por Vasco Lobo Xavier, em 19.10.17
É conhecido o enorme sentimento de solidariedade dos portugueses e a sua imensa generosidade. Mesmo nos piores momentos da última bancarrota socialista, as ofertas, os movimentos de solidariedade e a generosidade dos portugueses eram notícia. Aquando da tragédia de Pedrógão Grande, a generosidade foi igualmente imensa, enorme e imediata, até com concertos de artistas, espectáculos fabulosos.
Uns meses passados, sem que o produto dessa generosidade chegasse às vítimas, com o governo socialista a fechar-se em copas sobre o destino dessas verbas, dei comigo com medo a pensar que os portugueses iriam começar a desconfiar do resultado da sua generosidade natural e que, da vez seguinte, e por uma vez (a primeira!...), já não seriam tão generosos. Tentei afastar de mim tais pensamentos tão negros.
Após a tragédia que se deu nos últimos dias não vi (pelo menos publicitada ou noticiada) tanta e tão rápida angariação de verbas e de bens como há quatro meses, não vi tanto voluntarismo. Voltaram-me os pensamentos tristes e negros.
Claro que há sempre e tem havido enorme generosidade e ofertas e voluntariado excelente que são noticiadas e divulgadas nas chamadas “redes sociais” (a comunicação social está mais preocupada em segurar António Costa) e certamente milhares de pessoas têm estado a ajudar as pessoas mais afectadas com tudo isto. Tenho visto e tomado devida nota. Mas não é igual ao que vimos há quatro meses.
Hoje vi noticiado que parte da generosidade dos portugueses com o desastre de Pedrógão Grande foi parar – não directamente às pessoas necessitadas mas – a instituições do Estado, que são (e são e assim deviam ser) alimentadas com os nossos impostos. Segundo se diz, a hospitais de Coimbra e para unidades de queimados.
É necessária uma declaração de interesses: nasci e vivi belíssima parte da minha vida em Coimbra, sou de Coimbra, sinto Coimbra, vou imensas vezes a Coimbra, tenho casa em Coimbra, familiares, amigos, ameixas, laranjas, limões e uvas americanas, para já não falar de uma garrafa permanente no Quebra-Costas. E tenho enormes dívidas de gratidão a vários hospitais de Coimbra, a médicos (amigos ou desconhecidos), enfermeiros e demais profissionais de saúde de Coimbra, para além de admirar profundamente o seu imenso profissionalismo. E conto lá morrer.
Agora uma coisa tenho por certa: quando a generosidade dos portugueses os fez oferecer o que quer que seja (1, 10, 100, 1000 euros) em benefício das vítimas de Pedrógão Grande não foi certamente para o governo socialista utilizar essas ofertas naquilo que já deveria ser suportado pelos elevadíssimos impostos que os portugueses já hoje suportam.
Aquelas ofertas eram feitas para as pessoas directamente ligadas à tragédia de Pedrógão, não para este governo fazer face às suas despesas no Ministério da Saúde.
Mas posso estar enganado.