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Se o Senhor Presidente tivesse parado no momento em que fala do apoio ao leite português, teria mais razão de ser a sua participação numa campanha, embora não se percebesse por que razão não participaria numa campanha de apoio ao tomate português, à pera rocha portuguesa, ao azeite português, ao eucalipto português, aos lápis de cor portugueses, aos restaurantes portugueses, ou a qualquer outro sector económico português.
Mas o Senhor Presidente entende que deve apoiar a produção de leite em si mesma, argumentado que é muito importante para as crianças, jovens e para todos os sectores da sociedade.
Confesso que não entendo como em 2017 ainda se usa esta argumentação para apoiar a produção intensiva de animais, uma das mais insustentáveis actividades económicas que existem, com consumos de água e energia brutais e com impactos ambientais a jusante, nomeadamente nos solos e nas águas, que representam um custo brutal para a sociedade.
Note-se que a evolução das rodas de alimentos e das pirâmides alimentares recomendadas têm vindo a reduzir drasticamente o incentivo ao consumo de leite, mesmo das crianças. Aos jovens não faz falta nenhuma, podem beber leite, como eu bebo, porque gosto, mas não há nada de intrinsecamente bom para a saúde no consumo de leite por jovens e adultos, bem pelo contrário, quando o consumo não é limitado ("It recommends limiting milk and dairy to one to two servings per day, since high intakes are associated with increased risk of prostate cancer and possibly ovarian cancer").
Por isso, Senhor Presidente, tenho uma sugestão a fazer-lhe: deixe os produtores de leite a competir no mercado, deixe-me a mim, consumidor, premiar, ou não, os seus esforços para aumentar a sua sustentabilidade, deixe-me a mim, consumidor, decidir a quantidade de leite que me pareça adequado consumir, deixe-me a mim, consumidor, premiar os produtores que optem pela produção extensiva.
Se acha mesmo que deve entrar em campanhas para apoiar produtores portugueses, acho que seria bom ter todo o seu peso institucional a apoiar produtores portugueses que, para além dos produtos que apresentam no mercado, produzem também bens difusos socialmente úteis.
Tem agora uma oportunidade de ouro: entre, ou promova mesmo, uma campanha para desviar os apoios públicos à produção de bens e serviços de mercado para o apoio ao pagamento de serviços de ecossistema, como a gestão dos fogos, por exemplo.
Não vale muito a pena fazer platónicas declarações de amor aos que resistem a viver imersos em barris de pólvora criados pela falta de gestão e de competitividade das fileiras económicas que podem gerir o risco de fogo e, à primeira oportunidade, abandoná-los para concentrar apoios públicos em fileiras que têm mercado e que produzem externalidades negativas da dimensão das que são produzidas pela produção intensiva de gado.
Pense duas vezes, Senhor Presidente, os produtores de biodiversidade, os reguladores dos ciclos de nutrientes e da água, os gestores de paisagens ricas e diversas precisam bem mais de si que os produtores de leite.
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