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Quando pensou que tinha descoberto o tecto do mundo e o centro da terra, aquele povo zangou-se com o seu Deus. De repente estranhou-O, pois no seu sábio parecer Ele deixara de lhe dar espectáculo: nem aparecia nas revistas nem tinha perfil no Facebook. Tornara-se desinteressante, discreto, passivo... um Deus pouco interventivo; sem resposta aos seus interesses imediatos e sem os critérios da pequena verdade instituída. Um Deus que não punha ordem no desacerto e na perversão (por sinal, cunhos sempre alheios) tornara-se numa grande desilusão, enfim, uma inutilidade. Insurgiram-se contra Ele, porque afinal desejavam-nO à sua imagem e semelhança. E que fazer com um Deus que não obedece aos homens “evoluídos”, que não corresponde às suas expectativas?
Mas isso não era grave, pois afinal, para o equilíbrio da economia, bastavam-lhes os seus modernos pequenos deuses, mais palpáveis e descartáveis, sempre sorrindo nas revistas ou novelas, coleccionáveis como cromos ao gosto de cada um. E como era importante “o gosto de cada um”!
Aquele povo sôfrego de redenção acomodou-se a um novo mundo apequenado por auto-estradas e fibra óptica, onde se vivia mais depressa, muito depressa mesmo, sem silêncios e pontos mortos. Para um ou outro mal, logo se conceberam pílulas milagrosas, que afinal a química ainda irá resolvendo. Iludindo o espaço e as sensações, criaram janelas e mais janelas, interactivas, electrónicas, portáteis. Através delas e de um teclado podiam espraiar-se por novos caminhos, brilhos e experiências. Mesmo sem espaço, sem relação, sem compromisso e sem silêncio. Fórmula infalível para que a criatura jamais sentisse a vertigem da sua imensidão interior.
De modo a nunca arriscar um estranho e diferente encontro.
Texto reeditado
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