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Não vi o programa todo, há limites para a insanidade envolvente e de vez em quando tenho de me impôr alguma reclusão em matérias de fogos, para poder manter um mínimo de racionalidade.
Uma coisa é dizer asneiras, certamente digo muitas nesta matéria (até porque o fogo não é o objecto do meu trabalho, é apenas um factor que interage com outros no objecto do meu trabalho, a paisagem), outra coisa completamente diferente é fazer um programa de televisão, em horário quase nobre, a defender que Elviz Presley está vivo.
Um jornalista encartado, considerado da elite do jornalismo, começa um programa a estranhar que o governo desvalorize o facto de Elvis estar vivo, passa depois uma peça de um motorista de taxi que garante que o transportou numa corrida desde o aeroporto ao Chiado, convida para o estúdio um indivíduo que vive de vender fotografias desfocadas de Elvis Presley na actualidade, um empresário respeitado que não faz ideia de quem seja Elvis, um académico que nunca ouviu falar de Elvis Presley e um jornalista que fez a cobertura de todas as convenções que juntam os que acreditam que Elvis está vivo e faz um debate sobre o assunto.
Factos concretos? Nenhum. Razões que expliquem por que razão Elvis estaria vivo mas isso se manteria em segredo? Nenhumas. Uma discussão de opiniões extraterrestres guiadas pelo jornalista encartado que, não se sabe porquê, está mesmo convencido de que Elvis está vivo e não precisa de respeitar qualquer regra básica da profissão para o dizer em antena, em horário quase nobre, simplesmente porque essa é a sua fé.
Foi, no essencial, o que vi na quarta feira à noite, num programa em que José Gomes Ferreira, com a maior das latas, inversamente proporcional à racionalidade da tese, resolve desenvolver em directo uma teoria de conspiração, ao nível dos chem trails, sobre a existência de criminalidade organizada que gera os fogos que têm acontecido em Portugal.
Indícios da existência de criminalidade organizada?
Parece que sim, que existem: alguns fogos são registados pelo sistema de vigilância de fogos a horas que se consideram impróprias, onde há um fogo pode haver outros e coisas que tal.
E sobretudo um argumento muito forte: eu sei muito bem que o primo da mulher do vizinho do terceiro andar, que está metido nisto até às orelhas, comprou três dúzias de caixas de fósforos na drogaria da esquina porque a minha mulher dá-se muito bem com a cabeleireira que é a amante do dono da drogaria.
De resto, explicar a racionalidade económica do negócio, identificar sinais dessa organização terrorista nas investigações judiciais, encontrar as ligações entre os seus membros, etc., isso é coisa para meninos, a José Gomes Ferreira isso não interessa nada, basta-lhe a sua convicção para, em antena, montar um programa que pretende demonstrar a sua tese: na base dos fogos actuais está a criminalidade organizada.
Admito que nos intervalos deste esforçado trabalho, José Gomes Ferreira se queixe da crise do jornalismo e de como é difícil fazer bom trabalho jornalístico para públicos tão pouco exigentes, cultos e sabedores.
Enfim, pérolas a porcos, mas como poderia ser diferente para quem só sabe produzir pérolas, qualquer que seja o público.
É pena tanta grandeza ficar confinada na fatalidade de se ter nascido num país pequeno e pobre, incapaz de reconhecer globalmente o brilho intenso de tanta genialidade jornalística.
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