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Há minutos, Paulo Fernandes, do Laboratório de Fogos Florestais da UTAD (insisto que é a melhor fonte de informação sobre fogos e gestão do fogo em Portugal), dizia num comentário que este ano já arderam 11 606 hectares.
Há dias o Laboratório chamava a atenção para um ou outro ano em que a área ardida de Outubro a Maio é maior que a área ardida na época de fogos (de Maio a Outubro).
Ao contrário de muita gente que se mostra impressionada pela dimensão da área ardida neste princípio de ano (que ainda é ampliada por uma área ardida entre Outubro e Dezembro do ano passado) eu acho óptimo que tenha ardido tanto nesta altura. Mais, não só eu acho óptimo, como chamo a atenção para o facto da "Reforma da Floresta" (com letra grande, como é devido) do actual governo prever 15 mil hectares de fogo controlado por ano, para os próximos anos.
Há, evidentemente, diferenças entre uma boa parte dos fogos que dão origem a estes 11 mil hectares e o fogo controlado, mas também é verdade que grande parte destes 11 mil hectares arderam dentro do que se pode chamar "condições técnicas para a prescrição de fogo", isto é, não sendo fogo controlado, funcionam como tal e têm os efeitos do fogo controlado, tendo dado origem ao conceito relativamente recente de "wildland fire use".
O que me interessa fazer notar é este aspecto central: 80% (um número grosseiro) da explicação da área ardida vem da meteorologia, independentemente da época do ano em que ocorrem as condições meteorológicas especialmente favoráveis ao fogo (generica e simplificadamente, associadas ao vento de quadrante Leste, muito seco).
Por melhores que sejam os bombeiros (e há de tudo, como na botica, dos muito bons aos muito maus, mas só por uma conjugação astral improvável se poderia esperar que, na generalidade, uma organização estruturada com base no que hoje temos como Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, poderia dar bom resultado, apesar de sistematicamente se dizer que a situação correu mal mas o dispositivo respondeu bem, sem que ninguém explique os critérios que são usados para essas avaliações), por melhores que sejam os meios de combate, por mais organizada que seja a logística, por mais definidas que estejam as cadeias de comando, por mais oleados que estejam os mecanismos de articulação dos diferentes agentes, e estamos muito longe dessas condições ideais, não é possível parar fogos em condições meteorológicas adversas se houver mantos contínuos de combustíveis, isto é, se houver áreas contínuas de matos e ervas em condições para arder.
E como mais de 90% da área ardida resulta de menos de 1% das ignições, não vale a pena estar a perder tempo com a conversa da redução das ignições, do "Portugal sem fogos depende de todos" e tretas inuteis semelhantes.
O problema é simples de enunciar: o fogo é uma inevitabilidade com que temos de conviver e os recursos para gestão do fogo são, em larga escala, os que resultam de actividades económicas que podem gerir combustíveis e, complementarmente, os que o Estado possa disponibilizar para optimizar a gestão feita pela economia.
Estranhamente, a "Reforma da Floresta", que é uma resposta política demagógica a um Verão especialmente desfavorável do ponto de vista dos fogos, não perde tempo nem com a discussão da competitividade das actividades económicas que podem gerir combustíveis, nem com o pagamento de serviços de ecossistema (neste caso de gestão de combustíveis), nem com a profissionalização da gestão e combate ao fogo (a gestão e o combate não são a mesma coisa, da mesma forma que a cara e a coroa de uma moeda também não), pelo contrário, aprofunda todos os erros que têm vindo a ser cometidos.
Por isso só posso alegrar-me com estes mais de 11 mil hectares ardidos desde o princípio do ano: serão uma boa ajuda para o Verão socialmente mais útil que o anterior, no que diz respeito à presença do fogo em Portugal.
Mas, se as condições meteorológicas forem extremas, será uma ajuda de que dificilmente o Dispositivo Especial de Combate aos Fogos Florestais saberá tirar partido, dada a obsessão com a extinção do fogo que o caracteriza e impede de compreender como se gere o fogo.
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