por Luísa Correia, em 26.03.13
Impressionantes, as imagem da "manif para todos" de Domingo, em Paris, contra o "casamento para todos". Um sucesso que os organizadores dizem esperar reforçar na próxima oportunidade, duplicando o número de manifestantes com a adesão de desempregados e trabalhadores descontentes.
O desejo de que este segmento populacional participe no movimento precisa, de certo modo, os seus objectivos: é sair em defesa da família tradicional, sim, mas reclamar, sobretudo, contra a ordem de prioridades do governo Holland, que passa por um pino de impopularidade.
Este quadro é-nos, a nós, portugueses, muito familiar, da experiência recente que temos de socialismo no poder.
Incapaz de promover a geração de riqueza, pela ambiguidade das posições (e políticas) que advoga, e, consequentemente, incapaz de distribuir riqueza - porque só se distribui o que se tem - o socialismo vem-se apegando a uma agenda muito própria, feita de todas as causas que são matéria ética ou de consciência de vanguarda, causas que respeitam, quase sempre, a minorias e cujo interesse prático é reduzido em tempos economicamente críticos. Em Portugal, o socialismo tem feito também gosto em se antecipar a todos os outros, como é característico dos que querem parecer maiores ou melhores do que o que são. Para o essencial, o socialismo não apresenta soluções, porque as únicas minimamente eficazes pressupõem cedências a perspectivas conservadoras básicas.
A vida é "conservadora" por natureza. É por isso que é tão difícil ser-se socialista e coerente. É por isso que os socialistas que conhecemos falam sempre com sete pedras na mão. E é por isso que o socialismo que conhecemos cada vez convence menos... se é que não tem, como suponho, os dias contados.