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Não nos iluda!

por Corta-fitas, em 20.03.17

O Presidente da República adopta a política dos afectos. É legítimo? É. Não ocultou o facto antes das eleições, bem pelo contrário. Está carregado de legitimidade para isso.

Aparece a toda a hora e em toda a parte! É legítimo? É. Era expectável? Era.

Comenta tudo e mais alguma coisa! É legítimo? Humm, algumas doses de contenção seriam bem-vindas. É prudente? Não, longe disso.

Apoia o Governo de Portugal contrário à sua família política de origem e de onde obteve a maioria dos votos que o elegeu. É legítimo? É, e ainda bem que o faz. Exijo respeito pelo Governo da Portugal que, diga-se, tem tanta legitimidade política quanta fraqueza democrática e incompetência. Acima de tudo não espero, tão pouco quero, que o Presidente faça de oposição. Compete à oposição essa práctica. É o Presidente de todos os Portugueses.

Parece que por vezes se intromete no governo, chegando por vezes a parecer que faz parte dele. Deve fazê-lo? Não. Mas como está em sintonia com o Primeiro-Ministro só espero que haja mais cuidado para não abrir maus precedentes. É que Portugal continua.

Pessoalmente não concordo com este estilo de presidência, mas como democrata aceito, respeito e tolero tudo isto, embora com muito incómodo.

Agora vejo o Presidente da República regozijar-se perante as câmaras da TV que Portugal emitiu dívida a juros negativos. Perdão!?

 Primeiro, e muito objectivamente, exijo que não me tome por parvo. Não existe legitimidade para tomar as pessoas por parvas. Sabe muito bem o significado de emissões de curto prazo e emissões a 10 anos, pelo que valerá a pena recordar que são estas últimas a referência para estados de espírito, que já agora adianto, convêm ser de discrição por parte da Presidência, ainda que a evolução das taxas no mercado secundário fossem favoráveis, o que está muito, muito longe de ser o caso.

Segundo, não existe legitimidade na ilusão com que se pretendeu encharcar o espaço público. Este aspecto, embora subjectivo por natureza, é na minha opinião crucial nesta fase da vida de Portugal. A ilusão, como muitas vezes tenho dito, é a maior doença que grassa em Portugal, e embora sabendo que não é legítimo esperar que venha da Presidência acção directa para a cura, considero ilegítimo que de lá surjam sinais para manter os Portugueses amarrados à maleita, senão mesmo em agravar a mesma.

Porque é este assunto tão importante? Porque este é o indicador que nos conduz, ou não, a pedir outro resgate. Aqui não se brinca, é o ringue dos crescidos. É onde deixou de haver espaço para ilusões, intrigas e outros esquemas (embora antes de 2008 não fosse assim). O escrutínio nos mercados secundários de dívida a 10 anos agora fia demasiado fino. É para peixe graúdo. Champions League.

Quando recentemente emitimos dívida a 10 anos a cerca de 4% vi o Presidente contente com a cotação dos juros a 3,8% no mercado secundário logo após essa emissão! Agora que cotam a 4,3% vejo regozijo sobre emissões de curto prazo! Não nos iluda.

 Nota final: A espuma do dia-a-dia é o terreno da politiquice do político de segunda linha mais fracote. Os bons políticos de primeira linha falam de tendências. Do presidente espera-se que se esforce para que os últimos não sejam tentados a ir para o terreno dos primeiros. Muito menos que monte lá arraiais.

 

Pedro Bazaliza
Convidado Especial


11 comentários

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De Fernando S a 21.03.2017 às 00:23

O que é certo é que a actividade económica, o emprego, as exportações, o investimento, etc já estavam a crescer há muitos mais meses com o governo anterior ...
E estavam a crescer mais ...
Com condições externas que eram menos favoráveis do que são hoje (BCE, crescimento do Pib no exterior, preço do petróleo, câmbio do Euro, turismo a fugir destinos com terrorismo, etc)...

O que é certo é que os observadores, as agências, os investidores, os mercados, etc ... todos percebem que o crescimento actual é insuficiente e frágil, que a situação das contas públicas está hoje pior do que estava (a divida publica a crescer apesar de cativações nas despesas correntes, de cortes no investimento, e de receitas extraordinárias) e que as reformas estruturais de que o pais precisa foram revertias ou estão adiadas "sine die".

Ou seja, com o governo anterior a economia estaria hoje a crescer mais e melhor e as contas públicas estariam agora a consolidar de forma bem mais sustentável (a divida pública em % do Pib já tinha começado a descer ... agora sobe) ...

Não é dificil perceber porque razão os mercados continuam a penalizar os juros da divida publica a prazo e porque é que as agências de rating mantêm o pais no lixo (com o governo anterior já teria saido no final de 2015 ou em 2016).
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De Renato a 21.03.2017 às 11:09

A sério? Mas então, o desemprego não devia estar agora a crescer, as exportações a cair, as falências a aumentar, etc? Explique-me isso melhor, Fernando.
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De Fernando S a 21.03.2017 às 15:20

Renato,
De acordo com o que prometiam os partidos da "geringonça", agora a austeridade devia ter acabado, o Pib devia estar a crescer muito mais, a divida pública devia estar a descer, a carga fiscal devia estar a baixar, etc, etc.
Era a famosa estratégia do aumento do consumo publico e privado que devia acelarar o crescimento economico e consolidar as contas públicas.
Se esta estratégia tivesse sido seguida, no pressuposto de que teria havido dinheiro para tal, os resultados teriam sido efectivamente diferentes ... rápidamente para muito pior : rápido descalabro das contas públicas, novo resgate ou saida do Euro, uma austeridade muito mais forte, uma recessão muito mais forte com tudo o que isso implica de desemprego e empobrecimento.   
Mas acontece que, felizmente, a "geringonça", com um inteligente e cinico oportunismo politico, deu o dito por não dito, não seguiu esta estratégia.
O pior não aconteceu mas também não alcançou nada do que tinha prometido, antes pelo contrário :  a austeridade não acabou, até aumentou em certos aspectos (é o que significa a redução do déficit orçamental com um crescimento do Pib inferior : mais cortes nas despesas do Estado com os serviços públicos e com transferências, menos investimento público, mais impostos e aumento da carga fiscal, etc), o crescimento do Pib é inferior ao que tinha sido prometido, é mesmo inferior ao que existia em 2015 com o governo anterior, e é sobretudo inferior áquele que certamente existiria hoje com as condições internas (um pais mais credibilizado e a ser reformado estruturalmente) e externas (BCE, crescimento économico externo, preço do petróleo, câmbio do Euro, turismo, etc) mais favoráveis se ... o governo anterior e a politica que vinha seguindo não tivessem mudado !... 
Portanto, o grande feito do governo actual foi não ter feito o que prometeu e não estar a ter os resultados milagrosos que anunciou.
Na verdade, alguns dos resultados são piores : austeridade, crescimento, etc.
Mas mesmo os resultados menos maus, como aqueles que o Renato refere no seu comentário, que são menos maus porque, felizmente, o governo não acabou com a austeridade e não reverteu todas as reformas do governo anterior e porque, felizmente, as condições exteriores são hoje mais favoráveis, são mesmo assim menos bons do que seriam hoje se não tivesse existido uma mudança de governo e de politica : Portugal poderia estar hoje com taxas de crescimento irlandesas ou espanholas, com mais investimento privado (e até público), com maiores aumentos de produtividade e competitividade, com as exportações a crescerem mais (não apenas no turismo), com menos de 10% de desempregados, com salários reais a crescer (e não estagnados como é o caso actualmente), com uma divida pública a descer em % do Pib, com taxas de juro bastante mais baixas, com um sistema bancário mais estabilizado, etc, etc. . 
Ou seja, o cúmulo é os "geringonços" cantarem hoje vitória por estarem agora a ter resultados piores do que tinha o governo anterior ou, nos melhores dos casos, menos bons  do que estaria a ter o governo anterior se não tivesse sido substituido e se beneficiasse das mesmas condições externas favoráveis que existem actualmente.
Quanto tempo perdido e quantos recursos desperdiçados !...
E ainda não acabou nem parece que mude para melhor tão cedo !...  
E o pior pode estar ainda para vir se, como não é de excluir, alguns dos riscos conhecidos (em particular, os externos) se agravarem.
O pais está cada vez mais exposto e com cada vez menor margem de manobra !     

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