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Manuel Carvalho faz um invulgar reconhecimento dos méritos do governo anterior ("teve coragem, energia e determinação para traçar um rumo. Governou o país na mais terrível conjuntura em décadas e deixou-o melhor para o primeiro-ministro que lhe sucedeu. Deixou-o com um défice controlável e, principalmente, liberto da sensação de que o Estado estava capturado por figuras como Ricardo Espírito Santo ou empresas como a Ongoing.").
Mas simplesmente reconhecer que o governo anterior cumpriu essencialmente o seu papel, entregando um país melhor que o recebeu, é o caminho certo para o abismo de um jornalista, a ruptura com as suas redes de influência, profissionais e de amizade, por isso é um passo que não pode ser dado pelas elites da imprensa.
Por isso, para fazer o reconhecimento de que o governo anterior foi um governo normal e que cumpriu o essencial das suas obrigações, é preciso acrescentar que o governo actual é igual ao governo anterior (sem nunca, mas nunca, fazer notar que os resultados governo actual não resultam da alteração das políticas anteriores, mas sim da sua manutenção, apesar da retórica demagógica que tenta demonstrar o contário) e que Passos Coelho e Costa são essencialmente iguais.
Como na verdade não são iguais (quando Passos Coelho demonstrava "coragem, energia e determinação para traçar um rumo", Costa empenhava-se em atacar as políticas que agora aplica com base em argumentos demagógicos, quando Passos Coelho evitava estar sempre a atirar responsabilidades para o governo anterior, que lhe deixou o país como deixou, Costa continua a falar sistematicamente da herança que recebeu, recusando-se a discutir seriamente a evolução que houve entre o que Passos herdou e o que deixou em herança, etc.) Manuel Carvalho vê-se obrigado a uns truques de retórica.
O culminar desta vontade férrea de evitar reconhecer que Passos Coelho foi muito melhor governante do que Costa tem demonstrado até agora, talvez sejam estes dois passos do artigo que Manuel Carvalho escreveu:
"o líder do PSD põe-se em bicos de pés e tenta que o ouçam com a mensagem de sempre - "não podemos cometer os mesmos erros", disse outra vez esta segunda-feira".
"a verdade é que este marco (a saída do procedimento por défice excessivo) do final de um ciclo só será mesmo importante se, como prometeu António Costa, esta "for a última vez que passamos por um processo tão traumático"".
Ou seja, Manuel Carvalho acha que tudo só será importante se, tal como dizem Coelho e Costa, esta for a última vez, mas Passos Coelho dizer isto é a demonstração de que é um idiota a pôr-se em bicos de pés, ao passo que Costa dizer o mesmo é a demonstração do comportamento responsável de Costa, provavelmente, acrescento eu, tão responsável como quando apoiou as políticas que nos levaram ao resgate e como, durante o resgate, fingiu que havia uma estratégia de empobrecimento absolutamente ilegitima provocada por um governo de masoquistas por mera cegueira ideológica e como hoje nega qualquer responsabilidade do governo anterior na melhoria da situação do país.
Eu entendo, é preciso fazer pela vida, e dizer simplesmente que Passos Coelho foi um razoável governante é um risco que qualquer jornalista é obrigado evitar, se quiser continuar a ser considerado pelos seus pares.
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