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"O que deve plantar agora quem perdeu tudo?
Criámos as entidades de gestão florestal e o Estado vai avançar com uma empresa pública. Para que essas entidades geridas profissionalmente possam apresentar a essas pessoas, por exemplo, a hipótese do arrendamento dessa sua pequena parcela, que passa a ter um rendimento anual garantido. Um exemplo, avançámos com o cadastro nos 10 municípios de Pedrógão que foram atingidos pela tragédia. Há 600 mil prédios rústicos nesses 10 municípios. Ora é impossível executar um plano florestal numa superfície equivalente a um T0. Só é possível de forma agrupada e isso ou se faz por iniciativa dos privados, que forma cooperativas ou empresas ou por empresas que vão comprar ou arrendar esse património. A empresa pública que o Estado vai criar vai avançar de imediato para tentar demonstrar como é possível."
A pergunta é, em si mesma, muito reveladora: a jornalista, a sociedade, e mesmo o Senhor Ministro, acham normal perguntar-se ao Senhor Ministro o que devem as pessoas plantar, como se a função do Senhor Ministro fosse fazer extensão rural.
Felizmente não é essa a função do Senhor Ministro, porque a resposta, não sendo muito clara na forma, é muito clara no conteúdo: não faço a menor ideia do que devem as pessoas plantar e de como devem gerir as suas propriedades.
Na realidade o Senhor Ministro, na pergunta anterior da entrevista, até é um bocadinho mais arrojado tecnicamente e resolve falar mais concretamente de economia florestal: "É natural que quem investe pretenda ter um retorno e esse retorno implica plantação de espécies que tenham valor comercial. As outras [como as autóctones] têm sobretudo valor ambiental, o que sendo muito bom para o conjunto dos cidadãos, não induz ninguém a investir em algo para o qual não tem retorno. A única forma de garantir que há investimento nessas espécies é integrando-as em projectos de florestação".
Vale a pena olhar com atenção para estas respostas do homem que gosta de domesticar mercados.
Em primeiro lugar vale a pena notar a duplicidade de critério: quando o preço do leite não paga a sua produção, Capoulas dos Santos entende que deve domesticar o mercado do leite pegando no dinheiro dos contribuintes e subsidiando o sector, sem que se perceba muito bem que valor social está a ser protegido (para além, naturalmente, da sua base eleitoral, que acredito que Capoulas acredite que é um valor que interessa a todos), mas quando a produção de autóctones não é rentável, o Senhor Ministro entende que o que é preciso é que os produtores florestais se reorganizem de forma diferente, em empresas maiores, melhorando a eficiência e, com isso, libertando recursos para fazer umas flores com as autóctones. Lá o "conjunto dos cidadãos" que o Senhor Ministro entende que beneficiam com a produção de autóctones pagarem os serviços de ecossistema que são produzidos por terceiros, isso é que não, que o Estado não está cá para isso.
O Estado, diz o Senhor Ministro, está cá para fazer uma empresa pública que explique aos privados como se fazem empresas.
E o que fará então essa empresa pública?
Aparentemente, de acordo com as doutrinas de economia florestal expressas pelo Senhor Ministro, a dita empresa pública vai usar espécies florestais com valor comercial (em Portugal isso significa, essencialmente, sobreiro, se em montado gerido pela agricultura e pastorícia, pinheiro e eucalipto) para gerar recursos que permitam plantar o que não tem retorno.
Ou seja, tendo em atenção que dificilmente a tal empresa florestal vai gerir gado para manter montados, e tendo em atenção que o Governo não gosta de eucaliptos e portanto a dita empresa pública não vai plantar eucaliptos (não vale a pena pensar que o conselho de administração da empresa pública se gere por critérios técnico e económicos na sua gestão), quer isso dizer que a dita empresa pública vai plantar pinheiros para ter dinheiro para plantar carvalhos, demonstrando aos privados como se ganha dinheiro a plantar pinheiros, repetindo, pela enésima vez, o modelo florestal de Salazar, cujos resultados são conhecidos, nomeadamente nos milhares de hectares já hoje geridos pelo Estado.
Aparentemente o Senhor Ministro acredita que repetindo incessantemente as opções florestais das últimas décadas não só está a fazer uma reforma do sector, como acredita que vai obter resultados diferentes dos que se conhecem.
Boa sorte, Senhor Ministro.
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