por henrique pereira dos santos, em 26.09.17
"Foi um erro, nós empobrecemos, vimos os salários cortados, as pensões cortadas, a carga fiscal aumentada" (António Costa, 24 de Setembro, 2017).
"Além dos cortes nos rendimentos, que vão oscilar entre os 3 e os 10% para os salários superiores a 1500 euros, o Governo vai ainda reduzir os encargos com a ADSE, congelar as promoções e as progressões, reduzir as contratações na administração pública e ainda aumentar em 1% as contribuições para a Caixa Geral de Aposentações. ... Sócrates justificou o corte nos salários com a necessidade de fortalecer a "imagem internacional". "É indispensável, porque estamos a ser penalizados por sermos o único País que ainda não baixou salários na função pública." ... As medidas atingem ainda o Estado social. Além do já anunciado corte de despesas no Serviço Nacional de Saúde (que incluem reduções das comparticipações dos medicamentos), o Governo vai cortar ainda em cerca de 20% as despesas com o rendimento social de inserção. No total, o Governo espera reduzir a despesa em 1,7 mil milhões de euros no próximo ano. ... Além da despesa, o Governo lançou várias medidas para aumentar a receita, nas quais se destacam as da área fiscal: o estabelecimento de um tecto para as deduções fiscais no IRS, o aumento do IVA para 23% e a aplicação do Código Contributivo, que aliás já estava previsto no PEC." (Diário de Notícias de 30 de Setembro de 2010).
"Consolidar as finanças públicas, reduzirmos o défice e a dívida, ... isso significa boa governação. ... E governar bem significa termos finanças públicas sólidas, diminuirmos o défice, e diminuirmos a nossa dívida, isso é absolutamente essencial. Quem nega esta prioridade pode querer capitalizar com facilidade o natural descontentamento das pessoas. Nós não andamos de olhos fechados, nós sabemos bem que em Portugal, há muita gente que está a sofrer, há famílias que estão no desemprego, há famílias que sofrem perdas de rendimento, há empresários que vêem as suas empresas a fechar, há pessoas que olham para amanhã e têm medo do que lhes pode acontecer amanhã. Mas há uma coisa que nós sabemos, é que o nosso dever é sermos solidários, o nosso dever é não ignorar a realidade, mas o nosso dever, em primeiro lugar, para com Portugal, para com os portugueses e para com esses que estão a sofrer é, com toda a determinação, toda a coragem, atacarmos o mal prioritário: reduzir a dívida, reduzir o défice, consolidar as nossas finanças públicas. ... podemos e devemos agradecer aos nossos governos, aos governos de José Sócrates as medidas que tomaram para consolidar as finanças ... caro Zé, querias saber se estamos contigo? Estamos contigo, conta connosco! (António Costa, 9 de Abril de 2011).
Não, o perfeito irresponsável não é quem poderia parecer lendo estes três parágrafos, o perfeito irresponsável é cada um dos jornalistas que acompanham António Costa na campanha sem que, em nenhum momento, lhe pergunte o que se passou entre 2011 e 2017 para que o que António Costa considerava o dever de atacar "o mal prioritário" passasse a ser simplesmente "um erro".
Essa é a responsabilidade dos jornalistas, não é repetir e amplificar o que em cada momento dá jeito ser dito pelos actores políticos.