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«a ministra Paula Teixeira da Cruz tem uma proposta para que seja encontrada legislação no sentido de acautelar os constrangimentos provocados pela plataforma Citius»

Pobre Portugal!

por João-Afonso Machado, em 30.09.14

Por fatal infelicidade, é provável a maioria dos portugueses não se tenha apercebido do profundo significado da campanha eleitoral a que ultimamente assistiram - a das ditas "primárias" do PS.

Ela conteve todos os condimentos: a travessia do País, as bandeiras e os hinos, o apoio dos dinossauros, os comícios e os discursos e a maledicência. Ligando a televisão, sem antes nem depois, era como se estivessemos em plena pugna pela chefia do Governo entre partidos e - supostamente - programas diversos. Afinal, tratava-se apenas de uma questão interna dos socialistas; mas ninguém diga amanhã não sucederá o mesmo com outro partido qualquer: um precedente é sempre consequente. Ao que parece, Morais Sarmento já afirmou publicamente dever ser assim...

(Entrementes: Seguro foi apunhalado nas costas por Costa. O mundo redutor da partidocracia em que sempre viveu obrigou-o a fugir para a frente, à míngua de condições pessoais para bater a porta e mandar a outra parte, menos limpa, os vilões que o atraiçoaram. Esquecendo não serem os elegíveis a perseguirem os eleitores, mas o contrário. O resultado foi uma derrota contundente, uma humilhação, a premiar semanas de pose estadista e retórica triunfalista. Com óculos, como Constâncio...).

E no dia da contagem dos votos, Costa apresentou um quartel-general hoteleiro, sondagens, manifestações cá fora e o discurso do vencedor. Tal qual ganhasse umas Legislativas quaisquer.

Ganhou apenas as "primárias". Quer dizer, o passo inicial para se abalançar às "secundárias": a governação do País.

Doravante será assim: os partidocratas guerrear-se-ão entre si, dentro de si, antes de partirem para o combate final com os seus congéneres das demais facções. Dirá a modernidade - à boa maneira americana...

Se isto não significar o fim da sua hegemonia, a emersão das candidaturas locais, é caso para dizer definitivamente: pobre Portugal!

Ministra da Justiça: é pior a emenda...

por Vasco Lobo Xavier, em 30.09.14

Diz a Antena 1 que a Ministra da Justiça, face aos problemas da plataforma Citius, prepara legislação para suspender todos os prazos judiciais. De todas as soluções possíveis que atenuassem o problema, esta é sem dúvida a pior.

 

Desde logo porque não só paralisa definitivamente a Justiça como constitui uma solução que denega a Justiça, o que deve ser inédito num país democrático e civilizado. A confissão de que o Estado retira às pessoas singulares e colectivas um serviço e um direito fundamental, para o qual aliás elas pagam, bem caro e à cabeça.

Em segundo lugar, isso levantará no futuro problemas óbvios. Quando o sistema começar a funcionar carrega-se tudo ao mesmo tempo? Vem o sistema abaixo outra vez…

Depois, porque essa solução criará graves e avultados problemas às pessoas, bem como dificuldades que posteriormente terão de ser debatidas (um de muitos exemplos: numa cobrança, quem é responsável pelos juros enquanto o sistema estiver parado por decreto? O Estado?)

A acrescer ao que é dito, porque enquanto magistrados e funcionários judiciais continuam a auferir mensalmente as suas remunerações dos bolsos dos esgotados contribuintes, os profissionais liberais ligados ao sector, já de si asfixiados, ficam sem sustento. Com efeito, advogados e agentes de execução auferem os seus honorários em função dos trabalhos por si realizados, e não pelo simples decurso dos dias do mês. Se não podem trabalhar (e cobrar-se) porque o Estado espatifou o sistema, onde se irão pedir responsabilidades? Ao Estado, também?

 

Muito mais simples e ajuizado do que suspender os prazos seria criar legislação que permitisse aos magistrados e funcionários judiciais a prática de actos sem ser por via informática (no fundo, uma norma semelhante à do justo impedimento para as partes). Os tribunais não funcionariam à mesma velocidade, é certo, mas funcionariam; a Justiça não se realizaria como dantes, claro, mas lá se faria qualquer coisinha por ela; as pessoas não seriam tão bem servidas, é lógico, mas é o que se pode; e magistrados, funcionários, advogados e agentes de execução poderiam trabalhar, mesmo que nunca da mesma maneira. Apenas seriam suspensos ou prorrogados prazos em situações em que isso se revelasse necessário (imagine-se, de entre muitas outras, a hipótese de não se conseguir aceder às gravações de uma audiência para recurso da matéria de facto).

 

Agora, suspender todos os prazos judiciais é solução que só vem agravar o problema e prejudicar ainda mais todos os intervenientes. Não tenho grandes esperanças e a História recente não me ajuda, mas oxalá haja ainda alguém minimamente ajuizado no Mistério da Justiça…

As Primárias (1)

por Vasco Mina, em 30.09.14

As primárias no PS vão obrigar o PSD (os outros partidos são suficientemente pequenos para que esta questão não se coloque) a refletir sobre esta via para escolha quer do candidato a Primeiro-Ministro (o que é exatamente a mesma coisa que escolher o líder do partido) quer de Presidentes de Câmara e quer até de candidatos a deputados. Mas ainda antes desta reflexão importa analisar o que são e como funcionam os dois maiores partidos portugueses. São ambos partidos de poder que “produzem” chefes de Governo, deputados e autarcas que conduzirão as entidades para as quais foram eleitos. Como são escolhidos estes que serão, futuramente, os representantes dos portugueses que votam nos respetivos processos eleitorais? Nos primeiros anos após o 25 de Abril, os partidos políticos tinham militância activa, ou seja que participava na atividade do partido (deslocando-se às sedes nacionais ou concelhias) e escolhia os seus representantes para participarem nos Congressos onde se escolhiam os lideres. Estes, por sua vez, resultavam de disputas entre várias forças (grupos) que se debatiam naqueles Congressos. Se é verdade que a escolha do líder (que depois seria votado pelos militantes presentes no Congresso) resultava da influência de um pequeno grupo de pessoas (as então chamadas elites) também se deve não esquecer a elevada participação de base. Com o passar do tempo e o natural desgaste que a vida política implica, os chamados “quadros” foram-se afastando e a participação política dos militantes de base igualmente em redução progressiva. Nas estruturas partidárias foram permanecendo, em maioria, aqueles que usavam os partidos como ferramenta de assalto ao poder (seja nacional, autárquico ou até sindical); daí e até as secções serem dirigidas por militantes que se organizaram em sindicatos de voto, foi um pequeno salto. As estruturas de base e depois, consequentemente, as direções distritais e nacionais passaram a ser dominadas pelo chamado “aparelhismo”. Tudo isto num processo tipo “bola de neve” em que por um lado era cada vez maior o afastamento dos militantes (e consequentemente mais difícil a entrada de novos) e, por outro, maior a dominância por parte de quem se tinha “instalado” na liderança das estruturas de base. Tudo isto provocou reações e uma delas foi, posteriormente, a opção pela escolha do líder através de eleições diretas. Pretendia-se, assim, “quebrar” com os tais sindicatos de voto tornando a eleição do líder mais participada pelo universo de militantes e, sobretudo, mais transparente e que não resultasse de escolhas feitas nos restaurantes e cervejarias das redondezas onde se realizavam os Congressos electivos. Por outras palavras pretendia-se que o líder do partido fosse eleito diretamente pelos seus militantes e não por um pequeno grupo de pessoas que, na verdade, representavam sindicatos de voto organizados. Terá sido esta a solução que provocou mais adesão dos militantes e conseguiu “quebrar” com o “aparelhismo”?

Cena de um quotidiano improvável

por João-Afonso Machado, em 28.09.14

Lisboa mundana, imprevista, matinal. Convergindo para a Baixa, babel, a fervilhar de turismo, exotismo. Quase atarantada entre espectáculos e momentos de única beleza espreitando as esquinas.

Lisboa sem saber para onde se voltar tal a grandeza de tantos mundos. Mesmo sob a chuva e o vento, trovejava, no recente esgueirar dos tuc-tuc's.

E Lisboa subitamente marialva. De jaleca e chapéu à mazantini, muito gingona. Como se no Terreiro do Paço ou na Praça da Figueira as estátuas acordassem o regresso ao Tempo. Correndo campinas na Rua do Ouro.

A herança

por João Távora, em 27.09.14

É com uma dor na alma que o afirmo: Lisboa antiga transformou-se nos anos mais recentes num mero bilhete postal ou num cenário de filme a tratar com efeitos especiais. Concedo até que a minha cidade mantém-se linda se vista das alturas, de preferência de miradouros ou então com o cuidado de o transeunte colocar sempre o olhar ao nível dum primeiro andar dos edifícios, por forma a evitar a visão do abandono, dos grafitos nas paredes e da esterqueira que impera, aos molhos ou espalhada pelos ventos.

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Sons com história

por João Távora, em 27.09.14

A credibilização entre os melómanos da indústria fonográfica emergente no início do Século XX dá-se muito por conta de Enrico Caruso quando este prodigioso tenor italiano concede finalmente registar a sua voz, não para Thomas Edison mas para Emile Berliner e a sua The Gramophone Company para quem gravou múltiplos discos entre 1903 e 1921. Os cilindros de cera estavam definitivamente destronados. Aqui partilho uma pequena pérola recentemente adicionada à minha colecção, nada menos que a área “Viva il vino spumeggiant” da Ópera Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni interpretada por Enrico Caruso, gravado em Inglaterra em 1905 sob a chancela Gramophone Concert Record G.C. 52193 (rótulo cor de rosa). 

 

Publicado originalmente aqui.

 

E os restantes inquéritos?

por Vasco Lobo Xavier, em 26.09.14

 

Arrumado que está este “não caso” com que a comunicação social e os políticos do costume se distraíram durante uma semana e pico, espero agora ansiosamente o resultado de dois importantes inquéritos internos da PGR, com que os referidos distraídos geralmente não se incomodam muito; a saber:

 

1)      Quanto tempo demora a arquivar uma denúncia anónima relativamente a um suposto crime que se encontra prescrito e que motivo haverá para, tratando-se de um crime já prescrito, realizar quaisquer diligências de inquérito?

2)     Quem foi, desta vez, o responsável pela violação do segredo de justiça relativo ao inquérito?

 

E, por fim...

por Vasco Lobo Xavier, em 26.09.14

...talvez incluir também no inquérito a possibilidade de ter havido algures o crime de homicídio, não podemos deixar nada de fora.

«Estamos zangados porque o desmentido não deixa dúvidas!»

por José Mendonça da Cruz, em 26.09.14

Tendo o primeiro-ministro posto as contas em ordem sobre os arremessos de lama, parece que as dúvidas que restam no largo do Rato e entre os lacaios do Rato mais azedos nas redacções são estas: que Pedro Passos Coelho demorou muito a esclarecer, e que se «escondeu atrás das instituições».

Três observações sobre isto:

1ª. Os que falam de demora continuam a cair no erro de desvalorizar a extrema frieza do PM; pessoalmente, prefiro esta frieza às reacções destemperadas e ordinárias do PM de péssima memória; neste ambiente de esgoto, anda muita gente esquecida do que é a normalidade democrática.

2ª. Os que acusam o PM de esconder-se atrás das instituições parecem ter esquecido paixões bem recentes pela Constituição; pessoalmente, julgo que ganhamos em sanidade ambiental e clareza política com o «normal funcionamento das instituições», ou, no caso, quando são as instituições, a AR e a PGR, a esclarecer ou desmentir aquilo que ninguém, nem o próprio visado, poderia esclarecer ou desmentir com tanta prova, imparcialidade e certeza.

E 3ª. observação, dirigida aos ingénuos: quem julga que um desmentido ou um esclarecimento de Passos Coelho no princípio da semana teria resolvido alguma coisa mostra surpreendente inocência e demonstra acreditar em fadas, nomeadamente: a) que as acusações não têm qualquer relação política ou cronológica com o facto de dois protagonistas queridos das governações socialistas terem acabado de ser condenados em tribunal por corrupção e má gestão de dinheiros públicos; b) que as acusações e suspeitas publicadas por televisões e jornais resultam de trabalho jornalístico e não de trabalho político e serventuário; c) que os pseudo-jornalistas e serventuários se contentariam ou calariam (ou sequer ouviriam) algum esclarecimento ou desmentido vindo do próprio alvo das suas campanhas.

Ora a candura e a inocência e a ingenuidade são coisas muito calorosas, mas não exageremos.

E insisto: tendo o PM prometido tirar «todas as conclusões e consequências» dos acontecimentos desta semana, que «conclusões e consequências» tira para os promotores e alimentadores da campanha política e difamatória e para a benevolência de que gozam? 

Amanhã seguramente veremos melhor...

por Vasco Lobo Xavier, em 26.09.14

Não percebo as razões que terão levado Pedro Passos Coelho (PPC) a não ter sido mais claro nas explicações sobre o que lhe imputam.

 

Mas o meu ponto é aferir se as acusações fazem sentido. Há uma denúncia anónima a dizer que terá ganho dinheiro de uma empresa enquanto se dizia em exclusividade na AR. Tirando o anónimo, ninguém mais o afirmou. Nem a contabilidade da empresa, que as finanças logo na altura teriam verificado, nem o IRS de Pedro Passos Coelho. Vejamos então se fará sentido a acusação.

 

Fará sentido uma empresa pagar “por baixo da mesa” 5.000 euros por mês durante anos a um garoto (PPC era pouco mais do que isso, à época), que estava na oposição e sem qualquer poder? Para ganhar o quê? Quanto ganhou? E não seria mais simples e barato pagar-lhe às claras e submeter a custos os gastos e despesas? E seriam os 10% do acrécimo da exclusividade (250/300 euros) que justificariam esconder os 5.000 euros mensais? 10% esses de que nem necessitaria por ser vice-presidente do grupo parlamentar? E que não ganhou nas prestações mensais?

 

As declarações de IRS de PPC na AR demonstram que nada recebeu. Independentemente de o ter requerido antes ou não, constatou-se estar no final em condições de facto de receber o subsídio como se de um Deputado em exclusividade se tratasse. Almeida Santos dixit.

 

Parece-me que a  comunicação social anda a discutir um balão de ar. Ou então surpreenda-me com qualquer coisa nova.

 

 

Foi pelo FCP

por Vasco Lobo Xavier, em 25.09.14

Sim, sim, sim, o seleccionador foi treinador dos três grandes. Mas só por um foi campeão.

 

A Senhora Ministra da Justiça foi à Assembleia da República dizer aos Deputados, com a humildade que a tem caracterizado, que os Tribunais tinham vivido imenso tempo sem o Citius e só com papel pelo que, na sua opinião, os problemas informáticos que se têm verificado desde 1 de Setembro não impediam o seu normal funcionamento.

 

Os Deputados, que devem ter boa boca ou não sabem estar à mesa a que vão, comeram e calaram.

 

O problema, Senhora Ministra, é que se existe uma norma que permite às partes, por intermédio dos seus Advogados, a prática dos actos em papel face ao justo impedimento, não há equivalente disposição para Magistrados e Funcionários Judiciais. Esse “justo impedimento” não se encontra processualmente previsto, pelo que as notificações às partes têm de ser obrigatoriamente realizadas (e foi a Senhora Ministra que o determinou) através do Citius, não podendo ser feitas de outra maneira. Os Tribunais, como a Senhora Ministra deveria saber, não podem inventar nem criar nem alterar as regras processuais e não há nada na legislação processual que lhes permita, com segurança, agir de outra maneira que não seja através do Citius.

 

Não me espanta que os Senhores Deputados não saibam disto e não lhe tenham transmitido coisa tão simples. Também não me surpreende nada que a Senhora Ministra desconheça coisa tão simples, embora considere essa ignorância muito infeliz, para dizer o mínimo. Agora o que eu acho absolutamente extraordinário é que, ao vigésimo-quinto dia de Setembro, ao vigésimo-quinto dia de colapso do Citius, ninguém nesse enorme Ministério da Justiça a tenha informado de coisa tão simples.

 

Venham as consequências, sim!

por José Mendonça da Cruz, em 25.09.14

O primeiro-ministro Passos Coelho prometeu que tirará dos resultados da investigação sobre as suas antigas situações na AR e na Tecnoforma e sobre as suas antigas declarações de impostos todas «as conclusões e consequências». Gostaria que assim fizesse, que tirasse todas as conclusões e que levasse as consequências até ao limite do possível.

 

Não creio que Passos Coelho esteja em falta. Creio que, com a sua incompreendida frieza, está a cozinhar em lume brando os críticos que julgam estar a cozinhá-lo a ele. E estou seguro que, estando em falta, se demitirá do cargo de primeiro-ministro. Uma consequência dramática.

Mas não estando em falta, deve tirar conclusões e consequências de igual dramatismo.

As primeiras devem ser políticas e respeitar ao seu próprio governo. Ou seja, PPC deve reunir com a ministra e tratar de alterações legislativas na Justiça, para evitar que gangsters se aproveitem de deficiências e lacunas. É que as coisas são como Miguel Sousa Tavares explicava: qualquer crápula pode fazer uma queixa infundada à Procuradoria; a queixa fica lá; um crápula amigo nos media pergunta, depois, à Procuradoria se existe uma queixa; a procuradoria diz que sim; e é quanto basta para atirar lama.

O primeiro-ministro deve, depois, elaborar finalmente uma política de comunicação social. É que há em muitas redacções abundância de imbecis e canalhas, cegos por causas tontas ou ávidos de um osso no futuro. São aqueles que, mal «os seus» são condenados em tribunal por corrupção e abusos ocultos, inventam faces ocultas nos outros. São aqueles que inventam, que invocam «suspeitas» sem provas, que dizem que «alegadamente» há «uma impressão geral de que», aqueles que escavam processos enterrados na justiça com os quais possam difamar, relativos a questões prescritas, de preferência, para dificultar o desmentido.

O primeiro-ministro deve elaborar uma política de comunicação consistente e pensada, mas deve, antes, processar -- em processos pesados e onerosos para os orgãos de comunicação social que acoitarem bandidos -- os militantes da lama e das campanhas.

E, por fim, o primeiro-ministro deve divertir-se, como ganhou o direito de fazer. Deve ir à Assembleia e confrontar os bloquistas e os junqueiros que não enxergam a ponta do pé mas se julgam impolutos e justicialistas. E espero que, ao menos aí, se divirta muito. 

As agruras do capitalismo português

por Maria Teixeira Alves, em 25.09.14

A competição pela compra da ES Saúde, empresa dona dos hospitais, de entre os quais o mais emblemático é o Hospital da Luz, prova mais uma vez o quão dificil é ser capitalista em Portugal. Reparem, todos nós temos simpatia pelo Grupo Mello, e todos nós preferiámos que o Hospital da Luz acabasse nas mãos de um grupo português. Mas é isso possível?

Ora se o Grupo Mello precisa do crédito para comprar o Hospital da Luz (simplifiquemos e chamamos-lhe assim) e se os bancos condicionam o crédito ao parecer da Autoridade da Concorrência, porque obviamente querem saber quais os activos finais com que podem contar para a hipoteca, porque é a Concorrência que decide quais os remédios a aplicar, e nessa medida os activos que terão de ser vendidos. E se, por via dessa exigência dos bancos, o Grupo Mello teve de incluir no anúncio preliminar da oferta a condição da NÃO OPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA, não pode esperar que a CMVM, passe por cima da lei, e toca de registar a oferta. Depois do que aconteceu ao Grupo Espírito Santo já vai sendo tempo de não nos rendermos a charmes e seguirmos as premissas legitimas. A CMVM não pode cometer ilegalidades para favorecer favoritos de coração. Os únicos interesses que a CMVM pode seguir são os dos investidores e os do Código de Valores Mobiliários. Assim como os bancos, os únicos interesses a que devem atender são os dos seus clientes e os dos seus accionistas, por esta ordem. Têm de saber até onde podem correr riscos, mas não podem, nessa gestão, pôr em causa e descurar o risco de crédito. Ora se esta operação é mais uma vez, como foi aliás a última operação com a Brisa, uma estratégia de obter mais colaterais para os empréstimos enormes que já concederam ao Grupo Mello (quase seis mil milhões o passivo bancário) é um mau prenúncio para todos, para os próprios Mello, para os próprios bancos, e para o mercado em geral. Se não for assim, então os bancos não podem facilitar créditos que os possam encalacrar mais tarde. 

Se o Grupo Mello quiser mesmo comprar a empresa do Hospital da Luz, merece ter as mesmas condições de partida que os outros candidatos, merece ter a OPA registada, mas então que altere o anúncio preliminar retirando a condição da oferta que impede o registo. Negoceie com os bancos. Os bancos que vejam até onde é que podem ir. Ou então, em alternativa, que apostem na negociação directa (para uma compra fora de bolsa) com a Rioforte Investments, que está em gestão controlada e que o crédito seja depois concedido, ou não, em função da resposta do juiz luxemburguês. 

 

Como diz a CMVM, ver aqui,"Na pendência do referido processo, todos os procedimentos ou actos, mesmo os iniciados por credores privilegiados estarão suspensos. De igual forma, quaisquer transacções relativas aos activos de uma sociedade sujeita a este processo [de gestão controlada] no Luxemburgo deverão ser propostas pelo Conselho de Administração da mesma e autorizadas individualmente pelo juiz delegado, que para o efeito nomeia dois peritos independentes. O prazo expectável de decisão do juiz delegado rondará os dez dias.

Nos termos do referido comunicado, prevê-se que o juiz do processo "tome a sua decisão sobre a ESFG no dia 6 de outubro de 2014".

 

Eu diria já que a probabilidade de o Grupo José de Mello comprar a ES Saúde em bolsa, ou fora dela, é muito baixa, infelizmente, porque seria sempre a decisão de coração de qualquer português.

Isto vai acabar na Fidelidade, suspeito, que os chineses não são de subestimar. 

Eu cá não obrigo ninguém...

por Vasco Lobo Xavier, em 24.09.14

Eu vou admitir que a Senhora Ministra de Justiça está de boa fé e apenas acredita piamente no que os seus subalternos e contratados por ajuste directo lhe dizem. Vou admitir. E assim aceitar a fúria com que tem tratado o tema, a arrogância que tem manifestado perante todos e os dislates que tem proferido sobre a situação. Só que quando todos os intervenientes na área da justiça alertam para o facto de que está tudo mal com o sistema informático e que o sistema judicial está praticamente parado, talvez fosse conveniente descer à terra e inteirar-se verdadeiramente do que se está a passar junto de quem sabe. Sob pena de passar a anedota nacional. Mas isto é um mero conselho, eu cá não obrigo ninguém e cada um faz as figurinhas que quer.

Outono longe da reinação dos camaradas

por João-Afonso Machado, em 24.09.14

A televisão, hoje de manhã no café, não se fazia ouvir, tal a algazarra dos presentes, mas as expressões faciais do Tozé e do Tony não deixavam ponta de dúvidas. Depois, à tarde, os jornais forneceram uns tantos pormenores e, sim senhor, naquele ar de fúria insultuosa, a peixeirada será o termo mais ameno para descrever o que se passou em mais este debate entre os dois candidatos a 1º Ministro do PS. Lá na reinação dos camaradas.

E quando voltar à escrita (depois da apresentação de mais um livro em Lisboa) a eleição terá já decorrido e conhecer-se-á o novo chefe do Executivo do PS. Claro, lá na reinação dos camaradas.

Nada disso importa, pois. Muito mais conta a estonteante velocidade do Verão e esta nova meta a que chegámos - o Outono. Maré em que andamos mais recolhidos, salvo quando soarem as trompetas da caça e o Alentejo começar a chamar. E Trás-os-Montes também. E elas, as pequenas, fazendo coro e as perdizes ginasticando as asas. Há uns estudos para fazer, entretanto, umas consultas de biblioteca, uns escritos em curso. Os dias amarelecem e a máquina fotográfica não parece querer deixá-los em paz. 

Tudo muito apartado da vilania que vai lá na reinação dos camaradas.

Portanto...

por Vasco Lobo Xavier, em 24.09.14

... se bem percebi a oposição está toda contra o aumento do salário mínimo.

E dói que se farta...

por João Távora, em 24.09.14

O socialismo é para o Homem o que um sapato apertado é para o seu pé. Quer proteger mas tolhe o andar.

 

Agora à espera da PGR

por Vasco Mina, em 23.09.14

Conforme referi no meu post anterior, estamos à espera. Hoje ficámos à espera de mais outro desfecho...

 

 

Passos pergunta à PGR se cometeu “algum ilícito” e diz que “retirará consequências”

 

 

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