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Eu gosto de João Miguel Tavares como cronista, não me interessa tanto como Paulo Tunhas, por exemplo, mas diverte-me mais.
No entanto, devem ser mais as vezes com que não concordo com o que escreve, ou mesmo as que considero que poderia investir um bocadinho mais a testar os seus preconceitos usando de uma maior consideração para com os factos, que as vezes em que estou de acordo, de fio a pavio, com uma crónica.
Desta vez, não a única, João Miguel Tavares resolveu dar livre curso a uma ideia mainstream, das que são boas para fazer crónicas porque caem sempre bem no público (e no Público) e ninguém se dá ao trabalho de procurar confirmar os factos: as trapalhadas de Santana Lopes como primeiro-ministro.
Devo ser dos poucos portugueses que acham que o Governo de Santana Lopes nem foi mau e que o pior que tinha (para além da imprensa) era, provavelmente, o então Primeiro-Ministro, não exactamente pelo que lhe atribuem de irresponsabilidade e leviandade, mas pela negligência com que tratou o contexto desfavorável que o cercava.
Ao contrário de João Miguel Tavares, eu lembro-me de boas coisas desse governo, mesmo para lá do excelente desempenho do Ministério do Ambiente de então (aquele com que eu lidava de mais perto), mas pela coragem política demonstrada, por exemplo, em duas medidas rapidamente revertidas por Sócrates, para não indispor os poderes fácticos: o sistema de troca de livros escolares e a revisão do arrendamento urbano.
Os factos são o que são (é fácil verificar, por exemplo, tudo o que se passou no arrendamento urbano), as interpretações sobre eles são naturalmente subjectivas.
O que, aparentemente, não suscita controvérsia geral, é este pedaço da crónica de João Miguel Tavares, que vou comentar intercalando texto em itálico e entre parêntesis.
“[Rui Rio] atrapalhou-se na hora de identificar as trapalhadas do adversário em 2004. Não se percebe a hesitação. Da metáfora da incubadora
(Como? Terei lido bem? Uma metáfora falhada, ou mesmo um discurso inteiro falhado feito há mais de dez anos é uma trapalhada que demonstra a incapacidade de um governo e da pessoa que é responsável por ele? Por este critério não deve haver um único governo que não seja trapalhão, talvez com a excepção do último governo de Passos Coelho, que durou quinze dias, e outros que tenham demorado tempo semelhante).
aos erros na colocação de professores
(sim, correu mal, mas essa é uma trapalhada muito transversal a quase todos os governos, será mesmo uma demonstração de incapacidade de um governo acabado de chegar no ano em que pela primeira vez se faziam concursos que permitiam a entrega via internet? Talvez uma simples cronologia com a deste post evitasse tanta leviandade no comentário de João Miguel Tavares aqui)
das pressões para correr com Marcelo da TVI
(é verdade, uma trapalhada frequente, que me lembre só um primeiro ministro está isento desta trapalhada, chama-se Passos Coelho, todos os outros se metem em trapalhadas destas, uns com mais habilidade, outros com menos, ,mas pretender que este disparate demonstra a incapacidade de um governo ou de quem é responsável por ele é um pouco estranho)
à demissão de José Rodrigues dos Santos de director da informação da RTP
(idem, embora tenha sido o próprio a pedir a demissão, por causa de uma questão de concursos internos para correspondente em Madrid, depois do próprio ter garantido que nunca tinha sofrido pressões do governo)
das figuras patetas de Rui Gomes da Silva
(confesso que invocar isto como trapalhadas de um governo me parece uma patetice tão grande que não consigo sequer encontrar um ângulo para comentar, e o mesmo direi para a trapalhada seguinte)
à demissão de Henrique Chaves por “falta de lealdade do Primeiro Ministro”, é inesquecível a quantidade de asneiras que Santana conseguiu acumular em apenas quatro meses.”
Francamente, João Miguel, esta lista de horrorosas trapalhadas comparada com uma análise do actual governo feita por Rui Rocha, e que transcrevo de seguida, diz mais sobre a trapalhice do jornalismo que sobre Santana Lopes.
“António Costa chegou ao poder há pouco mais de dois anos. Para lá da recalibração do financiamento do estado promovendo o aumento do peso dos impostos indirectos, de medidas avulsas e com lógica de curto prazo alinhadas com o ciclo económico e da aposta numa estratégia de comunicação que prescinde do princípio da realidade com razoável à vontade, há quatro marcas estruturais do mandato:
a) a aliança, por motivos puramente oportunistas, com propostas políticas que não têm qualquer compromisso com os elementares princípios democráticos;
b) a normalização do nepotismo como forma de ocupação do Estado;
c) o desprezo pelo princípio da responsabilidade política;
d) a erosão acelerada da capacidade de o Estado assegurar as suas funções essencias, na Protecção Civil com evidência trágica, mas na Defesa, na Saúde e na Educação também com profundas consequências.
Em pouco mais de dois anos, repito. Não é pouca coisa.” (Rui Rocha muito bem dixit).
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