por Luísa Correia, em 30.01.13
Convém que não opine sem duas prévias ressalvas. A primeira é que não adiro facilmente a musicais, senão em teatro, ao vivo. E a segunda é que vi o filme no pequeno ecrã, o que amortece o seu impacto audiovisual, se a aposta foi na monumentalidade dos cenários e na força dos decibéis.
Esclarecidos estes pontos, aí vai: não gostei da última adaptação cinematográfica do romance de Victor Hugo. Desde logo, pela representação. Hathaway imprime-lhe o tom certo, reconheço, mas tem uma participação curta. Já aos estremecimentos de voz de Jackman, um Jean Valjean que nos acompanha em meio falsete durante três longuíssimas horas, ouvi-os com a complacência com que o Capitão Haddock reagia aos trinados da Castafiore. De uma forma geral, achei as interpretações pouco convincentes, por imposição óbvia do modelo e do ritmo da cantoria.
Também não soube apreciar a riqueza melódica da composição, que, mesmo nos solos, me pareceu repetitiva e entediante como uma lenga-lenga. São anos de luz que afastam este "Miseráveis" do fulgor de um "My Fair Lady" e de um "Música no Coração". Apesar do que o primeiro beneficia em maturidade tecnológica. Mas a tecnologia ainda não fabrica, sozinha, nem emoção, nem bom-gosto.