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Enquanto todo o funcionalismo público é embalado com promessas de descongelamento de carreiras, tão irresponsáveis como obscuras, cerca de 400 funcionários do Infarmed foram vítimas directas e tomaram súbita consciência da soberba, do cinismo, da opacidade e da incompetência com que um colectivo de oportunistas desgoverna o país.
Compreendo o esforço que os mansos e os aliados da geringonça nos media fizeram ontem e fazem hoje para secundarizar a notícia da mudança do Infarmed para o Porto. Às indignações de ontem por questões de lana caprina teriam que suceder hoje, perante isto e comparativamente, aberturas de telejornais arrasadoras, reportagens especialmente condenatórias, títulos de primeira página ululantes e fúrias sagradas.
Caso tivessem honra e espinha os alegados jornalistas não deixariam de registar e classificar os passos deste extraordinário processo.
Primeiro. Um chefe de governo e um presidente de câmara negoceiam um acordo que arruina as já módicas hipóteses de acolher em Portugal a sede de uma agência europeia. Lisboa poderia alimentar esperanças; o Porto não tinha nenhumas. O interesse nacional era evidente, mas os dois homens trataram do seu, e ficaram satisfeitos.
Segundo. Os mansos dos media alimentaram até à última hora a ilusão dessa vitória impossível. Mas o mesmo chefe de governo e o mesmo autarca, bem conscientes do logro, acertaram sigilosamente uma compensação para a derrota: o Porto não teria a agência, obviamente, mas ficaria com o Infarmed.
Terceiro. Sem conhecimento da direcção, sem conhecimento dos funcionários, sem conhecimento do público, sem consideração dos prejuízos financeiros, de funcionamento e de credibilidade é anunciado que uma instituição respeitada nacional e internacionalmente é mudada de sopetão da primeira para a segunda cidade do país. Costa chama a isto «descentralização» -- algo normal para quem chama «fim da austeridade» ao aumento de impostos indirectos que absorve largamente as supostas reposições de rendimentos.
Quarto. Aos 400 funcionários do Infarmed e respectivas famílias, chocados com a conspiração e a ligeireza do decreto, o ministro da saúde explica de que raça é o seu governo: se os trabalhadores não gostam, arranjam-se outros.
Temos, portanto: uma decisão ao arrepio do interesse nacional; opacidade e negociações de bastidores; outra decisão ao arrepio de considerações financeiras e do prestígio de uma instituição; e, por fim, um ministro que -- para ser-se tão brutal como ele - manda os trabalhadores à merda.
Visto isto, como reagem os mansos e os vendidos dos media?
A Sic faz a cobertura... do governo, entenda-se. Abre o telejornal das 13 referindo que os trabalhadores do Infarmed foram surpreendidos, após o que dá voz a um antigo director, ao autarca do Porto e ao ministro da Saúde para explicar que isto é descentralização, que é bom para todos, que tudo foi sopesado. Às 20 horas fez ainda melhor: só chegou a tempo do período de perguntas e respostas da conferência de imprensa dos funcionários do Infarmed. Chegou tarde porque antes teve que: a) deter-se demoradamente sobre a 5ª derrota do Benfica na Champions; b) misturar as críticas da Comissão Europeia ao OE com sonhos sobre o cargo estrangeiro de Centeno; e c) truncar afirmações do PR, de forma a que «o caminho que serve os portugueses», que Marcelo disse ser o da «sensatez orçamental», parecesse ser o caminho de Costa.
A TVi é mais tímida. Fez um directo à porta do plenário dos trabalhadores, mais gaguejadamente e com a habitual menor competência, e passou pressurosamente à premente e fugidia questão da seca.
A RTP serviu o dono. Sem tempo para transmitir as objecções dos funcionários do Infarmed, às 20 horas, cortou o directo e anunciou que convidara para uma entrevista sobre o tema o autarca do Porto, Moreira.
O Público online escolhe para manchete a Bósnia; o Diário de Notícias, a prisão de agentes da GNR.
E, assim, ao menos 400 funcionários públicos ficam a saber o que muita gente sabia e outra vai aprendendo lentamente: que o governo que espolia a economia privada para alimentar as suas clientelas é capaz do mesmo desprezo por eles, funcionários públicos; e os alegados jornalistas que trazem o funcionalismo nas palminhas só o trazem assim enquanto e nos estritos casos em que isso favoreça a sua parcialidade, o seu interesse e a geringonça.
Isto é engraçado. Andamos anos a ouvir a direita a dizer que a função pública e o Estado em geral deve ser reduzida, que temos funcionário a mais, que os funcionários são uns priveligiados em relação aos privados. Os funcionários públicos deviam ter o mesmo estauto dos privados, incluindo redução do salário quando a produtividade é reduzida, despedimentos mais livres, etc, Não é assim? Ou não era assim? A mesma direita agora, porque lhe dá jeito, indigna-se muito porque 400 funcionário em Lisboa são deslocados para o Porto. Isto é muito engraçado.
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