso ao final de cada partida bem-sucedida denuncia um entusiasmo benignamente infantil. Dizem-me que já arranha a língua de Camões e que a namorada é portuguesa.
Finalmente, Gyökeres evidencia uma estampa politicamente incorrecta que me apraz de sobremaneira: aparentando uma escultura clássica, sem ostentar no corpo tatuagens ou outros artifícios, transmite sobriedade, a contrariar a imagem de decadência do europeu médio. Como um atleta chegado do Olimpo.
Rezo para que a sua experiência seja muito feliz entre nós.
Publicado originalmente aqui
No sábado passado, inadvertidamente na Almirante Reis, cruzei-me com a manifestação organizada pela plataforma Casa Para Viver. Confesso que, enredado no meio daquela fauna raivosa, até fiquei com saudades das manifestações revolucionárias dos anos 70 e 80, com homens de barba rija e mulheres de peito feito a reclamar a Ditadura do Proletariado. Com tantos malucos à solta a manifestar-se por causas absurdas (provavelmente fascistas da mesma laia dos que queimaram o cartaz do Chega), custa-me entender que haja gente tão preocupada com ciganos e imigração de muçulmanos. Acontece que a maior ameaça à civilização, hoje como ontem, está entre os “nossos”.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem». O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele. Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!». E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia.
Palavra da salvação.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus. Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.
Palavra da salvação.
Talvez fosse importante perceber o que motiva o leitor na era digital a comprar um jornal. Confesso que, talvez por comodismo, há muitos anos que compro o Expresso, que, para lá de alguns colunistas que me habituei a seguir, cada vez menos me vem surpreendendo com algum trabalho de verdadeiro interesse. Já me tem acontecido comprá-lo e esquecer-me de o ler.
Dizia alguém há dias numa rede social que a razão da crise nos jornais em particular e no jornalismo em geral é que, perante a profusa circulação de informação, mediada ou não, que a Internet disponibiliza, já pouca novidade se encontra num jornal. Se esse dado parece inegável, o pior ainda é a perda de autoridade ou reputação das publicações quando veiculam trabalhos jornalísticos, a maior parte das vezes pouco sérios, e quase sempre parciais, sob a perspectiva da bolha intelectual do mainstream que nos apascenta a partir do Terreiro do Paço ou de Bruxelas – mera propaganda do status quo. O problema é não perceberem que, estando as audiências a minguar de dia para dia, os poucos que sobram merecem mais qualquer coisa do que o débito de preconceitos preguiçosos, pouco fundamentados e sem contraditório. Se tivermos em consideração que as gerações até aos 30 anos simplesmente não lêem jornais e não vêm televisão, percebe-se que é inexorável o fim do modelo de negócio das notícias como existiu durante o século XX, e por maioria de razão num mercado de consumidores exíguo como português. Pior, não perceberem que têm de tratar os poucos leitores como pessoas exigentes e informadas é um erro fatal.
Antes de terminar, confesso uma fraqueza: sempre gostei muito de jornais em papel, e tenho imensa pena que o seu tempo esteja a acabar. Por isso partilho aqui o exemplo do que não é admissível por parte dum jornal generalista como o Expresso, o recorte que aqui apresento no topo é retirado dum artigo publicado na última revista. Não se compreende que aquele semanário pretenda tomar parte na campanha eleitoral dos EUA, muito menos se entende como os leitores que pagaram 5,00€ pelo jornal não mereçam mais consideração, por exemplo no tratamento de questões complexas como as eleições americanas ou as alterações climáticas com um pouco mais de sofisticação. Ou então o Expresso pretende ser um mero panfleto publicado para os amigos, para contentar uma bolha cada vez mais pequena, envelhecida e… isolada da realidade.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, estava João Baptista com dois dos seus discípulos e, vendo Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus». Os dois discípulos ouviram-no dizer aquelas palavras e seguiram Jesus. Entretanto, Jesus voltou-Se; e, ao ver que O seguiam, disse-lhes: «Que procurais?». Eles responderam: «Rabi – que quer dizer ‘Mestre’ – onde moras?». Disse-lhes Jesus: «Vinde ver». Eles foram ver onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era por volta das quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, foi um dos que ouviram João e seguiram Jesus. Foi procurar primeiro seu irmão Simão e disse-lhe: «Encontrámos o Messias» – que quer dizer ‘Cristo’ –; e levou-o a Jesus. Fitando os olhos nele, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas» – que quer dizer ‘Pedro’.
Palavra da salvação.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.
Palavra da salvação.
Já tinham acontecido durante quase todo o ano passado perante a indiferença geral do país, as greves sistemáticas da CP e paralização dos comboios. Se não eram dos maquinistas eram dos revisores, se não eram dos revisores eram dos trabalhadores das infra-estruturas. Evidentemente que se trata de uma pequena amostra dum país disfuncional, em que as pessoas, em regra pobres, aceitam conformadas o triste destino de precisar de serviços que dependam do Estado. Da Saúde aos Transportes, da Justiça ao Ensino, coitados dos mais desfavorecidos. Não é propriamente o meu caso, mas, para uma família como a minha, que mora perto do Estoril, é profundamente perturbador, se não infernal, o jogo a que nos sujeitamos para nos deslocarmos a Lisboa. Nunca se sabe quando os comboios estão ao serviço da população ou ao serviço das carreiras e interesses dumas centenas de funcionários privilegiados com renda garantida. Evidentemente quem mais sofre são os miseráveis que não tem alternativa aos transportes públicos, aqueles que têm horários a cumprir, com trabalhos humildes e braçais. Esta situação é uma chocante injustiça que o socialismo, em obediência à “ética republicana”, há demasiado tempo submete os portugueses enquanto os suga em impostos. Ao mesmo tempo os jornais e os canais de notícias à noite entretêm a minoria fidalga nos sofás a debater o charme e as virtudes dos personagens que há oito anos nos aprisionam nesta vil miséria.
Ou isto muda ou qualquer dia acaba mal...
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor. Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito. Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino, para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo». O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que d’Ele se dizia. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações». Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela e viúva até aos oitenta e quatro. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações. Estando presente na mesma ocasião, começou também a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Entretanto, o Menino crescia, tornava-Se robusto e enchia-Se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele.
Palavra da salvação.
Imagem: Murillo (1617-1682)
Em 1893, num período de grande agitação política subsequente ao Ultimato, à revolta republicana no Porto em plena ascensão do republicanismo em Lisboa, o meu bisavô homónimo João de Lancastre e Távora envolvia-se publicamente numa polémica, através duma carta publicada no jornal “Novidades”, com o presidente do partido Legitimista de que era destacado membro, o Conde de Redinha. Acontece que este tinha publicado dias antes um artigo de fundo no jornal “A Nação” em que defendia existirem “afinidades espirituais” entre “Tradicionalistas” e “Republicanos”, uma “solidariedade moral que a ambos estes partidos assiste para demolirem o sistema que nos rege”. Nesse artigo, entre outras opiniões o conde justificava o 31 de Janeiro como “uma reacção natural contra a decadência que nos atrofia a alma dos portugueses”. Retorquia-lhe o meu bisavô: “Por mim, meu caro conde, além da dedicação inabalável pela pessoa do Senhor Dom Miguel, que na minha família é tradicional, a principal razão que eu encontro de ser legitimista é precisamente por achar nos ideais políticos deste partido a forma mais oposta à republicana, e também por me parecer que os meios de alcançar os fins dum e de outro partido devem ser absolutamente diferentes. Sendo este o meu modo de pensar, resolvo provocar de V. Exa. uma aprovação ou reprovação pública d’estes princípios para justificação do meu procedimento ulterior.” Parecia que se tinha atingido o fundo mais lodoso da baixa política
Escrito isto, não surpreende, portanto, encontrar 17 anos mais tarde o meu bisavô tradicionalista, perante a república implantada na sequência do regicídio, defender as tréguas entre as duas linhagens desavindas: “solução única era refazermos o que a revolução tinha desfeito e repormos tudo como estava, mesmo porque se me afigurava tão mais fácil restaurar um regime caído havia meses do que irmos reatar uma tradição de havia quase um século”. A luta pelas boas causas, a política na sua mais nobre acepção, requer abnegados interpretes com inteligência e sofisticação. Antes perder uma boa causa que a honradez.
Vem isto a propósito duma pavorosa imagem alusiva ao Natal com que me cruzei há dias no Facebook dum militante do Chega, que hesitei aqui mostrar, não pela reactividade que irei causar a gente que me é próxima e que sofreu uma vida inteira de humilhação praticada pelos progressistas donos disto tudo, mas pelo profundo mau gosto que ela representa. Esta imagem, suponho que desenvolvida por algum programa de Inteligência Artificial, resulta numa bela metáfora do que é o partido de André Ventura, produto elaborado por um oportunista que teve a genial ideia de trazer para a direita os mesmos métodos que nos habituámos a tolerar nos partidos da extrema esquerda – o aproveitamento dos sentimentos mais básicos da populaça ou simplesmente de gente revoltada com as (muitas) agruras da vida, sem limites de demagogia ou escrúpulos; o aproveitamento “duma reacção natural contra a decadência que nos atrofia a alma dos portugueses”. Não precisamos de atender ao mais gritante no despautério da imagem, a mistura da celebração do nascimento de Cristo com o nacionalismo primário (uma contradição insanável) ou no protagonismo dado à bandeira que foi estabelecida e empunhada pelos mais ferozes anticlericais de 1910 na sua luta encarniçada contra a Igreja Católica. A labreguice da santimónia acentua-se com as cores e a falta de nexo nas figuras presentes: um Jesus Cristo adulto a adorar-se a si próprio em bebé, e uma estranha figura, um pastor com patas de ovelha. Atrás, encavalitam-se figuras angelicais e terrenas de olhos em alvo dirigido ao tecto. Esta estética não surge apenas por causa duma estratégia de comunicação fundada no escândalo, é porque as três cabeças pensadoras que decidem a acção do partido não controlam nada, criaram um monstro macrocéfalo.
Muitos países europeus, bastante mais desenvolvidos que nós, debatem-se nos dias de hoje com o aparecimento de novos partidos que vêm baralhar o sistema fragilizado, e que são fruto de democracias doentes, comunidades deslaçadas. Em Portugal, incapaz de atrair as verdadeiras elites para as causas públicas, com coragem e autoridade para reformar o país, vemos crescer este fenómeno de vulgaridade que é o Chega. A Pátria não se salva com murros na mesa nem tiros na nuca, desenvolve-se com diálogo e consensos que é o que caracteriza uma nação evoluída e próspera.
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