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Na despedida do Jorge Ferreira

por Pedro Correia, em 21.11.09

A notícia já era esperada, mas nem por isso deixou de me atingir mais fundo. Porque, como dizia Jorge de Sena, nenhuma morte é natural. Fomos feitos para a vida, não para a morte. E se há pessoa que conheci sempre com imenso amor à vida foi o Jorge Ferreira, que hoje morreu, com apenas 48 anos. Idade absurda para morrer, como qualquer outra idade em que existem ainda tantos projectos por concretizar, tantos sonhos por alcançar.

O Jorge estava doente há dois anos, mas sempre enfrentou a doença como travou tantos debates políticos ao longo da sua vida parlamentar, como presidente da bancada do CDS: de frente, com coragem e tenacidade. Com o mesmo desassombro que revelou quando rompeu com o partido em que militava desde a adolescência, em desacordo profundo com Paulo Portas. Com a mesma franqueza e a mesma determinação que utilizava para escrever no seu blogue, Tomar Partido: o último postal foi publicado há apenas dois dias, na quinta-feira.

O Tomar Partido - título de leitura dúplice, que evidenciava o seu amor pela bela cidade de Tomar - era um dos blogues que eu lia com mais frequência, mesmo quando discordava do que lá se escrevia. Nos últimos meses, nas entrelinhas mas sem qualquer sombra de lamechice, o Jorge deixava entrever algumas pistas que nos permitiam decifrar a dor que sentia no penoso combate contra a doença. O blogue era o seu último ponto de contacto permanente com a vida quotidiana, mesmo quando já se encontrava imobilizado numa cama do hospital. Sem este convívio com os confrades de escrita blogosférica, a despedida teria sido ainda mais dolorosa.

Há cerca de dois meses, em linhas demasiado sucintas, escrevi aqui o que pensava dele e da sua escrita. Éramos parceiros de geração, conhecíamo-nos há mais de três décadas, e nunca deixámos que as frequentes divergências de opinião perturbassem uma amizade já tão antiga. É outro companheiro de juventude de quem me despeço, cedo de mais, num dia chuvoso que também parece estar de luto por um amigo que partiu.


12 comentários

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De Pedro Quartin Graça a 21.11.2009 às 15:58

Muito bonito Pedro Correia. A minha homenagem ao Jorge Ferreira e a si também.
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De Pedro Correia a 21.11.2009 às 17:04

Obrigado pelas suas palavras. Um abraço.
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De Francisco Almeida Leite a 21.11.2009 às 16:27

Excelente texto, meu amigo. Quando vi o Jorge pela última vez, há poucas semanas, num hospital de Lisboa, ele despediu-se dizendo qualquer coisa como isto: "Não posso ir ao próximo jantar do Corta-Fitas, mas irei ao seguinte".
Abraço
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De Pedro Correia a 21.11.2009 às 17:05

Foi uma bonita lição de vida que ele nos foi dando ao longo destes tempos, já tão doente.
Abraço, Francisco.
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De Fátima Mégre a 21.11.2009 às 17:24

Pedro, não acredito. Estive com ele há tão pouco tempo, há umas semanas, e ele é que me animou nas minhas dores. Perdi mais que um amigo, perdi o meu melhor amigo.
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De Pedro Correia a 21.11.2009 às 17:25

Bem sei, Fátima. Um beijo.
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De PALAVROSSAVRVS REX a 21.11.2009 às 21:31

Grande Jorge e uma belíssima e justíssima homenagem do Pedro. Não há morte. Só trânsito para Outra Coisa e «essa Coisa é que é Linda». Um grande abraço aos familiares e amigos e, mística e misteriosamente, à encantadora cidade de Tomar que o Jorge amava como urge amar Portugal.
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De João Távora a 21.11.2009 às 22:14

Acredito profundamente que ainda nos reencontraremos. E se na Eternidade houver algo parecido com os nossos sentimentos, ele estará a esta hora rejubilante de Espanto e de Graça.
As minhas orações são hoje pela sua Grande alma. Até sempre Jorge.
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De Pedro Correia a 21.11.2009 às 23:56

Ele também acreditava. Um abraço, João.
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De Pedro Correia a 21.11.2009 às 23:57

Obrigado por essas palavras tão sentidas, meu caro. Um abraço.
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De Isabel Teixeira da Mota a 21.11.2009 às 22:53

Obrigada Pedro por nos deixares uma boa memória do Jorge Ferreira!
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De Pedro Correia a 21.11.2009 às 23:56

Beijo, Isabelinha.

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