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O táxi acabara de sair da Segunda Circular quando, na curva para a Rotunda do Aeroporto, um de nós declarou, surpreendido, desconhecer que uma certa rua se situava ali. Foi o despoletar da artilharia informativa que palpitava na criatura de mãos no volante. A expressão alargou-se-lhe num sorriso de confirmação, suportado por veementes acenos de cabeça, seguindo-se o disparo da tal pergunta a que esta mulher não sabe – ou não sabia - responder: «E os senhores conseguem dizer-me onde fica a Primeira Circular?» Não conseguimos. A solução do enigma apresentou-se, por isso, triunfante: «A Primeira Circular é, nem mais, nem menos do que a Avenida Infante D. Henrique!». «Circular?», interrogámo-nos, cépticos, recordando o trajecto rectilíneo que costumamos percorrer. «Circular!», insistiu. «Faz a ligação de Moscavide ao centro da capital, ou seja, ao Terreiro do Paço». Perante o pasmo e a admiração de que prodigalizámos ruidosas manifestações, atirou-nos segundo disparo: «E qual é a maior rua de Lisboa?» Entreolhámo-nos, perplexos. «É a Rua Maria Pia», avançou rapidamente, quando se apercebeu de que entrávamos no jogo dos palpites. Podíamos acertar… «E qual é a maior estrada de Lisboa?» A Estrada de Benfica, aventámos. Validou a hipótese, sobriamente, e voltou à carga: «E a maior avenida?» Confessámos a nossa ignorância e ripostou, ufano: «É a Avenida Infante D. Henrique!». Aí tínhamos, de novo, a Primeira Circular. «E qual é a rua de Lisboa que tem trânsito de peões e automóveis, mas não tem uma única porta?» A mudança de registo deixou-nos descalços. «É a Rua Henriques Nogueira», esclareceu. Mas como continuássemos descalços, esmiuçou o esclarecimento: «Fica nas traseiras da Câmara Municipal, uma viela sombria, que abre sobre a Rua do Arsenal». Aaaah! Não pude, lamentavelmente, apontar todas as curiosíssimas questões que nos colocou. Mas retive ainda que o nosso taxista já tinha escrito um livro sobre Lisboa – ou, precisando, já colaborara, com a sua sapiência, na elaboração de um livro escrito por terceiro, cujo nome não desvendou; e que, não morando nos Olivais, era capaz de localizar qualquer ponto do bairro ao nível dos números de polícia. No momento da despedida, pensei em pedir um contacto a esta preciosidade para as minhas «notas olisiponenses». Mas acanhei-me… Sou, definitivamente, uma corta-fiteira de meia-tigela.
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Perante resposta tão fundamentada, faço minhas as ...
O capitalismo funciona na base da confiança entre ...
"...Ventura e António Costa são muito iguais, aos ...
Deve ser por a confiança ser base do capitalismo q...
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