por Luísa Correia, em 11.01.13
Prossegue na CNN o debate exaltado entre Piers Morgan, jornalista britânico ao serviço da estação, e Larry Pratt, director executivo do lobby norte-americano dos proprietários de armas. O tema é esse mesmo: a propriedade de armas de fogo nos EUA. No encontro de há cerca de um mês já tinha havido palavreado aceso, pontuado de alusões mútuas à obtusidade e estupidez de cada um. Mas Morgan, defendendo restrições de tipo europeu a partir da comparação de taxas de criminalidade, foi mais convincente na sua argumentação - descontando-lhe os insultos - do que Pratt, viciosamente fechado no círculo do "2nd Amendment" e do direito à defesa. No reencontro de ontem, Pratt ganhou o primeiro "round". Acusou os media de dar visibilidade aos massacres consumados, mas de não falar de quantos uma intervenção armada oportuna terá evitado. E avançou com exemplos. É uma abordagem hábil, esta: explora o ponto "fraco" dos comportamentos preventivos, que é a incerteza acerca do que se preveniu. A vacinação em massa contra a gripe A terá ou não sustido uma pandemia? Nunca o saberemos. Não há modo de adivinhar as dimensões concretas de uma catástrofe que não aconteceu (salvo existindo um longo histórico de ocorrências semelhantes), nem os benefícios reais de uma iniciativa profiláctica. Não há como ir além de hipóteses e estimativas. É por isso que tantos descrêem da prevenção e estão prontos a conceber teorias espantosamente "conspirativas" em torno de acções de uma cautela ou diligência elementares. Ainda assim, não me parece que Pratt possa ganhar o combate com Morgan. Não, pelo menos, no campo da estrita lógica de pensamento. É que a premissa de que as agressões violentas se fazem com armas não permite refutar a conclusão de que sem armas, não há agressões violentas. Excluo naturalmente as agressões com palavras feias ou punhos cerrados, porque, em princípio, não matam, mesmo se desmoralizam muito!