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Chegados à meia-idade conquistamos uma visão em perspectiva que nos revela a verdadeira importância das modas. Pela minha parte até chegar à da barba de três dias, em matéria de pilosidade masculina, já testemunhei diferentes usos que se banalizaram na paisagem de cada tempo: do cabelo cortado à tijela ou “à Beatle”, à cabeleira e barba hirsutas, comprida até ao peito a encobrir uma fácies cândida “imagine all the people”, passando pela recuperação nos anos 80 da sobriedade insinuante de Morrissey com poupa à James Dean, estou em crer que, com mais ou menos ombros e lantejoulas no casaco, mais ou menos justas as calças, cada moda cumpriu a seu tempo o propósito de alimentar a vital ilusão de corte ou renovação dum sentido existencial de cada geração emergente, que organicamente se impunha com uma assinatura própria à espuma dos dias imparáveis. O problema é que, como bem sabemos, a natureza humana e as suas circunstâncias são realidades essencialmente estáticas. Sobre este complexo assunto, o povo na sua sabedoria arranjou um adágio que mete moscas e excremento.
Curioso é o burlesco que nos soa um guarda-roupa, por exemplo, quando revisitamos uma antiga (?) série, em voga dos anos oitenta, como a do muito British e europeu “Inspector Morse” ou num ataque de revivalismo revisitamos a sonoridade e paisagem do festival Woodstock, afogada em toneladas de Canábis, pilosidade e devaneios idealistas, daquela miudagem que acreditava sinceramente que a juventude era algo mais do que um efémero acidente do seu imparável processo de envelhecimento. E quanta grosseria e boçalidade não vivia disfarçada por uns óculos escuros, longas barbas, lenço na cabeça e calças à boca-de-sino. O tempo se encarregará de fazer esquecer estes egos estéreis no anonimato da demografia e das estatísticas.
Estou em crer que a moda torna-se num verdadeiro problema quando é motor da política, subjugada ao jogo mediático na conquista das massas consumidoras e democráticas; quando ela se move e se motiva embalada pela espuma dos dias, com causas vácuas de que os nossos vindouros troçarão impiedosamente. Julgo que é exigível às lideranças partidárias, jornalistas e comentadores profissionais um esforço suplementar para a produção de um discurso mais elaborado e perene. Para tanto basta não levantar demasiado os pés da realidade e das prioridades que ela reclama, tendo em conta o bem comum. Que um jornal ou noticiário de hoje não nos pareça daqui a 30 anos um anacrónico guião de um filme pimba.
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