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Chegou a hora de mudar?

por João Távora, em 04.01.24

Já tinham acontecido durante quase todo o ano passado perante a indiferença geral do país, as greves sistemáticas da CP e paralização dos comboios. Se não eram dos maquinistas eram dos revisores, se não eram dos revisores eram dos trabalhadores das infra-estruturas. Evidentemente que se trata de uma pequena amostra dum país disfuncional, em que as pessoas, em regra pobres, aceitam conformadas o triste destino de precisar de serviços que dependam do Estado. Da Saúde aos Transportes, da Justiça ao Ensino, coitados dos mais desfavorecidos. Não é propriamente o meu caso, mas, para uma família como a minha, que mora perto do Estoril, é profundamente perturbador, se não infernal, o jogo a que nos sujeitamos para nos deslocarmos a Lisboa. Nunca se sabe quando os comboios estão ao serviço da população ou ao serviço das carreiras e interesses dumas centenas de funcionários privilegiados com renda garantida. Evidentemente quem mais sofre são os miseráveis que não tem alternativa aos transportes públicos, aqueles que têm horários a cumprir, com trabalhos humildes e braçais. Esta situação é uma chocante injustiça que o socialismo, em obediência à “ética republicana”, há demasiado tempo submete os portugueses enquanto os suga em impostos. Ao mesmo tempo os jornais e os canais de notícias à noite entretêm a minoria fidalga nos sofás a debater o charme e as virtudes dos personagens que há oito anos nos aprisionam nesta vil miséria.

Ou isto muda ou qualquer dia acaba mal... 

Chega de disparates

por João Távora, em 29.12.23

Em 1893, num período de grande agitação política subsequente ao Ultimato, à revolta republicana no Porto em plena ascensão do republicanismo em Lisboa, o meu bisavô homónimo João de Lancastre e Távora envolvia-se publicamente numa polémica, através duma carta publicada no jornal “Novidades”, com o presidente do partido Legitimista de que era destacado membro, o Conde de Redinha. Acontece que este tinha publicado dias antes um artigo de fundo no jornal “A Nação” em que defendia existirem “afinidades espirituais” entre “Tradicionalistas” e “Republicanos”, uma “solidariedade moral que a ambos estes partidos assiste para demolirem o sistema que nos rege”. Nesse artigo, entre outras opiniões o conde justificava o 31 de Janeiro como “uma reacção natural contra a decadência que nos atrofia a alma dos portugueses”. Retorquia-lhe o meu bisavô: “Por mim, meu caro conde, além da dedicação inabalável pela pessoa do Senhor Dom Miguel, que na minha família é tradicional, a principal razão que eu encontro de ser legitimista é precisamente por achar nos ideais políticos deste partido a forma mais oposta à republicana, e também por me parecer que os meios de alcançar os fins dum e de outro partido devem ser absolutamente diferentes. Sendo este o meu modo de pensar, resolvo provocar de V. Exa. uma aprovação ou reprovação pública d’estes princípios para justificação do meu procedimento ulterior.” Parecia que se tinha atingido o fundo mais lodoso da baixa política

Escrito isto, não surpreende, portanto, encontrar 17 anos mais tarde o meu bisavô tradicionalista, perante a república implantada na sequência do regicídio, defender as tréguas entre as duas linhagens desavindas: “solução única era refazermos o que a revolução tinha desfeito e repormos tudo como estava, mesmo porque se me afigurava tão mais fácil restaurar um regime caído havia meses do que irmos reatar uma tradição de havia quase um século”. A luta pelas boas causas, a política na sua mais nobre acepção, requer abnegados interpretes com inteligência e sofisticação. Antes perder uma boa causa que a honradez.  

Natal do Chega.jpg

Vem isto a propósito duma pavorosa imagem alusiva ao Natal com que me cruzei há dias no Facebook dum militante do Chega, que hesitei aqui mostrar, não pela reactividade que irei causar a gente que me é próxima e que sofreu uma vida inteira de humilhação praticada pelos progressistas donos disto tudo, mas pelo profundo mau gosto que ela representa. Esta imagem, suponho que desenvolvida por algum programa de Inteligência Artificial, resulta numa bela metáfora do que é o partido de André Ventura, produto elaborado por um oportunista que teve a genial ideia de trazer para a direita os mesmos métodos que nos habituámos a tolerar nos partidos da extrema esquerda – o aproveitamento dos sentimentos mais básicos da populaça ou simplesmente de gente revoltada com as (muitas) agruras da vida, sem limites de demagogia ou escrúpulos; o aproveitamento “duma reacção natural contra a decadência que nos atrofia a alma dos portugueses”. Não precisamos de atender ao mais gritante no despautério da imagem, a mistura da celebração do nascimento de Cristo com o nacionalismo primário (uma contradição insanável) ou no protagonismo dado à bandeira que foi estabelecida e empunhada pelos mais ferozes anticlericais de 1910 na sua luta encarniçada contra a Igreja Católica. A labreguice da santimónia acentua-se com as cores e a falta de nexo nas figuras presentes: um Jesus Cristo adulto a adorar-se a si próprio em bebé, e uma estranha figura, um pastor com patas de ovelha. Atrás, encavalitam-se figuras angelicais e terrenas de olhos em alvo dirigido ao tecto. Esta estética não surge apenas por causa duma estratégia de comunicação fundada no escândalo, é porque as três cabeças pensadoras que decidem a acção do partido não controlam nada, criaram um monstro macrocéfalo.

Muitos países europeus, bastante mais desenvolvidos que nós, debatem-se nos dias de hoje com o aparecimento de novos partidos que vêm baralhar o sistema fragilizado, e que são fruto de democracias doentes, comunidades deslaçadas. Em Portugal, incapaz de atrair as verdadeiras elites para as causas públicas, com coragem e autoridade para reformar o país, vemos crescer este fenómeno de vulgaridade que é o Chega. A Pátria não se salva com murros na mesa nem tiros na nuca, desenvolve-se com diálogo e consensos que é o que caracteriza uma nação evoluída e próspera.

Democracia, alternância e bloqueio

por João Távora, em 02.09.22

xaawdsa.png

Lê-se por aí que a UNITA, convencida de que a declaração da vitória do MPLA constitui uma fraude, pediu ao Tribunal Constitucional a anulação das eleições gerais de 24 de Agosto. Pelos relatos que nos chegam, não custa a acreditar que a razão esteja do seu lado. Mas não sejamos ingénuos: há quase cinquenta anos no poder, o MPLA confunde-se com o Estado angolano, em todos os seus níveis e orgânica. Num país em que o desemprego e a escassez grassam em números avassaladores e a fome é um ameaça real, ninguém acreditaria que o partido do governo e a sua nomenclatura entregasse o poder de mão beijada aos seus adversários sem estrebuchar, quem sabe com derramamento de sangue, que as histórias de barbaridades cometidas não há muito tempo nesse país a pretexto da guerra civil são arrepiantes. Acredito, no entanto, que estejam a ser dados passos, que sendo curtos, vão no caminho da democratização do regime e (principalmente) da sociedade angolana, sem qualquer experiência na transição do poder, sem que seja pela força.

Este caso leva-me a reflectir sobre a situação política em Portugal no último quarto de século, onde o Partido Socialista alcançou uma extraordinária hegemonia no poder e seus meandros. Também por cá o Estado - os seus organismos, próprios ou dele dependentes - tende a confundir-se com o Partido Socialista e seus aliados conjunturais. Nada disto me leva a crer que haja riscos de que uma  hipotética transferência de poder em Portugal degenere algum dia em violência - as nossas instituições estão desgastadas mas suficientemente sólidas. No entanto desconfio que essa previsível alternância venha a acontecer, debaixo duma ruidosa tensão política, e que rapidamente degenere num gritante empastelamento e inoperacionalidade das estruturas e organismos do Estado, cujos ocupantes acomodados tudo farão para manter o status quo e rejeitar uma nova ordem. Veja-se a título de exemplo o que se passa com a caótica gestão da apanha do lixo em Lisboa, agora com um executivo adverso aos donos disto tudo.

Não nos esqueçamos que a verdadeira democracia implica não só alternância de protagonistas, mas de políticas, que o caminho da pobreza não é a única solução, apesar disso estar inscrito no preâmbulo da Constituição da república.  

O "ter de ser" tem muita força

por João Távora, em 28.10.21

istockphoto-647252186-170667a.jpgA razão de ser do sucesso do contra-almirante na campanha da vacinação Covid19 foi o método da "task force". Qual é o truque? Fiz parte de algumas nos anos 90 criadas no MNE, a mais ambiciosa das quais aquela que operacionalizou a Cimeira da OSCE '98 que reuniu em Lisboa durante 3 dias 52 Chefes de Estado e de Governo - além dos ministros, Sec. de Estado, comitivas diplomáticas, esposas e esposos - uma logística incomensurável impregnada de gente importante, sensibilidades e armadilhas político-burocráticas. Como se faz o milagre? Com uma "task-force". Trata-se de uma equipa relativamente pequena de contratados, no caso quase todos civis, mas armados até aos dentes para o efeito pretendido, cujos responsáveis de cada área (política, transportes, segurança, hotelaria, protocolo, etc.) têm ligação directa ao topo da hierarquia (Ministro, EMFA ou 1°, Ministro). Como uma bolha de eficácia dentro dum microcosmos disfuncional (ministério) que está montado em função da sua orgânica para complicar ao invés de agir.

Dito isto, eu acho que o nosso país deveria ser governado por uma "task force" pelo menos por dois anos para por isto tudo a funcionar outra vez, que o "ter de ser" tem muita força. Sempre com o suporte da ciência. Depois logo se via.

O desafio é ganharmos o país

por João Távora, em 27.10.21

asterix-a-zaragata.jpg

Nestes momentos de incerteza e apreensão, na perspectiva dumas eleições antecipadas caídas do céu poderem constituir o resgate do país ou o seu afundamento numa crise de ingovernabilidade, seria da maior conveniência que os actores se comportassem com a serenidade e inteligência que a situação delicada exige. Não digo isto só a propósito da desgarrada verborreia e hiperactividade de Marcelo Rebelo de Sousa quando precisávamos de um Chefe de Estado com os mínimos institucionais (o mal que nos faz a república), mas também a propósito da prestação expectável por parte protagonistas que disputam as lideranças dos dois (ainda) principais partidos da direita portuguesa. Não se esqueçam eles, que dada a insólita coincidência das suas disputas internas com um calendário eleitoral, estarão o tempo todo sob as luzes da ribalta e sob o julgamento dos eleitores, que na maioria não é sectário e não vislumbra grande virtuosismo nas lutas internas, antes pelo contrário. Se se confirmar a dissolução do parlamento e o fim da fraude da geringonça, o caminho da direita para o poder será estreito e sob gelo fino. Uma alternativa ao socialismo só sairá vitoriosa se as suas lideranças souberem transmitir para o povo muito sentido de responsabilidade e serviço que verdadeiramente contraste com a actual situação - foram esses os melhores argumentos para a vitória de Carlos Moedas num território hostil à direita como o de Lisboa. De que valerá a Rio, Rangel, Chicão ou Melo ganharem os partidos e perderem a oportunidade de resgatarmos o país?

Idas e vindas para coisa nenhuma

por Vasco M. Rosa, em 14.04.16

Reboleira.jpg

Na capa do inefável Público de hoje, uma fotografia elucidativa que não foi comentada pelo jornal.

(Não surpreende: ainda há dias puseram dum político hoje grisalho uma fotografia antiga. E o dito político aparece num programa sem moderação e já foi deputado...)

Sim, basta olhar um bocadinho para ver que o sr PM foi indelicado, pois tendo à sua direita uma senhora da CMA e um senhor da CML (o qual, pela expressão, desconhece transportes públicos embora se proponha tutelá-los) que tentavam passar numa via fechada, AC avança afoitamente, com uma gravata vermelha a condizer com a ocasião e o lugar. Cuidados mediáticos de altíssima qualidade, que dão milhares a espertos, tradução simplória mas realista de experts!

Então não há aí quem faça notar-lhe que as senhoras passam primeiro, qualquer que seja o estatuto de quem cede o lugar? A mãe feminista não lhe puxa as orelhas? O comité feminino do PS não lhe pede delicadeza? As Marias Capazes não se enfurecem, ao menos por cinco minutos?

Reboleira não é Rebaldaria, ora essa... 

Se comprou bilhete não sei, mas um PM que em vez de enviar um ministro ou um secretário de estado inaugurar obra básica e quase insignificante (em termos nacionais), vai a todas para reivindicar trabalhos feitos por anteriores, em vez de estar no seu escritório a estudar, planear e debater o futuro (e quantas horas semanais ou mensais de trabalho efectivo se perderão nestas idas e vindas para coisa nenhuma?!), não merece créditos positivos. Anda a brincar aos países e depois alguém apresenta a conta aos vizinhos dele — que somos nós, desgraçadamente...

Mas como aqui há dias escreveu José Mendonça da Cruz a respeito de JS, é deixá-lo fazer assim, para se perceber melhor ao que veio. Uma viagem que se deseja a boa velocidade com ida mas sem volta.

Antes assim. 

Maldita agenda

por João Távora, em 26.12.15

manipulacion-mediatica.jpeg

Em resposta aos casos mais ou menos artificiais que tenderão a emergir ordenadamente na comunicação social num zeloso exercício de contaminação reputacional do governo de Passos Coelho e Paulo Portas, Nuno Garoupa defende hoje no seu FB, “o respeito duma convenção de 40 anos”, a substituição da liderança do governo cessante, no caso Passos Coelho, fragilizado pela gestão de muitos difíceis dossiers da dura legislatura do resgate. A grande questão está, no meu entender, no espaço e arte que os partidos do anterior governo, agora oposição, tiveram e vão demonstrando para gerir a agenda mediática. Espaço têm pouco e quanto à arte estamos conversados: a verdade é que não vejo como uma nova liderança consiga contrariar esta proverbial aselhice.

Resta saber o espaço que o PS tem nas actuais circunstâncias europeias para fazer umas flores que adiem um inevitável divórcio da "união" da esquerda. Condenados a viver sobre um barril de pólvora que é a nossa dívida colossal, sem um consistente crescimento da economia e reforço da confiança dos agentes económicos - que as esquerdas tanto desprezam - as palavras bonitas chocarão cada vez mais com a dura realidade.

 

PS.: Nunca é de mais repetir: a morte de David Duarte no banco de urgências de S. José é principalmente um problema falta de profissionalismo e negligência médica. Não há dinheiro que disfarce esse problema.

 
 

Portugal já não está à frente?

por João Távora, em 17.12.15

 

PSD-CDS1.jpg

 Não confundo a paixão clubista com a adesão partidária, que entendo como instrumental para a realização de uma determinada estética em que acredito. Nesse sentido, pensando no longo prazo, a boa experiência que constituiu coligação Portugal à Frente e a realidade política dos nossos tempos deveria fazer-nos pensar num projecto de consolidação da associação dos dois partidos. Estou certo que seria possível descobrir um modelo “federativo” que potenciasse a força política dessa união no respeito – ou até reforço - das diferentes tendências que cabem no espectro do centro-direita, como sociais-democratas, liberais, conservadores, democratas cristãos etc. A necessidade sentida por Passos Coelho de formalizar publicamente o fim da coligação é para mim um (expectável) mau sinal. De que Portugal já não está à frente?

Boa noite e um queijo

por João Távora, em 08.11.15

Confesso que duvidei até ao fim: agora já acredito que vamos ter um primeiro ministro derrotado a governar com o apoio dos partidos anti-sistema.
Reparem como agora se começam a ouvir os comentadores que passaram a última legislatura a zurzir em Passos Coelho dizerem que é normal os governos não cumprirem as suas promessas e programas "por desconhecimento da realidade ou por contingências externas." 
Ponham os cintos de segurança, vêm aí tempos agitados.

Vistos Gold: 6 mentiras e 6 verdades

por João Távora, em 21.11.14

O mais difícil é desmontar o preconceito...

O preço a pagar

por João Távora, em 02.05.14

Qualquer boa notícia que o Governo lançasse por estes dias, seria rotulada de eleitoralista e naturalmente vilipendiada pela rua. É o preço a pagar por três anos de execução dum duríssimo programa de ajustamento em democracia – estou em crer que nestas circunstâncias não haveria malabarismo ou truque de retórica que aligeirasse significativamente o inevitável ambiente de crispação que se atingiu. 
Podia ter sido melhor? Podia, claro - esse tema dava uma longa crónica. Mas convém não menosprezar o facto de estarmos a poucos dias de terminar com sucesso o nosso resgate, cuja execução todos sabiam colocava seriamente em risco a paz social e o próprio regime.

 

“Nos séculos de descrença é sempre de recear que os homens se entreguem constantemente ao acaso diário dos seus desejos e que renunciando  completamente a obter aquilo que só pode ser conquistado à custa de longos esforços, não venham a fundar nada de grandioso, pacífico e duradouro.”

Alexis Tocqueville

Da Democracia na América 

 

No contexto do politicamente correcto instituído, um político, um escritor, um jornalista, um músico que se assuma como católico, se não for "contestatário", por mais imaculadamente “democrático” que seja o seu curriculum, se não guardar a sua Fé para o âmbito estritamente privado (que no que concerne ao cristianismo é uma contradição de termos) tenderá a ser depreciado e ostracizado com epítetos de “ultramontano”, como se ostentasse lepra. 
Apesar de já terem morrido quase todos os católicos acossados pela 1ª republica e rendidos a Salazar, o seu fantasma permanecerá como rótulo discriminatório alimentando a fantasia dos robespierrezinhos que pastoreiam esta deslumbrante modernidade. Do mal, o menos: tolerada e desejosa de reconhecimento à Esquerda, resiste uma direita profana, liberal e cosmopolita (?), que quando confrontada com a dura realidade dos factos, salvo honrosas excepções, de cedência em cedência capitula, agarrada a umas quantas referências históricas e literárias, sem obra digna de nota nesta apagada e vil tristeza em que o País se dilui.
Como nos demonstram os excepcionais casos de tardio reconhecimento público, nesta ordem de razões um católico bom só é possível quando está morto. Entretanto quase quarenta anos depois do Cardeal Cerejeira a incontestável decadência da Nação acentua-se num plano cada vez mais inclinado – e a culpa desta vez não é nossa. 

 

 

Verdades inconvenientes e a taxa redentora

por João Távora, em 12.11.13

O economista José Silva Lopes afirmou hoje que a taxa de juro sugerida por Rui Machete para evitar um 2º resgate é o máximo «tolerável» e defendeu até que o limite devia ser mais baixo.

 

Até concedo que a nomeação de Rui Machete tenha sido mais uma aselhice de Passos Coelho, afinal o maior pilantra à face da terra. Mas porque desconfio de unanimismos, no que às recentes declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros refere, deixem-me que vos diga que elas têm o condão de recentrarem por momentos a nossa agenda política no ponto certo, mesmo que inconveniente para o jogo de sombras da política. Recapitulemos, então: na impossibilidade do Estado se financiar nos mercados para cumprir as suas obrigações, o governo socialista em 2011 negociou e assinou um memorandum (o qual todos os comentadores regimentais referiam ser demasiado exigente para quatro anos, facto que impossibilitaria os gabinetes de quaisquer veleidades - leia-se "ideologia") que coloca o país sob protectorado dum sindicato de financiadores, sob a condição de um duríssimo ajustamento económico-financeiro. Por mais que alguns pretendam hoje fazer passar despercebido, eram desde o início facilmente previsíveis os resultados (ou a falta deles) da terapêutica a que estávamos destinados. Enquanto a verdade for tratada como mera inconveniência, estamos condenados a esta austera, apagada e vil tristeza

Porque a memória é curta:

por João Távora, em 15.10.13

Do compromisso assinado por José Sócrates com os nossos credores: 

Memorando de entendimento:
[...] [Política Orçamental para 2012]

1.11 Reduzir as pensões acima de 1500 euros, de acordo com as taxas progressivas aplicadas às remunerações do sector público a partir de Janeiro de 2011, com o objectivo de obter poupanças de, pelo menos, 445 milhões de euros.

1.12. Suspender a aplicação das regras de indexação de pensões e congelar as mesmas, excepto para as pensões mais reduzidas, em 2012.

[...]
[Política Orçamental para 2013]

1.29. ix – manter a suspensão em 2013 das regras de indexação das pensões, excepto no que se refere às pensões mais reduzidas.

1.30. Adicionalmente, o Governo alargará o uso da condição de recursos nos apoios sociais e direccionará melhor o esforço de apoio social, no sentido de obter uma redução nas despesas sociais de, pelo menos, 350 milhões de euros.


Com a devida vénia (Mentir para quê?)

Uma estratégia que preserve a esperança

por João Távora, em 07.10.13

 

No dia de mais um aniversário da “república”, convém relembrar que a chefia de Estado real, como provam as velhas monarquias constitucionais europeias, em situações de crise politica ou económica opera com extraordinária eficácia como factor de equilíbrio e elemento aglutinador. 

Dito isto, estou convicto que o aproveitamento do descontentamento popular e das fragilidades de um País sob resgate financeiro e sob forte ameaça de desagregação social com vista à afirmação do ideário monárquico parece-me um grave erro. Foi esse o modelo de intervenção dos republicanos nos anos que antecederam o 5 de Outubro: de uma forma impiedosa, numa política de terra queimada, de “quanto pior melhor”, todas as ignomínias foram utilizadas para denegrir a Chefia de Estado e o regime constitucional monárquico: a intriga permanente, a violência verbal e a calúnia, o assassinato político, o golpismo e o facciosismo deram frutos em 1908. Depois, o sucesso da “república” apenas foi possível à custa dum País profundamente fracturado e deprimido, e com a imposição duma continuada repressão e violência sobre os portugueses. Os reflexos desse trágico período condicionaram a nossa História até aos dias de Hoje.
Acontece que a agenda dos monárquicos militantes é de facto mais difícil de afirmar nestes tempos de desagregação, empobrecimento, mágoa e revolta que vivemos; quando a demagogia apela à irracionalidade e a uma intolerante agenda igualitária que invoca os instintos mais primários. Tanto mais que o regime monárquico para ser eficaz, exige uma Nação com auto-estima e um Estado com instituições credíveis, factores intrinsecamente orgânicos, porque emergentes do Povo de que procedem. 
A militância Realista é, por tudo o que referi, um trabalho de longo prazo. Uma exigente maratona de persistência, paciência e inteligência. Porque só após edificada a monarquia, reflectida na solidez das instituições democráticas da Nação, faz sentido chamar o Rei.

 

Publicado Sábado no jornal i 

Um país inSeguro

por João Távora, em 19.09.13

O tom radicalizado assumido por António José Seguro reforça a minha ideia de que o PS envereda por caminhos escusos na sua estratégia de assalto ao poder, que fragilizado, arrisca um dia destes lhe caia ao colo. Se esse discurso de desespero satisfaz o aparelho do partido e as franjas mais à esquerda do seu eleitorado que acredita genuinamente que a ruptura com o Euro é saída válida para a crise, desconfio que a irracionalidade das reivindicações assuste o eleitorado de centro que é aquele que consubstanciaria aos socialistas uma clara vitória eleitoral. De resto, nas actuais circunstâncias o excesso de teatralização no combate político prejudica qualquer uma das partes da contenda: as pessoas da rua não só descrêem em promessas fáceis, como anseiam secretamente o termo deste ambiente de pré guerra civil e por uma solução o menos dolorosa que possível para a crise financeira em que o País mergulhou com o governo Sócrates.

Se a votação nas autárquicas não for um indicador credível desta tese, aguardemos então pelas próximas sondagens para verificar.

Para rir, se não fosse para chorar

por João Távora, em 03.07.13

Ao invés, o CDS considera que é num quadro de estabilidade e de procura de consensos políticos que se podem obter as mudanças necessárias no relacionamento com a missão externa e na margem de manobra do Estado português.


Excerto retirado da página 32 da moção de Paulo Portas ao Congresso do CDS Sábado na Póvoa do Varzim


Com a devida vénia ao Samuel de Paiva Pires, daqui.


A esperança é a última a morrer

por João Távora, em 19.06.13

É sempre com alguma estranheza que constato que a maioria dos católicos parece preferir viver distante da acção política. Apesar disso, não deixam de se alvoraçar com algumas decisões tomadas - cada vez mais distantes dos seus valores. Assim se vão entrincheirando, desistentes, justificando a rendição com a impotência de cada um para debelar as mais fantásticas teorias da conspiração e todo um cardápio de obscuros adamastores inexpugnáveis. 
Se é certo que os católicos nos dias de hoje já não possuem a representatividade de outrora, parece-me que em Portugal constituem ainda uma força social significativa, provavelmente mais informada e convicta do que noutras eras. Para mais, acredito que o sentido filosófico e existencial que representam constitui uma referência decisiva, e necessária, na sociedade actual, crescentemente enleada em tão profunda crise. 
É nesse sentido que interpreto a exortação do Papa Francisco aos cristãos para que se envolvam na política, considerando-a uma forma de caridade. De facto, talvez o pouco empenho dos cristãos contribua decisivamente para a má reputação das organizações políticas. "É muito fácil culpar os outros", referiu.
É inspirado por este sentido de serviço que estou envolvido na vida política, no caso, partidária, tentando, com o meu modesto contributo reconhecer-me um pouco mais no País a que pertenço e de que me sinto parte. E no próximo congresso do CDS defender uma Moção que com orgulho sou subscritor. Porque a esperança é a última a morrer.

Da greve dos professores

por João Távora, em 16.06.13

Só uma classe que recusou, como ultraje, a possibilidade de ser avaliada para efeitos de progressão profissional – isto é, uma classe de medíocres reivindicam o direito constitucional de ganharem o mesmo que os competentes – é que se pode permitir a irresponsabilidade e a leviandade de decretar uma greve aos exames nacionais. Nisso são os professores exemplares: transmitem aos alunos o seu próprio exemplo, o exemplo de quem acha que os exames, as avaliações são um incómodo para a paz de um sistema assente na desresponsabilização, na nivelação de todos por baixo, na ausência de estímulo ao mérito e esforço individual.
Mas a greve dos professores vai muito para lá deles: reflecte o estado de espírito de uma parte do País que não entendeu ou não quer entender o que lhe aconteceu. Deixem-me, então recordar: Portugal faliu. O Portugal das baixas psicológicas, dos direitos adquiridos para sempre, das falcatruas fiscais, das reformas antecipadas, dos subsídios para tudo e mais alguma coisa, dos salários iguais para os que trabalham e os que preguiçam, faliu. Faliu: não é mais sustentável. (…) Se alguém conhece uma alternativa mágica em que se possa ter professores sem crianças, auto-estradas sem carros, reformas sem dinheiro para as pagar, acumulando dívida a 6,7 ou 8% de juros para a geração seguinte pagar, que o diga.


Miguel Sousa tavares, Expresso 15 Junho 2013



Dois anos de governo e a via revolucionária

por João Távora, em 05.06.13

 

No dia que o governo completa dois anos de sobrevivência num contexto político e económico particularmente severo, sabemos por esta sondagem que apesar dos sacrifícios que se nos vem sendo exigidos, a maioria dos portugueses deseja que termine a legislatura. Mas não é essa a sensação que fica ao "auscultarmos os ventos" - o que diga-se, não é um método muito fiável de aferir a vontade popular. 
Nesse sentido é para mim um espanto a capacidade de atracção mediática dos grupelhos de protesto “espontâneo” que se desmultiplicam promovidos pelas estruturas dos sindicatos ou partidos da esquerda radical. É extraordinário como meia dúzia de profissionais do tumulto se arvoram representar a maioria dos portugueses no desejo de demissão de um governo a meio de um mandato. É muito perigosa a pretensão terceiro-mundista de que a legitimidade de um governo está sistematicamente em causa, seja ao sabor das sondagens ou de acordo com a agenda de cada grupo que pretenda o assalto ao poder através da rua, tentação só possível num país em que se cultiva o descrédito das já de si tão frágeis instituições políticas. De resto, fica por saber a quem interessa a destruição e o caos que sempre causaria ao País a via “revolucionária”. 

 


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