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Não pode ser só uma questão de educação…:

por Vasco Lobo Xavier, em 04.07.15

Gostei de ver na SIC N o Diogo Feio a colocar a Helena Roseta na ordem. Roseta estava sempre com apartes e a páginas tantas resolveu dizer e repetir à exaustão “isso não é verdade” sobre o que Diogo Feio falava (assunto era a Grécia). Como qualquer pessoa de bem, Diogo Feio, que tinha ouvido delicadamente calado toda a exposição anterior de Helena Roseta, e todos os apartes e comentários que se iniciaram mal ele começou a falar, deve ter-se cansado daquilo (e da ofensa) e inquiriu: “o que é que não é verdade?” E não saiu dali até ser esclarecido. Roseta não conseguiu explicar e fugiu do tema. Ficámos nós todos esclarecidos.

 

Fiquei também a pensar que não é caso único. As pessoas mais à direita ouvem com respeito os outros e as mais à esquerda interrompem constantemente a pessoa com quem discutem. É diário. Pouco depois ouvia no Expresso da Meia Noite Paulo Rangel a falar do mesmo tema (Grécia). Pois esteve sempre a ser interrompido, a cada frase, a cada ideia, a cada raciocínio. E quem quer que tenha visto um debate entre, por exemplo, João Galamba e Francisco Mendes da Silva, já deve ter sentido o mesmo. Não sei se isto é técnica da esquerda (“Eh pá, o que é preciso, pá, é não deixar os gajos, pá, alinhavarem uma ideia, se não estamos lixados….”), aproveitando-se da simpatia e boa educação das outras pessoas.

 

Mas não pode ser só uma questão de educação, até porque não me parece que a boa educação dependa de se ser mais à esquerda ou à direita (comparemos Manuel Alegre e Miguel Relvas, por exemplo). Pacheco Pereira, outro exemplo, que é uma pessoa extremamente educada, ninguém coloca isso em dúvida, depois de dar a sua opinião aos que a ouvem delicadamente durante largos minutos, calados, atentos e interessados (porque as suas opiniões são sempre interessantes, goste-se ou não delas nos últimos 3 anos), invariavelmente a meio da primeira frase do seu interlocutor (geralmente o Jorge Coelho, segundo julgo, mas posso estar equivocado) começa logo a mexer-se nervosamente na cadeira, a gesticular e com apartes. Não é bonito, mas ele não o faz seguramente por lhe ter faltado chá em menino. Não é, portanto, uma questão de educação ou de falta dela. Não sei o que seja. Há um grupo de pessoas que interrompe os outros com toda a naturalidade, e há um outro grupo que se deixa interromper permanentemente, como se isso fosse natural, e sem se indignar ou sequer se incomodar. Acho que esta realidade deveria ser estudada, podia ser que desse uma tese ou mesmo um doutoramento. Mas para isso seria talvez preciso que a realidade fosse ao contrário.


10 comentários

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De falatar a 04.07.2015 às 02:00

Não só os adversários  se sobrepõem constantemente como os entrevistadores deixam "andar o marfim" sem disciplinarem o debate e se uma das partes, 
por milagre,fundamenta a sua intervenção logo o papagaio de serviço começa
a fazer ruído,para atrair a audiência diz ele...Cada vez tenho menos paciência para tanta superficialidade e tanto ruído editorial.É raro assistir a qualquer debate
até ao fim.E as entrevistas vão pelo mesmo caminho,o papagaio editorial insiste
em fazer barulho por cima de uma explicação detalhada,por causa das audiências...Não me refiro a esse debate específico mas à pandemia.
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De João. a 04.07.2015 às 03:57

Vejo constantemente nos debates da SIC os representantes do PCP ouvirem tudo o que o seu inrelocutor (geralmente PSD ou CDS) tem a dizer e a serem interrompidos quando é a sua vez de falar. Mas para você notar isso você teria que ser sério.
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De Joaquim Amado Lopes a 04.07.2015 às 11:44

Tem piada. A minha experiência é a oposta, embora tenha que admitir que cada vez vejo menos debates ou entrevistas nos canais portugueses precisamente pelo que o Vasco Lobo Xavier descreve.

Não que todos os "de esquerda" sejam "interruptores" e todos os de "direita" sejam "interrompidos" mas, em termos gerais, o que vejo é precisamente como o Vasco Lobo Xavier descreve.

Até no Parlamento a diferença é notória. As intervenções "da esquerda", particularmente as da "esquerda popular", são quase sempre uns decibéis acima do necessário (e das intervenções "da direita") e num tom indignado completamente despropositado, como se falar mais alto lhes desse a razão que os factos e a lógica não dão. A única notória excepção de que me recordo é a do saudoso João Amaral.


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De João. a 04.07.2015 às 16:41


Talvez você não veja os debates e portanto não sabe. A direita não tem nenhum monopólio em ética do debate. Antes pelo contrário. O caso é que o autor do post quer extrapolar de um caso e portanto tem que inventar.
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De Joaquim Amado Lopes a 04.07.2015 às 18:22

João,
Não vejo todos os debates. Não apenas tal seria impossível como é também desnecessário. Na esmagadora maioria de debates e intervenções que vejo os decibéis, as interrupções e a falta de respeito estão claramente do lado "esquerdo".
E apenas um exemplo de falta de respeito e cretinice aguda típicas da "esquerda", ainda ontem vi a Helena Roseta referir-se repetidamente ao Presidente da República por "inquilino de Belém".


"A direita não tem nenhum monopólio em ética do debate." E foi precisamente isso que eu disse com "Não que todos os 'de esquerda' sejam 'interruptores' e todos os de 'direita' sejam 'interrompidos'" mas o seu " Antes pelo contrário" só revela que ou não vê nenhum debate ou confunde a "esquerda" com a "direita".
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De Anónimo a 04.07.2015 às 10:59

Quem tiver paciência, ouça o debate de ontem entre a Ana Gomes e Carlos Amorim na tvi. Mas ainda o pior é a postura dos moderadores, olhando embevecidos para os entrevistados de esquerda e assim que a palavra está no oponente é constantemente interrompido e questionado sarcasticamente.
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De Laranjeira a 04.07.2015 às 11:27

Não, não é só uma questão de educação. É uma questão de falta de argumentação e de não querer deixar que os outros sejam mais convincentes. Por isso procura-se desconcentrar o oponente com apartes e risinhos, para que em casa não se consiga ouvir o que diz o outro, e ainda para que este se enerve e não consiga expor convenientemente o seu raciocínio. 


Tudo isto é propositado, com o beneplácito de "moderadores" alinhados com a esquerda.
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De luis miguel a 04.07.2015 às 15:55

Muita calma que isto ver tudo pelo olho direito só leva à distorção das coisas.
Se o Corta-Fitas quiser, também arranjo uma coleção de cromos de direita que berra no parlamento e nos debates, não tendo propriamente uma postura educada.
Desce o sr. Abreu Amorim,passando pelo cavalheiro José Eduardo Martins, pela senhora João Avilez (ligeiramente insuportável no trato pessoal, digo porque compro fruta no mesmo mercado e vejo a altivez e o complexo de superioridade com que trata os comerciantes, e já agora, já a vi ser mesmo muito mal educada no trânsito), até ao super mal-educado e arrogante Couto dos Santos e à senhora Leal Coelho, que também não prima pelo nível baixo de decibéis que manda cá para fora...querem que continue?
é para verem se conseguem olhar para a realidade com um lente em cada vista e não com duas lentes na vista direita
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De Supraciliar a 04.07.2015 às 13:44

Sabe bem o que é, Vasco.
É falta de liberdade.
É usar a interrupção continuamente como na ditadura se usava o lápis azul.
E não é apenas a esquerda - são os jornalistas e os moderadores da imprensa do Regime. Se explorar a ação dos tribunais que impedem a apresentação de candidaturas fora do regime (lembro a de um cómico e de uma doutorada de Évora), com a história de haver ou não haver recursos para agradar ou desagradar processos de proponentes, perceberá que o jogo é mais duro e mais sério do que aparenta.
A democracia exige liberdade de expressão. Isso não existe em Portugal. Na lei existe. No país é que não.
Já foi melhor, já foi pior e há-de melhorar outra vez.
Supraciliar
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De mc a 04.07.2015 às 20:25

A questão não é de educação nem parecida. A questão resume-se ao uso de técnicas de desinformação e sabotagem de debates - que pode passar pelo ataque ad hominem não por antipatia mas para desacreditar o adversário perante o público. Essas técnicas devem ser impiedosamente denunciadas.  O Rangel tem-se saído  bem e na última Quadratura o António Lobo Xavier também encostou o Pacheco à parede, sem perder a bonomia.

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