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Centrais de biomassa

por henrique pereira dos santos, em 23.01.18

Ao que parece, o Governo anda outra vez de volta de centrais de biomassa como instrumento de gestão do fogo.

Este é um longo disparate, que atravessa vários governos, de vários partidos, sem que alguém se resolva a perguntar aos membros dos vários governos quanto custa isto.

No que diz respeito ao investimento ainda aparecem uns números, mas no que diz respeito ao custo para a economia da tarifa diferenciada que permita viabilizar as centrais, aparentemente ninguém tem curiosidade em saber.

Uma coisa são centrais de biomassa para valorização de resíduos industriais, ou mesmo florestais, que estão concentrados num sítio em função da actividade produtiva principal, e que têm algum potencial energético, outra coisa muito diferente é pretender que as centrais de biomassa podem ter um papel relevante na gestão do fogo, sem que se apresentem os números de forma clara. As primeiras são úteis e viáveis, apoiando uma economia mais circular, as segundas são um contrasenso económico e ambiental.

Os matos são, antes de mais nada, ar e água, ou seja, têm um potencial energético relativamente baixo e o seu custo de transporte é colossal, já para não falar do custo do corte.

Se o Estado entende que deve empenhar os recursos das pessoas comuns na gestão de combustíveis (e eu acho que sim, embora conheça bastante gente que acha que não) para poder gerir o fogo de forma socialmente aceitável, o que precisa de fazer é de olhar para as diferentes hipóteses, calcular os custos e as dificuldades técnicas e sociais de cada uma, e apoiar o que tenha melhor relação custo/ benefício.

Ora as centrais de que se fala têm um custo brutal e dificilmente usam matos (ainda que se venha adoptar uma tarifa mais favorável para lhes dar rentabilidade, o resultado não é o uso dos matos mas sim o desenvolvimento de culturas dedicadas na envolvente da central).

O que o Estado tem a fazer é definir o preço por hectare que está disponível para pagar pela gestão de combustíveis (no caso do fogo controlado estabeleceu 120 euros por hectare) e deixar à sociedade a adopção do método que entender usar para obter esse resultado: centrais de biomassa, corte mecânico, corte motomanual, fogo controlado, pastoreio, herbicida, o que entender. O Estado avalia resultados, e paga pelo serviço prestado, e não pela técnica usada para o obter.

Vamos admitir que o Estado pretende limtiar algumas possibildiades, por exemplo, o uso de herbicidas. Muito bem, proíbe ou limita esse método. Vamos admitir que o Estado pretende que se faça prioritariamente gestão da rede primária de Defesa da Floresta Contra Incêndios. Muito bem, atribui prioridade na aprovação dos projectos que se localizem nessas redes e, se quiser, até atribui uma majoração ao apoio.

Mas deixa à sociedade e à economia a liberdade de escolher o método para obter o resultado pretendido.

Por favor, deixem de me impingir soluções absurdas, ineficientes e caras através de financiamento preferencial que alguém decidiu sem verdadeiramente avaliar alternativas.

Não entendo por que razão produzir electricidade deve ter prioridade sobre a produção de cabritos. Não entendo por que razão a electricidade tem uma tarifa preferencial e garantida e o cabrito não. Não entendo por que razão as centrais de biomassa industriais têm financiamento ao investimento e as centrais de biomassa naturais não. Não entendo por que razão se apoia o transporte de matos, assente em energias fósseis e não se apoia a deslocação das centrais de biomassa ao mato, assente em energias renováveis.

Centrais de biomassa por centrais de biomassa, prefiro as que se deslocam ao mato pelo seu pé.


2 comentários

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De José Monteiro a 24.01.2018 às 20:33

Um bom alerta, agora que vem aí uma central para o Fundão.
Associar tal limpeza de pinhais abandonados e fogos de verão, roça realmente o absurdo.
Elucidativo, para mim.
Obgd
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De Anónimo a 25.01.2018 às 23:17

Sr. H. Pereira dos Santos:
O Sr. arranja os pastores?

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