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Pedro Sales

por Francisco Almeida Leite, em 04.06.08

 

Formas de populismo

 

Manuela Ferreira Leite ganhou as directas no PSD sem apresentar nenhum programa ou proposta que se visse. Para quem passou três semanas a denunciar o predomínio da imagem na politica, convenhamos que conviveu muito bem com uma campanha toda ela assente na sua imagem de marca como "dama de ferro". O curioso é que essa campanha é a outra face da mesma moeda que pretende denunciar, ficando por perceber qual é a pior forma de populismo. O que vende a ilusão de tudo mudar com as promessas irrealizáveis que não hesita em efectuar ou aquele que, nada dizendo, pretende vender as mesmas ilusões com base numa "imagem de marca" previamente criada.
 
Pedro Sales (do blogue Zero de Conduta)

António Godinho Gil

por João Távora, em 03.06.08

Minimal

 
I - A vidinha a vidinha a vidinha a prestaçãozinha a vidinha a vidinha o fim de semaninha a vidinha a abstençãozinha a vidinha a cuequinha a vidinha a vidinha a missinha a vidinha o coitadinho o segredinho a vidinha a vidinha o poupadinho a vidinha a queixinha a vidinha o sofazinho a vidinha a vidinha o filhinho na escolinha a vidinha a vidinha o sossegozinho o alternezinho a vidinha o teatrinho a vidinha a vidinha as feriazinhas a vidinha a garagenzinha incluidinha a vidinha a vidinha a promoçãozinha a vidinha devagarinho devagarinho a vidinha a fintazinha a vidinha a vidinha o arranjinho o mais que tudinho as batatinhas a vidinha a vidinha a copulazinha sábado à noitinha a vidinha a vidinha a reformazinha a vidinha o dinheirinho a vidinha a vidinha o dominguinho a vidinha o queridinho a queridinha os pasteizinhos as pantufinhas o arzinho a viagenzinha o zezinho a vizinha o sorrisinho de manhãzinha devagarinho a virtudezinha o cuidadinho devagarinho a vidinha a vidinha a vidinha.
 
II - A vidinha lá fora, a vidinha a querer entrar, devagarinho, a vidinha a escusar-se graciosamente ao soco, ao pontapé, ao empurrão, aos cornos da verdade, a vidinha a crescer, a crescer numa voragem vegetal, imparável, a vidinha e as suas mil desculpas para não ser vidinha, a vidinha embaraçada por não conhecer a vertigem, o medo, o êxtase, a inquietude, a nudez, a vidinha a olhar para o relógio, a vidinha a querer passar por outra coisa, quando só quer ser vidinha, cada vez mais vidinha, exclusivamente vidinha, escancaradamente vidinha, eternamente vidinha, superlativa e esdrúxula, a vidinha circunspecta, a vidinha a esconder as suas grilhetas, a vidinha a assoar-se, a vidinha a ir às putas, a vidinha a corar, a vidinha a vidinhar, a vidinha a puxar as ligas, a vidinha agorafóbica, a vidinha vestida de preto, a vidinha a crescer, a vidinha a puxar a corda, a vidinha a tombar, graciosamente, é claro, a vidinha à minha espera.
 
III - A vidinha acorda. A vidinha irrompe na voz fanhosa do locutor. A vidinha coçante, descolhoante. A vidinha que nos segue para todo lado, com palavras grandes e outras que nada dizem. A vidinha a puxar para um passado que nunca existirá. A vidinha a chamar-nos, sem pudor, para o habitáculo possível. A tal que nos impingem nas escolas, nas cátedras, nos discursos edificantes, nos balcões da burocracia, na cultura, nos dois minutinhos de publicidade bancária na rádio, prometendo o céu em troca de juros a 20%. No final, vai-se ver, e o fato nunca nunca está à medida. Então entra a vidinha, refulgente, gloriosa. A tal. A da mentira sufocante. A esdrúxula, a inquietante, a pasteurizante, a rasticolante. Lembram-se?
 
António Godinho Gil (do blogue Boca de Incêndio)

Miguel Marujo

por Pedro Correia, em 02.06.08

 

Bowling for Darfur

 

«Os assassínios entre tribos eram resolvidos por meio de uma escala variável de indemnizações de sangue - cem camelos por um homem, cinquenta por uma mulher.
Uma máquina com quatro quilos e meio de peso, composta por onze peças desmontáveis, acabou com estas tradições ancestrais.
A vaga de carabinas Kalashnikov a baixo preço que invadiu Darfur fez diminuir o valor da responsabilidade individual na guerra. Minou o poder das autoridades tribais. Os jovens que outrora entoavam cânticos às suas vacas favoritas, agora dedicam serenatas às suas armas: "A Kalash dá cash, sem Kalash é-se trash".»
[Paul Salopek
http://ngm.nationalgeographic.com/2008/04/sahel/paul-salopek-text, NGM, Maio, 2008]


Este breve excerto de uma reportagem no Sael, de um jornalista que acabou preso e maltratado às mãos de combatentes pró-Cartum, é uma pequena mostra da imensa hipocrisia em que se mete a chamada comunidade internacional. O Darfur, o Chade, a Tchetchénia, o Médio Oriente, a Cova da Moura ou a Bela Vista, seriam locais mais felizes sem kalashes. Os países ocidentais e a Rússia e a China fingem-se preocupados com os conflitos que estalam aqui e ali, estendem as mãos para a ajuda humanitária, mas com uma mão tiram o que a outra dá: mantêm uma indústria cada vez mais lucrativa de armamento que, em tempo de pax romana, só pode viver destas guerras pequenas, fratricidas.

Como Portugal se sobressalta de quando em vez com carjackings e crimes na noite, enquanto o Governo promove campanhas de recolha de armas ilegais (dois anos depois da aprovação da Lei nº 5/2006, de 23 de Fevereiro, que não penalizava os detentores de armas não licenciadas e que pretendessem regularizar a sua situação ou entregá-las), mantém uma forte aposta nas suas empresas de armas. A hipocrisia é deliciosa. A crise humanitária a que a dita comunidade internacional vai acorrendo resolvia-se com a proibição de armas e o não fabrico das mesmas. É claro que é mais fácil – e uma boa maneira de começar – atacar as minas antipessoais. Dá uma boa foto com uma princesa do povo. Mas falta também atacar aquelas que são as armas que fazem diminuir o valor das vidas humanas nas terras áridas do Darfur, nas ruas de Gaza, nos musseques de Luanda ou nos becos da Cova da Moura. Chamem-me ingénuo. Quero acreditar que se pode mudar um bocadinho este mundo.

 

Miguel Marujo

(dos blogues Cibertúlia e E Deus Criou a Mulher

Vítor Cunha

por Francisco Almeida Leite, em 01.06.08

 

O salazarismo que há em nós

  
Uma destas noites ouvi parte de uma interessante conversa entre Constança Cunha e Sá e Silva Lopes, na TVI. Silva Lopes é uma daquelas figuras que apetece ouvir, mesmo quando se discorda: exibe liberdade, sinceridade e autoridade. Estas coisas, quando são verdadeiras, percebem-se até pela linguagem corporal. Silva Lopes estava descontraído e gesticulava livremente conferindo ao seu discurso uma autenticidade que os «certinhos» do costume não conseguem imitar – porque são falsos.
 A conversa ia longa. Eis senão quando o professor deixou cair um comentário lateral que me deixou a pensar: para salientar o espírito algo volúvel dos portugueses utilizou o velho exemplo dos sinais de luzes que os condutores utilizam para avisar os outros da presença de forças policiais na estrada. Esse hábito português tem sido muitas vezes referido como sintoma de atraso civilizacional. Permitam-me discordar. Nesta crítica detecto um resquício invisível da herança cultural salazarista. A ideia de que o Estado através dos seus inúmeros agentes deve estar em cada esquina a vigiar-nos, pronto para mais uma multa, é tão absurda como culturalmente obsoleta. Em Espanha, por exemplo, a localização de todos os radares de controlo de velocidade está disponível em diferentes sites. Não é função do Estado garantir a nossa segurança na estrada pela via da repressão. É mais eficaz para garantir o cumprimento das velocidades autorizadas, numa auto-estrada, um carro caracterizado da BT do que um anónimo. Esse carro anónimo é uma expressão de visão repressiva do Estado e própria de sociedades que prezam mais a força do que a liberdade e a responsabilidade. E o tal sinal de luzes é mais eficaz no aconselhamento à moderação do que uma brigada escondida num arbusto. Evita a multa e obriga a travar. É isso que se espera do nosso Estado: mais do que existir para punir, deve estar presente antes do arbusto e enviar todos os sinais de luzes.
 
Vítor Cunha (do blogue 31 da Armada)

Sérgio Lavos

por Pedro Correia, em 01.06.08

Um mês de quarentena

 

A vida cansa. O Verão está quase aí e a selecção Scolari prepara-se para mais um mês de paciência moída, esperas a jogadores, desvario de jornalistas em reportagem, peregrinações de autocarro, lamentações escatológicas de Pacheco Pereira e outras deambulações pelo lado mais negro da alma humana.

Avanço pelo cinismo dentro, claro, admitindo que talvez, reafirmo, talvez, passe este mês colado ao ecrã, de jogo em jogo, adequando horário laboral às melhores partidas e aos jogos da selecção. Eu sei que assim será, mas bem que me poderiam poupar os preliminares e o cigarrinho posterior. Vamos falar claro: não quero telejornais infindáveis sobre a dieta dos jogadores, os treinos dos jogadores, as mulheres dos jogadores, a ausência de vida sexual dos jogadores, as fãs dos jogadores, os velhos da aldeia que vêem a banda passar sem que a banda se digne a parar por eles (mas um microfone, esse, pára por qualquer coisa); aceito um pouco de comentário do Luís Freitas Lobo ou do António Tadeia, mas por favor não convidem o Oliveira do alho no balneário ou o Artur "olho negro" Jorge para dissertar sobre o trabalho do seleccionador ou as vicissitudes do apoio de um país à selecção; transmitam na televisão as grandes partidas de campeonatos de outros tempos, mas evitem os vislumbres dos toques do Ronaldo (apesar de andarem pelo You Tube umas imagens fantásticas de Ronaldinho e outros jogadores da selecção brasileira a curtirem com a bola num treino); podem mostrar entrevistas do Eusébio a falar do Mundial de 66, mas recusem o facilitismo da conversa com o emplastro sobre as decisões tácticas do seleccionador nacional.

Eu sei que posso escolher: mudar de canal, desligar o televisor, sentar-me a ler um livro - ou até voltar a ligar o aparelho e aproveitar para ver na Eurosport as retransmissões de partidas clássicas de antigos campeonatos. Mas, por defeito cultural (a minha portugalidade), queixo-me. Um mês de paz e sossego (relativos), de cerveja na mão e comemorações na rua, alegria para esquecer o cansaço da vida, uma dieta contida de transmissões sem gordura, sem refegos e enchidos para dar cabo do colesterol e da paciência.

A maior conquista de Scolari? Pôr um país inteiro um mês de quarentena. Aposto: se Cristo voltar à Terra em Freixo-de-Espada-à-Cinta, bem no centro da aldeia, ninguém o notará; Portugal prepara-se para se exilar de si próprio.

 

Sérgio Lavos (do blogue Auto-Retrato)

António Pais

por Pedro Correia, em 31.05.08

Ainda bem que não fugi com a Grace Jones

 

O Corta-Fitas, pela mão do Pedro Correia, desenrolou uma passadeira vermelha para um texto meu. Fiquei bloqueado. Há dias assim. Sento-me à frente do computador há pelo menos cinco dias e... nada. O ecrã continuava branco... quando hoje me vi em Hollywood a pisar uma passadeira vermelha ao lado da Faye Dunaway, no lugar do canastrão do Warren Beatty, agarrar-lhe na mão e voltar às estradas americanas como Bonnie and Clyde. Não recebi nenhum Oscar mas foi um momento único. Até à data nunca tinha pisado uma passadeira de tal cor nem conhecido uma estrela de cinema. O melhor que consegui, até hoje, foi viajar com a Grace Jones. Foi num vôo de Turim para Londres. Mas ela não me ligou nenhuma. Eu também não lhe dei confiança para grandes intimidades. Nunca saberei o que teria acontecido se lhe tivesse dado confiança. Possivelmente não estaria para aqui a bater no teclado e a fazer um intervalo para ir ver a final da Champions que o Manchester venceu injustamente. Mas lá estava, agora em Moscovo, mais uma passadeira vermelha que nunca pisarei. O jogo foi bom mas o melhor foi a cerimónia da entrega da taça com a presença de Bobby Charlton que há 50 anos sobreviveu ao acidente de Munique e que há 40 levantava esta mesma taça numa final, em Wembley, contra o Benfica também com prolongamento mas sem penaltis. Ainda bem que não fugi com a Grace Jones.

 

António Pais (do blogue Fim de Semana Alucinante)

Rodrigo Adão da Fonseca

por Pedro Correia, em 31.05.08

 

 

 

 

Os caminhos do socialismo e da social-democracia

 

 

Portugal é – pode começar a cair o Carmo e a Trindade! - o país da Europa com maior desigualdade entre ricos e pobres, atrás da pérfida América.

Não deixa de ser curioso que o seja, já que cerca de 50% da riqueza produzida é canalizada para o Estado, para que este promova a sua redistribuição, segundo os critérios de uma das Constituições mais socialistas em vigor no espaço europeu. Se a esta notícia juntarmos outras, conhecidas esta semana, que diziam que os jovens, entre os 25 e os 34 anos, têm um rendimento médio abaixo dos 700 euros, ou que os reformados, como escrevi na 'Atlântico', em 2006, tiveram uma pensão média de 462 euros (o que significa que a maioria recebe abaixo deste patamar), é caso para dizer: que raio de socialismo é este, são estes os caminhos da social-democracia?

Se são, então digo: não, obrigado… passo.

Haverá certamente quem clame, em face destes tristes resultados, pela necessidade de acentuar ainda mais a intervenção do Estado na redistribuição da riqueza, na prestação dos "serviços públicos essenciais", na educação, na saúde, na tributação da riqueza.

Talvez tenha chegado, porém, a hora de concluirmos que o socialismo em Portugal é uma utopia utilizada para mascarar a apropriação da riqueza por alguns, à custa dos restantes, sob o manto de uma vaga ideia auto justificada de "bem-comum". E que a social-democracia nacional, de tanto clamar pelo "social" e pela protecção dos mais pobres, sem colocar no topo do discurso – e, sobretudo, da prática política – o que realmente interessa – educação, exigência, inovação, produtividade, exportações – está a tornar o País ainda mais fraco, ainda mais pobre.

É que não há país que tenha reduzido a desigualdade colocando tanto ênfase no discurso miserabilista. Foi tornando os cidadãos mais competentes, mais capazes, mais autónomos e as instituições (públicas e civis) mais sólidas que os países reduziram a pobreza.

 

O mundo está cada vez mais difícil, e os líderes políticos, em vez de apelarem ao rigor, ao optimismo, ao trabalho, ao arregaçar de mangas, conjugarem apenas, educação na exigência e na competência, produtividade, exportações, não, perdem-se na batalha por saber quem é mais "humano", mais "social", mais preocupado com "os pobres e desfavorecidos".

Num país de mariquinhas e medricas, é nisso que os nossos políticos do centrão nos querem tornar? Foi a explorar as fraquezas de espírito que os nossos reis conseguiram resistir a mouros, espanhóis, franceses, foi para acabarmos assim que explorámos mares e continentes, e emigrámos para todos os cantos do mundo? Estamos assim tão mal, para ficarmos paralisados e obrigados a aturar políticos que acham que somos todos uns clones do Calimero?

 

Para quando um líder político disposto a explorar as capacidades dos portugueses, e o espírito de iniciativa e risco que, felizmente, ainda não morreu em Portugal?

 

Rodrigo Adão da Fonseca (do blogue Blue Lounge)

Luís Bonifácio

por Pedro Correia, em 30.05.08

O melhor filme sobre os Capitães de Abril

"Os Amotinados do Caine", um dos filmes que Pedro Correia escolheu, e bem, como pertencentes à lista dos melhores da história do Cinema, não só é pela magistral interpretação de Humphrey Bogart, já afectado pelo cancro que o mataria no ano seguinte, mas também por ser o melhor retrato do funcionamento da instituição militar, não só americana, mas mundial. Pela parte que nos toca, "Os Amotinados do Caine" é uma representação em sentido figurado do 25 de Abril.

No filme Bogart interpreta o papel de um comandante autoritário que a usa para mascarar a sua incompetência.

O imediato, interpretado por Van Johnson, é influenciado por um oficial miliciano, escritor na vida civil, interpretado por  Fred MacMurray, que o convence de uma suposta doença mental do comandante. Quando o destroyer é apanhado por um tufão, a inabilidade do comandante convence o imediato a mandar prendê-lo e tomar o comando do navio.

No tribunal marcial que se segue, o imediato senta-se no banco dos réus enfrentando uma pena de morte. Quando interrogado, Fred MacMurray nega qualquer envolvimento no motim. O imediato escapa à pena de morte quando Bogart não aguenta a pressão do interrogatório (José Ferrer faz de advogado) e vai-se abaixo.

No final Bogart é colocado num obscuro depósito naval, o imediato é nomeado comandante de uma lancha de desembarque, sinal de que a sua carreira acabou ali. Quanto a MacMurray, espera que a guerra acabe para voltar à lucrativa profissão de escritor.

Ao ver o filme na primeira vez que passou em Portugal, veio-me à lembrança Salgueiro Maia e a entrevista que deu antes de morrer. Nela Salgueiro Maia era um homem amargurado.

Amargurado com o país que saiu do 25 de Abril;

Amargurado com a vida e com a sua carreira estagnada;

Salgueiro Maia era a personificação do imediato dos "Amotinados do Caine". Influenciado pelos oficiais milicianos intelectualizados, saídos das revoltas das universidades nacionais, rebelou-se contra a cadeia de autoridade vigente e que mantinha Portugal num beco sem saída. Os mesmos intelectuais que o influenciaram agradeceram-lhe e mandaram-no de volta para o quartel. A nova hierarquia militar, não comprometida nem com o anterior regime nem excessivamente com o 25 de Abril, estagnou-lhe a carreira, pois quem se rebela uma vez, mesmo que por razões mais que justificadas, deixa de merecer a confiança, pois pode rebelar-se uma segunda vez.

Aconteceu com Salgueiro Maia, aconteceu com todos os proeminentes capitães de Abril.

Nenhum chegou a oficial-general.

 

Luís Bonifácio (dos blogues Cartas PortuguesasNova Floresta)

Pedro Soares Lourenço

por Pedro Correia, em 29.05.08

 

                                                                 

 

'Stress' dos Justice ou 'La Haine' de Mathieu Kassovitz revisto e ampliado

 

Em 1995 Mathieu Kassovitz chocou Cannes e o mundo com La Haine, um fresco realista sobre a sobrevivência nos subúrbios parisienses. Em La Haine tudo começa com uma agressão policial a um grupo de jovens. Dez anos mais tarde, fora do grande ecrã, nas ruas francesas, um episódio semelhante provocou o caos durante cerca de um mês. Caos só contido com tanques nas ruas.

Depois de Machine Gun, dos britânicos Portishead, a guerrilha urbana dos Justice. De facto os tempos não estão fáceis, muito menos para brincadeiras. O clip dos Justice apresenta-se como um golpe comercial muito bom. Mas é impossível reduzi-lo apenas a "isso".

Os franceses Justice que ajudaram a emoldurar o nosso verão de 2007 com Dance, uma vibrante e fresca pitada de "french touch" embrulhada num dos clips do ano, perderam a paciência para ritmos delicodoces e partem a loiça toda com o seu novo tema: Stress, pujante electro-house à beira do colapso techno(lógico).

 

 

 

Lixo, grita o povo a plenos pulmões em fóruns e caixas de comentários espalhadas por essa Rede fora. Luxo, afirmo eu. Obra-prima do videoclip, seguramente, uma das melhores manifestações artísticas do ano. Neste Stress não fica pedra sobre pedra na Polis. Nem nós, confortáveis espectadores, estamos a salvo. Cuspidos e agredidos na sequência final do pequeno filme, acabamos com a visão tolhida. Estaremos todos cegos?

Bem podem os meus queridos amigos apelidarem-me de fascista (não se apoquentem há outros tantos que me apontam o dedo e gritam "comunista"!) que não mudo de opinião.

A realidade (sim é de realidade e não de fantasia que nos fala Stress) aqui apresentada está em expansão mas tem solução. E esta não está no pomposo e decadente Estado de Direito Democrático e Social, na polícia, nos tribunais ou muito simplesmente num cobarde cavalo-marinho. Não é com flores ou amor que se combate o ódio. Nunca foi e nunca será.

 
Pedro Soares Lourenço (do blogue Arcádia)
 

Samuel de Paiva Pires

por Pedro Correia, em 29.05.08

Os jovens e a política

 

Nesta oportunidade que desde já agradeço, aproveitando a minha condição de jovem adulto cuja maior parte do tempo é dedicda a actividades relacionadas com política, quer a nível académico quer a nível prático, acabei por me decidir a deixar mais algumas suposições sobre o tema dos jovens e a política, lançado para a agenda mediática pelo Presidente da República, nas comemorações do 25 de Abril.

Dei novamente uma vista de olhos pelo discurso de Cavaco Silva e pelo estudo encomendado à Universidade Católica, o que logo de seguida me suscitou diversas razões justificativas do tão falado alheamento dos jovens portugueses em relação à política.

Grande parte das preocupações do Presidente da República prendem-se com o desconhecimento ou ignorância em relação ao que foi o 25 de Abril e os seus intervenientes, o que é desde já explicável pela gritante degradação do sistema de ensino, desde a chamada Revolução dos Cravos. A III República, naturalmente avessa à palavra elite, tem simultaneamente apregoado uma alegada igualdade, não fugindo o sistema de ensino a esse estigma. Não só se têm nivelado por baixo as exigências a alunos e professores, como os programas e manuais escolares se têm tornado cada vez mais básicos à medida que o tempo passa, o que é rapidamente verificável passando os olhos pelos livros de História do ensino básico, onde não mais de oito ou nove páginas se dedicam ao regime de Salazar e à transição democrática, sem falar que na maior parte dos anos lectivos nem sequer chegam a ser leccionadas tais matérias. Além do mais, a provinciana síndrome de um país de "doutores e engenheiros", traduzida pela exacerbada primazia dada às ditas ciências duras, a Medicina, as Engenharias, a Economia, a Gestão e o Direito, tem retirado espaço e tempo às ciências humanas, nomeadamente às traves mestras dessas, a História e a Filosofia, o que aliado à lógica de decorar por detrimento de pensar, numa sociedade largamente massificada em todos os sentidos, resulta no estado de coisas que está à vista de todos.

Porém, a quantidade de cursos de Ciência Política e Relações Internacionais existentes num país tão pequeno como o nosso leva-nos a pensar que afinal os jovens até se interessam por política, de tal forma que o número dos que prosseguem estudos superiores na área é algo elevado. Mas como explicar que a maioria dos licenciados da área esteja no desemprego, ou em empregos de outras áreas? Ora, num país com uma máquina pública envelhecida em termos de recursos humanos, estes poucos mas, ainda assim, bastantes, que se preocupam seriamente com política não são aproveitados pelo Estado e precisam de sobreviver, até porque naturalmente querem ser financeiramente independentes. Sendo o sector dos serviços o que mais gente emprega, é a esse que têm que recorrer na maioria dos casos todos os jovens, não apenas os que se preocupam academicamente com política, estando mais preocupados em pagar contas do que em envolver-se em eleições, afins actividades de cariz político, ou simplesmente informar-se sobre o que se passa no País e no mundo.

Por último, há que colocar a tónica sobre os exemplos dados pelos políticos. Com a qualidade da classe política que temos, onde sempre os mesmos se alternam nos infinitos e extremamente controlados meandros do poder, mesmo a nível local, onde nas câmaras municipais e juntas de freguesia pululam os caciques locais das juventudes partidárias, sem falar dos deputados que raramente vão ao Parlamento, ou dos vergonhosos debates que não passam de exercícios de demagogia e ataques pessoais, não esquecendo ainda os mais que comuns "escândalos" de corrupção, como esperam que os jovens se interessem por uma actividade cada vez mais desprestigiada? É que pegar nos ensinamentos de Maquiavel e retirar-lhes o sentido de Estado que de tal personagem emanava acaba por ter os seus efeitos perversos.

Resumindo, a ignorância dos jovens, principalmente os adolescentes, está ligada à promoção da lógica do facilitismo no ensino, os jovens adultos estão mais preocupados em ser financeiramente independentes e pagar contas do que em envolver-se em política e, no conjunto, os exemplos dados pelos políticos vigentes só contribuem para afastar os jovens da política.

 

Samuel de Paiva Pires (do blogue Estado Sentido)

 

 

Helder Robalo

por Pedro Correia, em 28.05.08
 
 
Pobreza franciscana no laranjal
 
As eleições para a liderança do PSD, enquanto cidadão português, desinteressaram-me. Chateou-me um bocado aquele regresso ao clima de guerrilha interna sustentada no "eu é que sou bom porque já fui primeiro-ministro ou ministro", na história do "foi no meu tempo que se falou no controlo do défice". Ou na desculpa do "eu não tenho experiência governativa, mas isso até é bom porque é preciso mudar".
Confesso que, com todas estas questões, fiquei sem saber que pretende o PSD fazer, se for eleito Governo em 2009, para travar a subida do preço dos combustíveis. Ou para aumentar o poder de compra dos portugueses já que, ao nível da Função Pública (cujos aumentos acabam quase sempre a servir de referência), os aumentos voltaram a ficar abaixo da inflação. Ou, já agora, como pretendem estimular o crescimento do Investimento Directo Estrangeiro quando se soube agora que, em 2007, caiu cerca de 60% face ao ano anterior. Ou o que pensam os candidatos sobre o tema da redução da carga fiscal para as famílias e empresas. Ou, então, como aproveitar da melhor forma a montanha de verbas que a UE vai despejar no nosso país. Ou, se a maçada não for muita, como pretendem os candidatos fazer Oposição ao Governo durante o próximo ano, até às eleições. Mas uma Oposição construtiva, não daquela do dizer mal por dizer a toda a hora.
Como a campanha do PSD se centrou, a meu ver, em questões menores, coroadas com o habitual "agarrem-me senão eu candidato-me" de Jardim (mais na esperança que alguém o empurre para a corrida), acabei por me desinteressar deste acto eleitoral. Como não sou militante não tenho de me preocupar muito, pois não tenho de escolher um candidato à liderança do PSD. O que até nem é grave, bem vistas as coisas. Sempre tenho mais um ano para decidir em quem voto no próximo ano. Se é que voto em alguém.
Só espero que o senhor Presidente da República não fique muito chateado comigo por causa do meu desinteresse pela política. Senhor professor doutor Aníbal Cavaco Silva, eu juro-lhe que me esforço para acompanhar a vida política do nosso país e as grandes questões em debate. Mas, com políticos assim, não há paciência que aguente. Nem a dos santos chega!
 
Helder Robalo (do blogue Pensamentos)

Henrique Fialho

por Pedro Correia, em 28.05.08

Meu Portugal brasileiro

 

O Pedro Correia convidou-me a escrevinhar no Corta-Fitas. Pois bem, aproveito o convite para confessar o meu lado mais reaccionário. A opção não se fundamenta em quaisquer preconceitos acerca desta casa e dos seus ilustres moradores, mas confissões deste calibre seriam intoleráveis no meu tugúrio. Em que se manifesta, então o meu lado mais "reaça"? Em pormenores tão simples como numa aversão epidérmica a certos processos de aculturação, o que, dito de outra forma, num conservadorismo inato quanto a matérias tão fundamentais como Carnaval, selecção nacional e língua portuguesa.

Já sei, colocar a língua portuguesa no mesmo patamar das restantes matérias é facilmente censurável. Como certo dia terá escrito Pessoa (facilmente compreenderão que ninguém pode estar certo de que tenha sido realmente Pessoa, o Fernando, a escrevê-lo): "Minha patria é a lingua portuguesa." E Pessoa escreveu isto num tempo em que sintaxe se escrevia "syntaxe", ortografia escrevia-se "ortographia", escrita era o mesmo que "escripta" e português terminava em "z". Pelo menos era assim que o Fernando escrevia. Nada disto pode servir de argumento a favor do acordo ortográfico. Como diria o meu amigo Victor (ou será Vítor?), Henrique, eu mesmo, jamais poderá ser Enrique. Faltando-me o "H" falta-me o pouco de aristocrático que o destino me outorgou.

Não sei se alguma vez pensaram nas consequências quotidianas de certas transformações na língua portuguesa. Desde logo, o quotidiano brasileiro é muito diferente do nosso. Não só por ser mais acalorado, mas simplesmente por ser cotidiano. Eles apanham ônibus em vez de autocarros ou, como ainda se diz na minha terra, carreiras, não tiram o chapéu ao vôo dos pássaros, tem menos umidade nas casas e insetos no teto. Eles não têm, eles tem. Eu não quero ter insetos no tecto da minha casa, muito menos quero um teto e, apesar dos problemas respiratórios, prezo muito a humidade das paredes, a qual, por vezes, assemelha-se com algumas obras de Tàpies. Pior que isto, o Deus dele é onipresente. Mas que raio de Deus pode ser "onipresente"?

Tudo o que acabei de afirmar vai servir para me acusarem de antibrasileirismo primário, e de nada me valerá declarar uma incomensurável paixão pela poesia de Drummond, pela música de Chico Buarque, pela bunda da Juliana Paes. Não me interessa. Estou irremediavelmente contra a brasileirização do Carnaval português e da nossa selecção de futebol. Basicamente, estou contra a brasileirização do meu país. Prefiro uma selecção nacional de futebol perdedora apenas com portugueses, a uma selecção nacional de futebol vencedora com jogadores brasileiros. O meu fanatismo nestas matérias é de tal ordem que só de pensar que o Deco pode marcar um golo com a camisola das quinas e o Pepe arranhar o hino nacional dá-me vontade de, num ímpeto nacionalista, pendurar uma bandeira de Portugal na varanda cá de casa.

E depois há o Carnaval. Não há Carnaval mais ridículo do que o Carnaval brasileiro realizado em Portugal por portugueses. As mulheres portuguesas não nasceram para usar cuecas fio-dental em pleno Inverno, muito menos para sambar com pernas pelo menos tão brancas como o algodão em rama com que limpam as feridas domésticas. Bolas, eu ouvi um português dizer este ano que o Carnaval lá da terra dele era o mais português de Portugal porque era o mais parecido com o do Brasil. Mas o que se passa com este país? Apanhou tudo a carona tropicalista?

 

Henrique Fialho (do blogue Insónia)

Tomás Vasques

por Pedro Correia, em 27.05.08

 

Resistir em Cuba

Yoani Sánchez é uma jovem cubana, nascida entre os anos setenta e oitenta, residente em Havana, licenciada em filologia e trabalha como jornalista digital no portal Desde Cuba (quem remunera os colaboradores deste Portal crítico em relação ao regime? O próprio regime?) Há um ano criou o blogue Generación Y. Hoje é dos mais conhecidos e visitados blogues pessoais do mundo. O último post já tem mais de 4 000 comentários. A Time incluiu o seu nome nas 100 pessoas mais influentes do mundo e, antes, El País atribuiu-lhe o Prémio Ortega y Gasset 2008 de Periodismo Digital. Este fenómeno mediático, com origem num blogue, tem um contexto. Primeiro, Yoani vive debaixo de uma ditadura; vive num país onde não há liberdade, nem democracia. Segundo, pertence a uma geração desencantada e frustrada com as «conquistas da revolução» castrista. Terceiro, tem acesso a computadores, coisa que 99,5% dos cubanos não têm. Quarto, critica o regime ditatorial. Ora, quem conhece Cuba e o regime castrista sabe bem que o blogue Generación Y (bem como o portal Desde Cuba) só nasceu e só existe porque o regime o permite. A partir daqui, surge uma interrogação óbvia: sendo este blogue (como uma dúzia de outros com as mesmas características) tolerados pelo regime, o que não acontecia há dois anos (apesar, de tolerar escritores mais ou menos desalinhados, como Pedro Juan Gutiérrez), o que está a acontecer em Cuba? Os mais optimistas inclinam-se para interpretar estes sinais com uma «abertura» do regime, uma espécie de perestroika tropical com vinte anos de atraso. Para os pessimistas, entre os quais me incluo, o blogue Generación Y, bem como a inócuas medidas já anunciadas por Raul Castro, fazem parte de um «pacote» de lavagem de cara, para consumo externo, devidamente controlado. Lá dentro, em Cuba, nas ruas de Havana ou de Santiago de Cuba, onde os cubanos não têm acesso à internet, no passa nada.

Tomás Vasques (do blogue Hoje Há Conquilhas Amanhã Não Sabemos)

João Tunes

por Pedro Correia, em 26.05.08
Uma coincidência no olhar o Sul
 
Uma coincidência será uma das formas fáceis de provocar uma tentativa de raciocínio político. Sobretudo nesta era de incertezas em que todas as âncoras ideológicas se mostram mancas por caruncho. Quando regressado de mais uma minha estadia em Cabo Verde, rebentou o escândalo controlado de um cantor mediático apontar o dedo à cleptocracia angolana, porventura com exagero medido no libelo provocatório. Daí a pensar na herança do pós-império português, encadeando comparações (pecado venial a caminho de mortal) é um passo de tentação. Irresistível, porque os pólos da bateria ficaram a acenar convite de sedução à energia de neurónios politizados.
 
Angola era a “jóia do império”, a mais difícil de largar, aquela que seria a última a guardar, juntando-se, em contraponto, o anticolonialismo mais débil e dividido. Ao petróleo e diamantes, somou-se uma independência mais geopolítica que nacional e tão volúvel e venal que não pestanejou na hora de mudar de amores a Brejnev e Fidel pelos bons amanhos com o Tio Sam. Hoje, Angola é o que é, não “nossa”, mas longe, muito longe, de ser dos angolanos. E é um dos expoentes mais detestáveis da parte rica de África, como a querer demonstrar que, depois de Mobutu, o pior ainda podia estar para chegar.
 
Cabo Verde era a colónia portuguesa mais longe de querer ser independente, a não ser no pensamento do lunático genial que foi Amílcar Cabral. A maioria dos caboverdianos pensava Cabo Verde, entregue à sua dimensão brutal de carências, como uma peça que, se solta, seria inviável. Sonhavam, quando muito, nos intervalos da morte pela seca, que mereciam, em salvação, um Alberto João mestiço a cantar mornas e a dançar coladeras e funáná, enquanto sacavam uma ajudas de migalhas gordinhas caídas da mesa do orçamento dos tugas que, durante séculos, refinando eroticamente o uso das ilhas como entreposto negreiro, tinham ganho gosto por camas de pretas e de cabritas. Hoje, Cabo Verde é a referência mais positiva em África, o melhor que, politicamente, África produziu. Tem uma democracia estável, com liberdade de expressão e alternância dependente somente do voto, saltou por cima da míngua e da fome, com um início incipiente de vida universitária local, tenta gerir o problema gordo do desemprego nos licenciados, tantos são eles. Honra os seus compromissos e é considerado internacionalmente como o ajudado mais exemplar pela forma escrupulosa como aplica e presta contas dos auxílios que recebe.
 
O colonialismo tardio que resultou da teimosia a-histórica de Salazar deu no que tinha que dar. Bem à imagem da sociedade anacrónica que plantou na metrópole em que tentou opor o atavismo à modernidade, numa segmentação anacrónica entre camadas sociais gostando de ser caricaturas. E que perdura na herança pós-colonial: desde o pobrezinho honrado e aplicado nos estudos até ao bando de senhorios ricaços e absentistas a gozarem herança rica de padrinho que desertou para parte incerta. 
 
É tão fácil raciocinar na base de uma coincidência, não é? É. Peço desculpa.
 
João Tunes (do blogue Água Lisa)

Carlos Furtado

por Pedro Correia, em 26.05.08

 

 

Três pontapés na bola 

 

 

Por muito que custe ao Pacheco Pereira este meu texto em resposta ao honroso convite do Corta-Fitas é sobre futebol. Depois de muito pensar encontrei três razões mais do que óbvias para me debruçar sobre o tema:

 

a)  o meu Boavista está a passar um mau bocado e eu tenho que desabafar

b)   o campeonato da Europa vai começar e eu tenho que opinar

c)    e não escolho um tema fracturante pois os meus anfitriões são confessos lagartos, vermelhos e um infiltrado azul. E eu não gosto de dividir mas sim de unir.

 

a) Com efeito o que se está a passar no meu Boavista é muito preocupante. O clube mais antigo de Portugal (até aparecer um rato que se lembrou de reescrever a história do FCP) muito deve aos seus antigos presidentes e claro ao Major Valentim Loureiro e ao seu filho, o Dr. João. Clube pequeno, de raiz menos popular do que o FCP ou o Salgueiros, o Boavista sempre foi fazendo o seu caminho sem incomodar muita gente. Ainda me lembro de ir ao Bessa, tendo o campo uma orientação diferente da habitual, acompanhado do meu pai e no final do jogo atirar com as almofadas que eram distribuídas à entrada para não danificar os “pandeiros”. Claro que foram muitas as vezes que estas almofadas entraram mais cedo em campo, mas isso para agora não interessa. O que interessa mesmo é dizer que acompanho o Boavista e as suas vicissitudes desde bem pequeno. Posso portanto dizer que sou “Boavisteiro desde criança”. Daí ser obrigado a reconhecer o excelente trabalho que o Major desenvolveu no Boavista, transformando-o num clube respeitado em Portugal e reconhecido no estrangeiro. O clube das “camisolas esquisitas”. Nunca me habituei a grandes vitórias. Sempre me contentei com os 4º e 5º lugares e com uma ou outra vitória na Taça de Portugal. Até que o pai passou o testemunho ao filho. João Loureiro queria mais. E conseguiu-o. Diria mesmo que muito mais. Alcançou a glória dos campeões mas também traçou o caminho da derrocada. Lembro-me de um inquérito feito aos sócios, ainda ia eu na minha segunda casa, portanto há já alguns anitos, no qual respondi que preferia um estádio novo e melhores condições desportivas a uma equipa campeã nacional. Lembro-me de responder a este inquérito como se fosse hoje. E hoje voltaria a responder da mesma forma. Só que João Loureiro quis tudo isto de uma vez só. Uma vez mais sou obrigado a reconhecer que conseguiu. E que foi como um miúdo que subi e desci a Avenida da Boavista vezes sem conta de cachecol numa mão e cerveja na outra. E esse título já ninguém nos tira. Que bonito estava o estádio do Bessa no dia da inauguração. Ao estilo inglês como o antigo, com o povo bem perto dos artistas e uma boa visão do campo seja qual for o local (sim não tem uns ecrãs gigantes metidos a martelo para onde são encaminhados os invisuais). Só que agora todos esses momentos de euforia e alegria são a causa da nossa tristeza e quem sabe se não mesmo da morte que alguns coveiros bem querem apressar. Só que o Boavista é maior do que as meras tentativas de ajuste de contas entre guerrilheiros de terceira categoria. Eu gosto de futebol e gosto das vitórias dentro das quatro linhas. Nunca fui de jogos de bastidores. Mas não queiram fazer justiça à toa arranjando uns bodes expiatórios, nem fazer do Boavista o exemplo que afugentará todas as “más moedas” do futebol. Para que isso aconteça têm que ser criadas regras claras e com sentido e está bom de ver que esta gente não tem capacidade para o fazer. Já alguém pensou no ridículo de punir uma SAD porque o detentor de 1 (uma, sim apenas uma) acção fez pressão sobre um árbitro? E quem fez essa regra? Os senhores do futebol. Garanto que continuando esta lei comprarei um acção em todas as SAD e vai ser o bom e o bonito. Uma ameaça aqui, uma “pressãozita” ali e na próxima época a Divisão de Honra vai ser um espectáculo.

Mas a minha fé, sempre enorme mas que nestas coisas da bola nem sempre acerta, diz-me que o Boavista continuará na primeira divisão. E que renascerá das cinzas, sem oportunistas nem incapazes na liderança. Será um período difícil, que obrigará a uma união de esforços sem igual e sem grandes vitórias desportivas. Direi presente se para tal for útil. Se ainda for possível.

 

b) Sobre a selecção tenho a dizer que exijo que a selecção seja campeã europeia e que não admito ao senhor Scolari uma outra final perdida. E muito menos com os gregos. Ricardo, Bosingwa, Ricardo Carvalho, Pepe, Miguel, Deco, João Moutinho, Raul Meireles, Quaresma, Cristiano Ronaldo e Hugo Almeida são o meu onze. Que alguém se lembre de dizer ao sargentão que o melhor mesmo é colocar em campo os melhores jogadores para que ele não faça a mesma figura do jogo inaugural do “Nosso” Euro.

 

c) Para terminar e justificar esta terceira alínea, porque o que eu queria mesmo era escrever sobre o meu clube, que no Corta Fitas sejam muito felizes com as escolhas clubistas que fizeram mas se quiserem mudar ainda há disponíveis fichas de inscrição para sócios do Boavista.

 

Carlos Furtado (do blogue Nortadas)

 

João Luís Pinto

por Francisco Almeida Leite, em 25.05.08

 
Race to the bottom
 
O recente estado de caos e os contornos de eleição em sociedade recreativa do sufrágio que se aproxima são afinal uma etapa lógica da vida do PSD, e que só por meros critérios de conjuntura parecem diferentes da vida do Partido Socialista.
Os geralmente designados "partidos de poder" portugueses enfermam de um pecado original que tem designado o curso da sua vida: a total ausência de um mínimo de ideologia, e a partilha alternada das rédeas do estado e das instituições na sua esfera (sendo que, como se sabe, sobra muito pouco). Essencialmente uma partilha entre iguais, navegando ao sabor dos naturais ciclos de ascendência e queda ditados pelos momentos eleitorais, trocando entre si os cargos mais ou menos apetecíveis e revestindo o processo das cores da "festa da democracia".
Assistimos no momento presente ao acumular de várias candidaturas de algumas das caras de sempre, rodeadas dos apoiantes de sempre e da ausência de estratégias concretas de sempre. Com votos de "agora é que é", com garantias da "credibilidade" da sua actuação no passado, mesmo que se tenha ainda a memória bem fresca da maneira como foi colocado o partido (e país - a macrocefalia do nosso estado assim o determina) no estado calamitoso que se conhece, ou como se afinal não os conhecêssemos já bem.
Temos as "damas de ferro" das dações em pagamento de acções do Benfica, da titularização ruinosa dos créditos fiscais, do aumento temporário de impostos, da calamitosa passagem pela pasta da Educação e da impotência para reverter a situação das finanças públicas - mas tudo com grande estilo de "mão de ferro". Temos o protagonista de um dos momentos mais tristes de descredibilização das nossas instituições democráticas (honra lhe seja feita, com grandes resultados na industria do humor nacional), com repercussões praticamente a todos os níveis, que transformaram o partido e o governo numa piada de algibeira e o abrir do jornal a cada dia num exercício de prognose/humor do quão longe se tinha ido desta vez.
Temos também o outsider. Outrora insider e líder histórico da organização de juventude do partido que se conhece como digna representante das intrigas palacianas e da escola de actuação desse género de organizações no nosso país. Com o discurso do impoluto, do desligado do passado mais ou menos recente do partido (felizmente deixando o Sá Carneiro em paz) e das "propostas substantivas", mas que não consegue fazer perceber como é que alguma vez irá aplicar as suas supostas propostas "liberais" e de contenção da dimensão do estado à frente de um partido onde toda a sua hierarquia, do barão ao militante anónimo de cartão laranja, partilha a gamela desse mesmo estado, do mais pequeno funcionário da junta ao mais alto responsável governativo.
Estamos sem dúvida a assistir a um momento crucial na vida do PSD e da herança política do 25 de Abril. Eu cá por mim mantenho-me atento e expectante em relação ao seu desfecho.
 
João Luís Pinto (dos blogues O Insurgente e Small Brother)

Rodrigo Saraiva

por Francisco Almeida Leite, em 24.05.08

 

Um país (não) desenvolvido
 
Portugal é, de facto e infelizmente, um país que não se desenvolve ao mesmo ritmo da maioria dos países europeus. E tal deve-se a várias razões e decisões que foram sendo tomadas desde 1974.
Em termos generalistas a principal razão será por motivos de mentalidade. Portugal ainda vive “agarrado” a certos traumas pós revolução.
Nos últimos anos muito se tem ouvido falar de necessários “Choques” para Portugal se desenvolver. Tecnológico e Fiscal foram os mais badalados. E concordo: Portugal necessita verdadeiramente de um Choque, mas um Choque de Mentalidades!
E pego num exemplo, entre muitos que podem ser dados, para demonstrar uma falta de abertura de mentalidades: o não reconhecimento do lobbying como actividade profissional. Aliás, nem actividade profissional, nem outra coisa qualquer. Em Portugal há temas que são verdadeiros tabus.
Qual é o problema de existir uma actividade, reconhecida e institucionalizada, de defesa de interesses de pessoas, empresas, grupos, entidades, instituições, etc.?
Nenhum! É que já existem outras actividades que o fazem, dentro de toda a normalidade e legalidade. Os advogados por exemplo.
O problema deste país, e de outros do sul da Europa, é o lobby ser sinónimo de corrupção. Ao invés, no norte da Europa é visto e reconhecido como uma actividade profissional que tem, inclusive, Código Deontológico.
Obrigatório é dar o exemplo de Bruxelas, principal centro de decisão política, onde existem centenas de lobbistas a trabalhar.
Em Portugal continua-se a optar por colocar a “cabeça na areia” e a fugir do assunto. E o mau exemplo é dado ao mais alto nível, nomeadamente pelo presidente da Assembleia da Republica, ao não autorizar a credenciação de consultoras de comunicação no Parlamento, para um acesso mais directo junto a quem trabalha no processo legislativo.
Também se percebe que para alguns é conveniente o status quo: continuam a ser lobbistas quando a sua actividade é (e deveria ser) outra.

Continuemos assim, no caminho do (não) desenvolvimento.

 

Rodrigo Saraiva (dos blogues Câmara de Comuns e Psicolaranja)

Coutinho Ribeiro

por Pedro Correia, em 24.05.08

Entre a razão e a emoção

 

Comigo ninguém se zanga a discutir futebol porque, não sendo um aficionado do dito, limito-me a ser confortável adepto da Académica, a gostar que o FC Porto ganhe campeonatos, a encolher os ombros quando a coisa corre mal e a animar o meu filho, que leva o tema mais a peito. Perto de mim, não é fácil que os meus amigos se zanguem por causa das coisas da bola. Quando pressinto que a conversa vai descambar – às vezes o provocador sou eu! -, introduzo duas ou três brincadeiras na engrenagem e acabo por serenar os ânimos.

Confesso, porém, que nem sempre é fácil lidar com as emoções da bola. Uma destas noites, incauto, fui ao Porto Canal - julgava que para o Dia em Análise - e, chegado lá, descubro que estou metido numa maratona de três horas e tal para debater o “Apito Final”, com o suposto propósito de descodificar as coisas do direito com ele relacionadas, o que logo me atormentou, porque não tinha acompanhado os acontecimentos, nem tenho particulares conhecimentos de direito desportivo.

Mas, como depressa percebi, não seria essa a principal dificuldade que iria enfrentar. O pior foi ter de debater com simpáticas pessoas que, porque demasiado impregnadas de futebol, não estavam ali para uma conversa racional sobre a questão – estavam ali para explanar a indignação pela catástrofe que acabava de cair sobre as suas vidas prenhes de paixão clubística que, como se sabe, acaba por se confundir com paixão regionalista. Qualquer tentativa para trazer a conversa para o domínio da razão embatia contra a perplexidade, contra a dor que manifestamente traziam colada à pele e se notava na tristeza dos sorrisos.

Ao longo da maratona os telefonemas dos telespectadores iam alimentando a paixão, fosse num sentido ou noutro, que, nesse particular, os telefonemas do sul não eram muito melhores do que os telefonemas do norte. Tudo isto, sem esquecer a forma inflamada como, ao longo da emissão, figuras ligadas aos clubes sancionados iam enxovalhando a personalidade do presidente do Conselho Disciplinar da Liga que, sim, senhores, sendo um vaidoso manifesto, não merecia tão radicais apreciações de carácter de quem deve respeito acrescido às instituições.

Dali saído, cansado, com fome, com falta de nicotina e vagamente perturbado, pensei nas diferenças entre o registo da discussão futebolística e o da discussão política. Iguais? Não. Há medonhas diferenças. Quando muito, a discussão sobre o futebol de hoje tem semelhanças com os confrontos do pós-revolução, em que também tantas vezes a paixão se sobrepunha à racionalidade dos argumentos, o que aliás se aceita, se atendermos a que estavam em causa modelos de sociedade.

Não quero dizer com isto que os embates sobre política não continuem duros como dantes. O que não vejo neles é paixão ou convicção – vejo uma racionalidade excessiva, sem ponta de coração, uma dureza crua, carregada de tacticismos interesseiros, de conceitos supostamente inteligentes, de alianças de ocasião.

No que no futebol é emoção desmedida, na política é interesse pessoal, é a vidinha de cada um. E – para minha desgraça - dou-me mal com estes sinais dos tempos, que não conhecem meios termos.

 

J. M. Coutinho Ribeiro (do blogue O Anónimo)

 

Laura Abreu Cravo

por Pedro Correia, em 23.05.08

A Feira do Livro

 

A meio da tarde de domingo alguém deixa escapar que "parece que afinal sempre vai haver Feira do Livro". Já tinha apanhado diagonalmente algumas polémicas sobre o assunto nos blogues da vizinhança, mas, enlouquecida pelas urgências do Direito, não cheguei a aperceber-me da iminência de não haver Feira do Livro.

Não tenho resposta definitiva para as questões em discussão que, se bem percebo, se prendem com a efectivação da concorrência das grandes editoras por oposição ao mercado livreiro mais "tradicional", nem (confesso) me apetece devotar disponibilidade mental a essas matérias. Mas não pude deixar de notar que uma quantidade significativa de pessoas declarava a insignificância da anunciada ausência de feira, depositando a sua confiança nas grandes superfícies e megalivrarias online. Nada contra umas ou outras; a bem da verdade, a signatária contiribui avultadamente para as boas notícias que anualmente sejam comunicadas aos accionistas dessas estruturas, mas a feira é outra coisa.

A feira não tem nada a ver com livros, tem a ver com rituais. Passa por trabalhar todos os dias daquela semana a todo o vapor para conseguir ainda apanhar a feira aberta (ou dar lá um salto de fugida a meio da tarde), por passar horas esquecida nos stands de livros manuseados à procura de pechinchas, por bater as pestanas aos senhores e senhoras das barracas para perceber quais os livros que vão ser "desconto do editor" nos dias seguintes, por andar quilómetros com sacos de livros até parar de sentir a circulação nas mãos, e sobretudo, passa por correr, a espaços, ao carrinho que vende farturas e ficarmos sentados, felizes e cheios de açúcar enquanto comparamos os títulos nos sacos de cada um. E recomeçar tudo isto, no dia seguinte, enquanto houver feira, para depois passar um ano inteiro a digerir o excesso de açúcar das farturas e o desfalcamento na conta bancária.

A Amazon? É cómoda, mas alguns de nós precisam do cheiro dos livros e do açúcar das farturas.

 

Laura Abreu Cravo (dos blogues Mel com Cicuta e 31 da Armada)

 

Luís Paixão Martins

por João Villalobos, em 23.05.08

Sound bite criado especialmente para o Corta-Fitas: Até eu já estou cansado das “agências de comunicação”.

 

 

Autor do blogue Lugares Comuns


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    246. N
    247. D