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A comparação é injusta.
D. Dinis não fez reforma florestal nenhuma, até porque herdou de seu pai um país quase sem árvores.
Limitou-se, isso sim, a mandar pôr árvores nuns milhares de hectares de areias que se tinham acumulado na costa de Portugal, desde que as arroteias da Alta Idade Média peninsular empurraram milhões de metros cúbicos de sedimentos pelos rios abaixo.
Não prometeu um cadastro de jeito, não alterou pela sexta vez em pouco mais de dez anos um sistema de defesa de floresta contra incêndios, não proibiu a expansão de nenhuma espécie de árvore, não inventou um sistema kafkiano para garantir uma área de fogo controlado acima de qualquer objectivo realista, etc..
D. Dinis limitou-se a florestar, com o seu dinheiro, uns terrenos maninhos, uma coisa que nem de perto nem de longe se aproxima da grandeza do que agora se propõe: obrigar terceiros a gerir terrenos de outros terceiros com o dinheiro de terceiros terceiros.
Quem assume galhardamente os louros de Alqueva, sem medo de chamar a si decisões que foram essencialmente de outros, decretando uma unanimidade nacional sobre o assunto – confesso o meu anti-patriotismo que quebra a unanimidade, ainda hoje acho Alqueva um erro, mesmo sabendo dos seus efeitos positivos, que também os tem – não tem medo de críticas, leva reformas até ao fim, contra tudo, contra todos.
É um orgulho ter governantes que se orgulham de fazer reformas que têm o grande mérito de serem explicitamente contra o que dizem os cientistas, essa corja de inúteis que desconhece as virtudes da ignorância aplicadas à política e que se recusa a aceitar as sábias palavras de Mário Centeno: “Não tente transpor conclusões de artigos científicos para a legislação nacional, porque se tentar fazer isso é um passo para o desastre”.
Claro que quem assim assume responsabilidades em Alqueva, sabe bem que pôr em paralelo Alqueva e a actual Reforma Florestal faz todo o sentido.
Alqueva é um projecto concreto de investimento no território, que captou 11% de todo o dinheiro disponível para o mundo rural, para o aplicar em pouco mais de cem mil hectares, numa evidente recriação do paraíso capitalista: socializar os custos e privatizar os benefícios.
A Reforma da Floresta não tem orçamento definido, muito menos 11% do disponível para o mundo rural por cada 100 mil hectares – compreende-se, para aplicar a mesma lógica de Alqueva aos 6 milhões de hectares de espaços florestais seria necessário investir mais de 500% do disponível – e na verdade pretende fazer o inverso de Alqueva: privatizar os prejuízos e socializar os benefícios, embora haja alguma indefinição sobre que benefícios resultarão da Reforma Florestal.
Não saber que benefícios se vão alcançar com a Reforma Florestal não passa de um pormenor, os benefícios, mesmo que não estejam explícitos, são óbvios e só não os vê quem não quer.
E os que não os querem ver são os mesmos que produziram mais de seiscentas participações na discussão pública da Reforma da Floresta. Agora queixam-se de não verem nenhuma alteração resultante dessa discussão nos documentos posteriores à discussão pública e são incapazes de ver os benefícios que se abaterão sobre o país a partir da Reforma Florestal.
Já para não falar dos que, como eu, não se deram ao trabalho de fazer qualquer contributo formal para a discussão dos diplomas da Reforma da Floresta, apenas escrevendo aqui ou ali sobre o assunto, porque já sabem do que a casa gasta, sabem bem o que o actual ministro fez às agro-ambientais (e à generalidade dos dinheiros para o mundo rural), ou na discussão do financiamento da Rede Natura 2000, para evitar que o dinheiro fugisse das suas clientelas (o leite, o porco, os cereais, enfim, gente que vale votos) para as necessidades reais de gestão do território que produz bens difusos, mas não dá retorno em votos.
Tudo gente sem qualidades, tudo gente que não sabe reconhecer o valor dos outros, tudo gente incapaz de ver a gigantesca Reforma da Floresta que está em curso.
Tudo gente que apenas insinua que foi exactamente a opção de concentrar recursos em Alqueva e outros projectos afins, no apoio à produção, no apoio aos rendimentos históricos dos produtores de cereais, no estabelecimento de um preço político para a água do regadio de Alqueva, em detrimento de um preço real que reflicta todos os custos, foi essa opção de concentrar todos os recursos na produção agrícola que implicou o abandono dos espaços rurais produtores de serviços de ecossistema, mas com problemas sérios de competitividade.
Não têm razão, agora, graças a umas leis, tudo vai mudar, o abandono vai desaparecer e a gestão florestal vai florescer como floresce o olival intensivo no perímetro de rega de Alqueva.
Os proprietários, as indústrias do sector, os investigadores do sector, toda essa gente não sabe o que diz quando diz que a Reforma Florestal “é sempre um esforço inútil, um voo cego a nada”, como diria o Reinaldo Ferreira.
Falando nisso, se fosse vivo, Reinaldo Ferreira provavelmente seria uma boa opção para gerir a Reforma Florestal porque pelo menos reunia a principal qualidade que parece ser necessária para a apoiar: não fazer a mínima ideia do que é gestão florestal.
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