Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]




O mal: atentado à integridade

por José Luís Nunes Martins, em 25.03.13

O mal não é uma entidade. Não existe por si só, não tem substância nem consistência, não pode ser olhado nos olhos. É a ausência de bem – uma falha no ser. Ferida que corrompe até ao fundo, albergando-se na intimidade a fim de a destruir completamente.

 

Trata-se de algo com uma extrema crueldade que deseja aniquilar o que há de mais humano no homem. A nossa integridade. O mal manifesta-se numa vontade potente que visa erguer-se a um estatuto de deus através, não da criação, mas da destruição.

 

A estratégia é intemporal e imutável: dividir para dominar – fragmentar para enfraquecer. Sempre a partir de dentro, sempre numa base de confiança próxima com que, sem grande dificuldade, atinge as pontes que compõem os alicerces do nosso coração. Assim se destroem identidades, famílias, instituições... assim se vão desfazendo as partes do mundo que preferem a preguiça que esteriliza à fecundidade do amor.

 

Enquanto o bem cria, reúne e completa; o mal separa, desincorpora e fragmenta. Conversão, perversão. A primeira produz uma verdadeira aliança de todas as partes, a segunda faz de cada elemento um rival de cada um dos demais.

 

No universo, um buraco negro é algo que se consome a si mesmo, ao mesmo tempo que absorve toda a matéria e luz que lhe chega perto. Excelente metáfora da forma como opera o mal: um egoísmo que se alimenta de si próprio, atraindo a si tudo o que lhe passa perto para o dominar através da anulação.

 

O homem é um palco onde o bem se debate com o mal, pois a nossa condição exige a cada momento que cada um de nós decida, livremente, o que pretende fazer de si mesmo. São muitas as tentações que pairam diante de nós, caminhos de aparente facilidade que prometem tudo... mas que nunca cumprem o que prometem. No calor do momento, desculpando-nos com a nossa não-omnipotência, cedemos à maldade... depois, e ainda sem consciência plena, atribuímos ao destino o que foi afinal da nossa responsabilidade...

 

Existem várias formas de mal, muitas das quais completamente estranhas à vontade humana e essas também abrem abismos no mundo... escandalizam ainda mais porque escapam a qualquer tentativa de compreensão... o sofrimento aparentemente gratuito de inocentes é um mistério. Mas será essa a razão suficiente para sentenciar o mundo como absurdo?

 

Muitos pensadores julgaram que a existência do mal era facto bastante para concluírem a não existência do Bem. Mas, que seria o mal sem o bem? O mal mede-se pelo bem que destrói.

 

O mal é a prova inequívoca da existência do Bem.

 

Culpar Deus pela presença do mal é uma tentação permanente que serve o propósito de nos escusarmos a lutar contra um inimigo que, dessa forma considerado, deixa de ser nosso. Mas que, connosco nessa atitude, encontra as portas abertas para a destruição da nossa paz. Aliás, ele nunca arromba portas...

 

Que podemos nós contra o mal? Com tempo e em silêncio cuidar da integridade do que somos. Nunca com pressas. Nunca com argumentos.

 

O mal é avesso a toda a espécie de pureza... desdobra-se em tentativas incansáveis para a destruir. Todos os dias. Fazer o bem é ser capaz de sempre amar de novo. Todos os dias. Ao milésimo dia como no primeiro...

 

Naquilo que nos diz respeito, o mal é sempre fruto de uma escolha... onde o bem é também sempre uma possibilidade... se é um facto que podemos conceber um mundo onde só exista o bem, não conseguimos sequer imaginar um mundo onde apenas o mal exista.

 

Então se o mal não tem valor, que sentido pode ter uma vida má?

 

Só o amor dá valor, sentido e paz à vida de cada um de nós.

 

 

 

 

(publicado no jornal i - 23 de março de 2013)

 

ilustração de Carlos Ribeiro



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Paulo

    O Norte do distrito de Aveiro é área metropolitana...

  • Hugo

    Pedro, já se subiu outro patamar. ao que consta ta...

  • O apartidário

    Continuação Para esta manipulação do parlamento co...

  • O apartidário

    A 29 de Julho de 1976 o comunista José Rodrigues V...

  • Rodrigo Raposo

    Por essa lógica, mais depressa votaria um holandês...


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2023
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2022
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2021
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2020
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2019
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2018
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2017
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2016
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2015
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2014
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2013
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2012
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2011
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2010
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2009
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2008
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2007
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2006
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D